por Dr. Conrado Borges | abr 13, 2022 | Idosos e Famílias
O texto a seguir tem o caráter meramente educativo e não é uma consulta médica. Caso você tenha dúvidas ou necessidade de tratamento é essencial que procure um médico ou um pronto atendimento de confiança.
Dor de cabeça (ou cefaleia) é a queixa mais comum na Neurologia. Praticamente todas as pessoas já tiveram dor de cabeça pelo menos uma vez na vida!
Por ela ser tão comum, várias vezes recebo no consultório ou no pronto-atendimento pessoas muito preocupadas que a dor seja causada por algo catastrófico.
Felizmente, na maioria das vezes não há qualquer causa grave por trás da dor de cabeça e ela pode ser tratada sem maiores problemas. Agora, você deve estar se perguntando: “como eu faço para saber se a minha dor de cabeça envolve maior ou de menor risco?” Essa é uma excelente pergunta e, graças a estudos bem consolidados na prática neurológica, já tem resposta!
As Bandeiras Vermelhas
Apesar das pessoas normalmente não se darem conta, dores de cabeça podem variar muito! Algumas características costumam aparecer nas cefaleias sem gravidade, enquanto outras acontecem mais em casos graves. É para esse segundo grupo que precisamos voltar a nossa atenção. Chamamos de bandeiras vermelhas! Caso você identifique uma ou mais dessas bandeiras, minha sugestão é que vá imediatamente a um pronto atendimento da sua confiança (ainda melhor se tiver neurologista) para que tenha logo uma avaliação médica.
Como são vários os sinais de bandeira vermelha, costumo dividir em três grupos para facilitar a memorização. O primeiro diz respeito às características da pessoa e ligadas aos problemas de saúde que ela já tem. Vamos chamar de bandeiras vermelhas da pessoa. O segundo grupo se refere às próprias características de dor de cabeça mais perigosas. Vamos chamar esse grupo de as bandeiras vermelhas da cefaleia. Para completar, o terceiro grupo são outras situações clínicas ou neurológicas que surgem junto da dor que vamos chamar de bandeiras vermelhas de sintomas associados.
Primeiro: Bandeiras vermelhas da pessoa
1. Início da dor após 50 anos
Um fato interessante que as pessoas não costumam conhecer é que a dor de cabeça acontece muito mais em jovens e tende a se tornar menos frequente com o passar dos anos. Quando identificamos uma dor de cabeça nova em uma pessoa com mais de 50 anos (ou seja, que ela nunca teve antes) precisamos ligar o alerta, pois sabemos que causas graves têm maior chance de acontecer nesses casos.
2. Cefaleia após Trauma craniano
A dor de cabeça é comum após o traumatismo craniano e geralmente vem ligada ao trauma em si. No entanto, como todas as outras lesões traumáticas, esperamos que ela diminua ao longo dos dias após ao evento. Caso isso não aconteça ou a dor piore, devemos procurar ajuda, especialmente se a pessoa estiver com alteração do nível de consciência, para afastar problemas mais sérios, como o surgimento de hematomas intracranianos.
3. História de câncer
Somente o fato de a pessoa ter uma história de câncer (mesmo que tratado e curado) demanda maior atenção. O tumor cerebral mais comum é o metastático. Uma pessoa com histórico de câncer deve redobrar a atenção para as características da dor de cabeça e ter uma maior prontidão para procurar atendimento médico do que uma pessoa comum.
4. Pessoa imunosuprimida
De modo geral, pessoas imunosuprimidas estão em maior risco de ter complicações neurológicas, especialmente infecciosas, como meningites, abscessos cerebrais, toxoplasmose, entre outras. Quando falamos em imunossupressão, nos referimos a situações que claramente reduzam a imunidade, como uso de medicamentos imunossupressores, como azatioprina, micofenolatomofetil e os imunobiológicos, que são usados nas doenças autoimunes. Também pessoas que foram transplantadas devem ficar atentas para as suas dores de cabeça. Finalmente deve chamar a atenção, o HIV, especialmente nos casos em que o nível de CD4 está muito baixo (que acontece quando a doença não está controlada).
