A estimulação cognitiva como fator de proteção para o envelhecimento saudável e para idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL)

A reserva cognitiva

Pessoas que investem em desafios intelectuais como leituras, jogos de raciocínio, exercícios de memória e possuem um estilo de vida saudável, teriam uma melhor reserva cognitiva. Isso resulta em menores prejuízos nas habilidades mentais em longo prazo. Com um conjunto maior de recursos cognitivos, as pessoas são capazes de achar estratégias compensatórias para possíveis dificuldades, otimizando o desempenho. Por isso, é importante o estímulo cognitivo, desde as fases iniciais até as mais avançadas da vida.

A reserva, que é popularmente conhecida como poupança cognitiva, é fruto de um investimento que acontece no decorrer da vida de um indivíduo. Em outras palavras, o cérebro se desenvolve de acordo com suas experiências pessoais; quanto mais complexas, maior o estímulo na formação de conexões neurais e menor o índice de desenvolver alguma demência.

A estimulação cognitiva como intervenção para idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL) e doença de Alzheimer

A estimulação cognitiva por sua vez, é uma intervenção, que objetiva fornecer estímulos em sessões ou aulas, a partir de jogos de estratégias, exercícios para treinamento da atenção, da memória, da linguagem, atividades escritas, atividades com músicas – todas geram novas conexões neurais, deixam os neurônios mais integrados e mais rápidos, e resultam em um melhor desempenho em testes neuropsicológicos e psicotécnicos e, consequentemente, em uma sensação de melhor qualidade na realização das tarefas cotidianas. Essas atividades geram mecanismos chamados de compensatórios nas habilidades cognitivas, que motivam ganhos e otimizam o desempenho.

É muito importante fugir da rotina e usar estratégias que desafiem o cérebro, tendo um engajamento em atividades diversificadas. Cuidar da saúde do cérebro, com o aprendizado de novas informações, e com os desafios mentais como a neuróbica. Um músico, por exemplo, deve ler partituras diferentes das que está habituado; uma cozinheira, fazer sempre novos pratos; nas atividades escolares ou cognitivas escrever com a mão não dominante, no caso um canhoto, escrever, com a mão direita, e um destro escrever com a mão esquerda, colocarmos o relógio em mão diferente, mudarmos um caminho rotineiro.

A reserva cognitiva existe, para auxiliar em nossa sobrevivência nos deixando mais rápidos; para nos proteger contra o declínio das habilidades mentais relacionados à idade e na diminuição do risco de desenvolver Doença de Alzheimer.

Ou seja, quanto melhor for o estilo de vida do indivíduo, melhor será a sua reserva cognitiva. Em outras palavras, uma “poupança cognitiva”, que é acionada quando necessário para suprir algum déficit do funcionamento cerebral, ou um momento de proteção em relação às possíveis situações de risco para a saúde do cérebro.

Destaca-se, ainda a importância da estimulação cognitiva assim que são observados os primeiros déficits intelectuais, como no comprometimento cognitivo leve. Sabe-se que quanto antes iniciado o trabalho de estimulação mental melhores serão os resultados para as habilidades cognitivas com déficits e para aquelas ainda preservadas. O tratamento não farmacológico nunca deve ser realizado isoladamente. Profissionais na área de estimulação cognitiva precisam ser capacitados para atuar junto à população idosa, que é heterogênea e tem peculiaridades importantes, as quais devem ser levadas em consideração no momento da formulação do programa de estimulação cognitiva.

Este projeto exige paciência e dedicação que são compensadas pela melhora da qualidade de vida da pessoa com comprometimento cognitivo leve e ou com Doença de Alzheimer, que deixa de se sentir tão perdido. Ele pode amenizar (no caso dos pacientes com DA), ou mesmo recuperar habilidades cognitivas no caso dos indivíduos com CCL, a função que lhes parecia perdida.

Os tratamentos atuais da doença de Alzheimer são divididos em dois tipos, tratamentos farmacológicos e tratamentos não-farmacológicos.

Dentro do grupo dos tratamentos não-farmacológicos temos, por exemplo, a estimulação cognitiva, uma terapia que visa estimular as habilidades do indivíduo e fornecer pistas para que ele consiga orientar-se para a realidade, e resgatar as suas lembranças vividas, mantendo aptidões preservadas e estimulando as habilidades mentais prejudicadas.

Sugere-se a realização de atividades que reflitam em significados para os indivíduos diagnosticados com estes transtornos neurocognitivos. Então é sempre importante inserir exercícios que possam ser associados às preferências e aspectos culturais que o indivíduo apresentava antes da doença. Também é importante valorizar a sua história de vida mostrando fotografias de eventos marcantes para o paciente (casamento, aniversários, formatura, viagens realizadas entre outros); ouvindo músicas de seus artistas preferidos, ou apresentando imagens e nomes dos novos membros da família. São exemplos de atividades que irão resgatar a história de vida, gerando uma sensação de pertencimento e de orientação quanto a quem é enquanto indivíduo.

É importante destacar, que o diagnóstico de Comprometimento Cognitivo Leve ou da Doença de Alzheimer, não pode ser sinônimo de final da vida do indivíduo, ele continua sendo quem ele é, deve ser valorizado, porém está em um tratamento de saúde, e precisa ter a sua rotina preenchida com atividades que serão importantes, para mantê-lo o mais tempo possível estabilizado em relação ao quadro da doença, assim como amenizar a sobrecarga emocional e o estresse que os cuidadores vivenciam por causa da evolução da doença.

Fica aqui a dica, se você ainda não realiza atividades de estimulação cognitiva, aproveite estas informações e cuide-se, insira este novo hábito em seu estilo de vida para envelhecer com saúde. Afinal, um cérebro cuidado é um cérebro protegido de doenças neurodegenerativas e de doenças cerebrovasculares.

Sobre o autor:

Thais Bento
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Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera. Articulista do Portal Trevoo.

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