Quando nos tornamos mestres?
Quando nos tornamos mestres podemos devolver ao mundo a sabedoria adquirida.
De acordo com preceitos da Antroposofia, filosofia criada pelo austríaco Rudolf Steiner no início do século XX, a biografia do ser humano pode ser dividida em períodos de sete anos – os Setênios.
Elaborada a partir da observação dos ritmos da natureza, da qual fazemos parte, o entendimento sobre os setênios nos ajuda a compreender a condição cíclica da vida e a importância de cada ciclo em nosso processo de desenvolvimento para tornamos mestres.
Cada um desses períodos de sete anos traz um determinado roteiro e desafios. Aquilo que adquirimos em um setênio vai somando aos períodos subsequentes.
Entenda os setênios
0 aos 21
Nos três primeiros setênios, dos 0 aos 21 anos, passamos pela fase da maturação física, a formatação do nosso ser. É o período do “Aprender”, da consolidação da nossa estrutura física, emocional e mental. Ao fim deste período estamos prontos para enfrentar o mundo.
21 aos 42
Nos três setênios seguintes, dos 21 aos 42 anos, passamos pela fase da maturação anímica. É a fase do “lutar”. Essa luta com o mundo e o enfrentamento dos grandes desafios da vida, como a construção da nossa independência material, carreira, relacionamentos, constituição da nossa própria família, vão acontecendo em meio às grandes crises – identidade aos 21 anos, a crise dos talentos aos 28 e a crise de autenticidade aos 42 anos. É um período de extrema ação exterior.
42 – fase do sábio e da maturação espiritual
Aos 42 anos, com parte dos grandes desafios da vida já vencidos, entramos no período que vai dos 42 aos 63, outros 21 anos quando passamos pela fase da “Sabedoria”, do tornar-se sábio, da maturação espiritual. Neste período enfrentamos a nós mesmos, nosso olhar se direciona ao nosso mundo interior e buscamos mais autoconhecimento e nossa verdadeira essência para transcender nosso ego. Saímos da esfera do individual e entramos na esfera do coletivo. O que é bom para todos passa a ser importante, assim como o que é bom para mim. Nesta fase ajustamos nossa trajetória de vida com ações para alinharmos nossa vida à nossa essência. Este período se encerra com o que chamamos de Fase Mística, que vai dos 56 aos 63 anos, que é quando a vida e o mundo passam a fazer mais sentido.
63 – o sábio mestre
Por fim, aos 63 anos, entramos na fase final da nossa biografia. Aos 63 anos inicia-se a fase para tornamos mestres. A luz da sabedoria, que na criança existe no mundo exterior, passa a brilhar intensamente em nosso interior e somos capazes de irradiá-la ao mundo. Entramos na fase da serenidade, da sabedoria transcendente. Todos os desafios da vida já foram ultrapassados, já vencemos as demandas materiais, já lutamos contra nós mesmos. Estamos livres do elemento pessoal e podemos buscar uma vida mais espiritual. Somos mestres e sábios, finalmente, maduros para atuar à serviço do bem geral, uma vez que o bem individual já foi abandonado. O início desta fase coincide, por convenções sociais, com o período da aposentadoria.
Em tese, agora nos sobraria tempo para uma nova missão, para admirar o mundo com novas forças e com conhecimento mais maduro. Poderíamos fazer uso de toda essa maturidade para a criação daquilo que é bom, belo e verdadeiro, trazendo o espiritual para o mundo, manifestado em valores elevados em prol do bem comum.
Muito triste ver o quanto a sociedade erra com aqueles que chegam nessa fase. Justamente quando nos tornamos “mestres” com mais capacidade de contribuir com o mundo, vamos sendo excluídos. Nos tornamos profissionalmente descartáveis, perdemos nossa posição de protagonismo nos núcleos familiares e somos relegados a uma posição irrelevante, quase figurativa. Nossa existência, que deveria brilhar e ser reverenciada como fonte de sabedoria, torna-se quase invisível.
O grande conteúdo interior acumulado ao longo de nossa trajetória é ignorado por conta de uma constituição física em declínio.
Fica a reflexão:
– Quanto será que perdemos por não dar voz e protagonismo aos nossos “Mestres”? – Qual o prejuízo para a sociedade, em todos os níveis, por ignorarmos nossos mestres?
– Qual preço pagamos por este grande erro e quais as consequências para o futuro, considerando que a longevidade do ser humano só aumenta?
É de extrema importância que essa discussão tome força para que possamos rever valores e a forma como a sociedade está estruturada.
Num mundo onde impera o individualismo, onde as preocupações são tão ilusórias e focadas apenas no material e no individual, quando sentimos que rumamos para o caos e para a destruição, a verdadeira salvação deveria vir das mãos dos mestres, jamais dos aprendizes.