5. Gravidez ou pós-parto
A dor de cabeça na gestação também deve ser vista com atenção, visto que nessa fase há também uma redução da resposta imune da gestante e pode haver um risco aumentado de tromboses (incluindo a trombose cerebral).
Segundo: Bandeiras vermelhas da cefaleia
1. Início abrupto
As dores de cabeça mais comuns e menos graves habitualmente começam fracas e vão aumentando lentamente ao longo do dia, podendo até se tornar fortes e prejudicar a pessoa nas suas atividades habituais. Existem casos, porém, em que a pessoa está absolutamente sem dor ou com uma dor muito fraca e, subitamente, ela se torna muito forte, às vezes a pior da vida do paciente. Alguns descrevem como se um trovão tivesse caído na cabeça. Por esse motivo, chamamos esse tipo de apresentação de cefaleia em trovoada (ou thunderclap). A característica comum desse tipo de dor é como se uma pontada muito forte atingisse a cabeça ou o pescoço. Se uma dor desse tipo acontecer com você, pare imediatamente o que está fazendo e vá para o pronto atendimento mais próximo. Esse é talvez o padrão de dor mais sugestivo de causas graves para a dor de cabeça. Nessas horas uma atuação médica rápida pode ser literalmente a diferença entre a vida e a morte!
2. Dor de cabeça inédita ou novo padrão
Virtualmente todas as pessoas já tiveram ou terão algum tipo de dor de cabeça. Ter uma dor de cabeça que se repita com as mesmas características de tempos em tempos pode acontecer e é um fator de menor gravidade. Entretanto, deve-se tomar cuidado quando o padrão da dor se modifica em relação ao habitual. Nesses casos a melhor coisa a ser feita é ir ao hospital para investigar.
Uma segunda situação comum é quando a pessoa tem a cefaleia pela primeira vez. Muitas vezes a dor tem características benignas, mas de modo geral, mesmo assim, vale a pena uma primeira investigação no pronto atendimento para afastar as causas graves.
3. Dor de cabeça posicional
A dor de cabeça que piora quando a pessoa muda de posição pode representar um sinal de alarme. A mudança de posição pode ser tanto da posição deitado ou sentado para em pé como o inverso. Podem representar um problema mais grave como hipertensão ou hipotensão intracraniana e precisam ser investigadas melhor. Cabe aqui a ressalva de que a dor deve claramente piorar com mudança de posição para despertar maiores suspeitas.
4. Causada por espirro, tosse, exercício ou sexo
Na mesma linha da dor de cabeça que piora quando a pessoa deita, uma cefaleia que se inicia em uma dessas situações pode estar ligada a aumento da pressão intracraniana e deve ser melhor investigada. Isso porque essas situações causam um aumento na pressão no abdome e, em consequência, no sistema nervoso central. Em situações normais, não há nenhum problema em espirrar ou na atividade sexual, pois o cérebro tem uma boa capacidade de adaptação, mas em pessoas que tem uma pressão intracraniana mais alta, podem ser suficientes para causar uma dor de cabeça mais forte. Caso uma dessas atividades cause uma cefaleia forte e de início agudo, a urgência para procurar o pronto atendimento deve ser ainda maior.
5. Dor de cabeça progressiva
Outro problema que chama atenção é quando a pessoa tem uma dor de cabeça que piora progressivamente. O que mais preocupa é quando a progressão é aguda (em poucos dias) ou subaguda (em poucas semanas) e essas situações devem ser analisadas cuidadosamente pelo neurologista no pronto-socorro. No entanto, mesmo a dor que progride cronicamente (ao longo de meses) merece atenção especializada, mas isso pode ser feito no consultório.
6. Cefaleia muito intensa
Um fato que pode parecer óbvio, mas que chama atenção do médico no pronto atendimento é quando o paciente fala que a cefaleia é a pior da vida ou mais forte do que o habitual. De modo geral esse fator por si só já leva a pessoa ao pronto atendimento para tratamento rápido da dor, mas também é muito relevante e requer investigação de possíveis causas.
Terceiro: Bandeiras vermelhas dos sintomas associados
1. Alteração neurológica – sonolência, confusão mental, perda de funções
Além da dor de cabeça, que também é um sintoma neurológico, outras queixas neurológicas surgindo junto ou próximas a dor de cabeça são sinais de alarme. Pode parecer meio óbvio que alguém que tem uma dor de cabeça e perda de força em um lado no corpo deve ir ao pronto-socorro, mas outros sintomas são menos óbvios. Por exemplo: a sonolência excessiva é relativamente comum na população geral, mas caso ela surja no contexto de uma dor de cabeça nova, deve ser vista como um fator de alarme. Confusão mental também é outro sinal de alarme quando vem junto com dor de cabeça. É muito comum que idosos entrem em estado confusional agudo quando têm uma infecção, mas também várias outras causas de confusão podem se associar à cefaléia.
2. Sintomas sistêmicos – febre, rigidez de nuca, dor no peito, perda de peso
Sintomas do restante do organismo também são um marcador de possível gravidade da dor de cabeça. Febre, especialmente quando não encontramos nenhum outro foco para a infecção pode sugerir um diagnóstico de meningite, especialmente se o paciente também tem rigidez de nuca. Se, além disso, ainda a pessoa tem outros marcadores de gravidade, como confusão mental ou sonolência, está armado o teatro para um quadro neurológico mais sério.
Dor no peito pode acontecer junto com a dor de cabeça e pode sugerir tanto causas graves de dor de cabeça, como também o temido infarto agudo do miocárdio. Só lembrando, dor no peito, por si só indica que a pessoa vá imediatamente ao Pronto Atendimento para avaliação de um possível infarto.
Outro item que chama atenção para a dor de cabeça é perda de peso importante nos últimos meses. Quando digo importante, me refiro a uma perda de acima de 5 a 10% por cento do peso em alguém que não tem essa intenção (que não está comendo menos e que não fez cirurgia bariátrica recente).
3. Olho doloroso com sintomas autonômicos
Finalmente, sintomas oculares agudos, como olho doloroso e vermelho, alteração visual aguda ou lacrimejamento excessivo que vêm juntos com uma dor de cabeça devem ser vistos como um sinal de alarme e investigados no pronto atendimento em conjunto com um oftalmologista. Glaucoma é um dos diferenciais que devem ser feitos e caso exista, deve ser tratado rapidamente. Só um detalhe: óculos mal ajustados não costumam causar nada além de uma cefaleia leve.
Referências
- Wootton RJ, Wippold II FJ. Evaluation of Headache in Adults. UpToDate – Headache
- Chou DE. SecondaryHeadacheSyndromes. Continuum (2018); 24 (4), p. 1179-1191
por Dr. Conrado Borges | mar 22, 2022 | Idosos e Famílias
Com o envelhecimento populacional, a doença de Parkinson tem se tornado cada vez mais comum, causando muitas dúvidas nas pessoas. Escolhi os cinco fatos mais importantes para te deixar bem informado/a.
Primeiro – a Doença de Parkinson é mais comum do que você imagina!
É “apenas” a segunda doença neurodegenerativa mais comum e está presente em cerca de duas a cada 100 pessoas. À primeira vista pode parecer pouco, mas não é! Não esqueça que é uma doença incapacitante, que pode causar um grande impacto na qualidade de vida do doente.
Segundo – Doença de Parkinson é muito mais do que tremor!
Diferente do que grande parte das pessoas pensa o tremor não é o principal sintoma desta doença. Mesmo que apareça em muitas pessoas, existem casos de doença de Parkinson sem tremor!O que realmente está presente em todos os pacientes é uma espécie de lentidão motora, que chamamos de bradicinesia.
Além de ter os movimentos lentos, os membros vão ficando mais rígidos com o tempo e o paciente fica cada vez mais travado para fazer as coisas.O tremor tem uma marca própria: ele fica mais forte quando as mãos estão quietas do lado do corpo e melhora no movimento. Sabe aquele tremor que atrapalha a pessoa quando vai tomar o cafezinho? Não é o que vemos na Doença de Parkinson. Na verdade, fala até contra esse diagnóstico!
Terceiro – A doença de Parkinson evolui lentamente e de um modo característico.
A pessoa com doença de Parkinson geralmente começa com sintomas quase imperceptíveis, só de um lado do corpo, como em um braço. Como a doença é degenerativa, esses sintomas vão piorando lentamente com o passar dos anos e avançando para o outro lado do corpo. No início, a pessoa mal os percebe, mas, aos poucos, começa a perder função nas suas atividades, piorando sua qualidade de vida.
Depois de três a cinco anos, o paciente passa a ter também dificuldade de andar e de se equilibrar. É nessa fase que começam a ocorrer as quedas, o que é bastante perigoso, pois pode levar às fraturas e traumatismo craniano.
Quarto – A Doença de Parkinson também tem sintomas não motores!
Muitos anos antes de surgirem os sintomas motores, a doença já está se alastrando pelo sistema nervoso da pessoa. Isso se reflete por alguns sintomas não motores, como depressão, intestino preso, perda do olfato e alterações do sono. Já, em fases mais avançadas da doença, problemas de memória e raciocínio, disautonomia (como quedas abruptas de pressão), dificuldade de falar e engolir acabam ocorrendo, tornando o paciente ainda mais dependente.
Quinto – A doença de Parkinson não tem cura, mas tem tratamento que FUNCIONA!
O tratamento da doença de Parkinson, especialmente nos primeiros anos, costuma a trazer uma melhora dramática dos sintomas. Com o início do tratamento, aquele travamento para se mover e aqueles tremores melhoram da água para o vinho! Permitem até que a pessoa volte a participar de atividades que já não eram possíveis. Infelizmente, após três a cinco anos do uso contínuo dos medicamentos, há uma perda gradual de efeito e podem surgir complicações. Infelizmente até o momento não temos tratamento que segure a progressão da doença.
por Dr. Conrado Borges | ago 12, 2021 | Idosos e Famílias
As três principais causas de demência que não são a Doença de Alzheimer
Você sabia que a Doença de Alzheimer é um tipo de demência mas não é a única causa de perda de memória e de outras funções cognitivas? Lendo esse texto, você vai descobrir outras que prejudicam as funções cerebrais superiores e será capaz de distinguir casos mais típicos.
O que é demência?
Para começarmos, quero que você entenda o significado de demência: o enfraquecimento lento e gradual de duas ou mais funções cognitivas (como memória, linguagem, habilidade visuoespacial e comportamento). Necessariamente, esse declínio causa prejuízo no funcionamento da pessoa nas suas atividades habituais.
Vamos ver um exemplo. Seu João tem 75 anos e está aposentado há 6. Os filhos notaram que, há 2 anos, vem se esquecendo onde coloca as coisas e está ficando cada vez mais repetitivo. Isso vem piorando aos poucos. Ele também se perdeu duas vezes enquanto andava pela vizinhança. Por esses deslizes, os filhos assumiram algumas tarefas que ele costumava a fazer, como ir ao banco e fazer compras.
Perceba que ele teve perdas de funções cognitivas e também da funcionalidade. Por esses motivos, podemos dar ao seu João o diagnóstico de demência.
Ao ler esse caso, você deve ter pensado: “ora… Isso é Alzheimer, não tem segredo!” E de modo geral você está certo, pois essa é a descrição do começo típico da Doença de Alzheimer. O que você pode não saber é que esse quadro de demência pode ser ocasionado por diversas doenças. De fato, a de Alzheimer é a causa mais comum, mas várias outras enfermidades podem levar ao mesmo resultado: a demência.
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Demência Vascular
A segunda causa mais frequente de demência é a Vascular. Afeta uma pessoa a cada cinco pessoas. Problemas circulatórios do sistema nervoso podem causar o problema de várias maneiras.
Um deles é através de um acidente vascular cerebral (AVC). Do mesmo jeito que um AVC pode deixar uma pessoa com parte do corpo paralisada, também pode comprometer áreas do cérebro importantes para as funções da atenção, pensamento e memória. Quanto maior o AVC, maior a chance de causar demência. Em alguns pacientes, a cognição vai se deteriorando em degraus: a cada novo AVC, o funcionamento cognitivo vai piorando um pouco.
Alguns pacientes têm demência vascular mesmo sem ter nenhum AVC. São aqueles que têm hipertensão, diabetes, colesterol alto e outras doenças sistêmicas mal controladas. Ao longo de muitos anos, eles vão tendo as pontas dos vasos cerebrais lentamente corroídas por um processo chamado de microangiopatia. Para falar a verdade, ter um pouco de microangiopatia no cérebro não é necessariamente um problema, já que aparece na maioria das pessoas à medida que envelhecem. No entanto, quem tem doenças sistêmicas mal controladas ou com alto risco genético pode ter uma carga de lesão muito maior no cérebro.
Geralmente, os sintomas que a gente vê no começo da demência vascular são diferentes dos da Doença de Alzheimer. Enquanto o início da última é marcado por perda da memória recente, a Demência Vascular começa com lentidão de raciocínio, piora da atenção e desorganização. A progressão também é diferente. A Demência Vascular tende a evoluir muito mais lentamente, podendo até estacionar caso o paciente seja tratado adequadamente. Já a doença de Alzheimer evolui progressivamente sem pausa, mesmo com todo o tratamento.
Apesar de pouco divulgadas, existem várias doenças neurodegenerativas além da doença de Alzheimer. Quero destacar aqui outras duas mais frequentes, que podem causar alguma confusão nas pessoas: a doença com Corpúsculos de Lewy e a Demência Frontotemporal.
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Doença com Corpúsculos de Lewy
A doença com Corpúsculos de Lewy (DCL) é a terceira causa mais frequente de demência. É mais comum em pessoas acima de 65 anos, que é a mesma população afetada pela Doença de Alzheimer. Uma curiosidade que vai te surpreender é que essa enfermidade é causada pela mesma patologia da Doença de Parkinson. Por isso, frequentemente os pacientes com DCL compartilham alguns dos sintomas, como a lentidão motora, a rigidez e o tremor.
Contudo, a DCL tem características bem próprias! Talvez a principal sejam as alucinações visuais complexas. É comum os pacientes contarem que enxergam animais ou pessoas. Muitas vezes conseguem discernir quem é a pessoa e o que ela está fazendo, mas não se sentem incomodados pela presença.
Por outro lado, delírios, que são pensamentos que distorcem a realidade, não costumam a aparecer. A memória do paciente com Lewy é geralmente menos afetada do que na Doença de Alzheimer, enquanto a atenção, capacidade de planejamento e a velocidade do raciocínio são mais prejudicadas no início do quadro.
O sono desses pacientes também é anormal. Eles têm um problema chamado de Transtorno Comportamental do Sono REM. Normalmente o/a parceiro/a de cama do/a paciente conta a mesma história: observa que ele/a se mexe enquanto dorme como se estivesse dentro do sonho. Por exemplo: se o paciente está pedalando no sonho, ele mexe as pernas no mundo real, se está lutando, dá socos no ar. Às vezes isso pode ser perigoso para o/a parceiro/a de cama, pois o/a paciente pode agredi-lo/a sem querer.
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Demência Frontotemporal
A Demência Frontotemporal (DFT) é a quarta demência mais comum. Diferente das outras que conversamos aqui, a DFT costuma a ter o início mais precoce, entre os 55 e 65 anos. O marco principal para a diferenciarmos das demais é que aqui a primeira alteração que ocorre é no comportamento.
O quadro típico da DFT é uma pessoa que, aos poucos, começa a agir diferente do seu habitual. Por exemplo, passa a confiar inocentemente em estranhos na rua, fazer comentários desagradáveis, cair em golpes, fazer compras excessivas e desnecessárias. Muitas vezes os familiares levam o paciente para o psiquiatra, acreditando que tem uma doença mental, como o transtorno bipolar ou esquizofrenia. Um fato importante é que dificilmente uma pessoa sem histórico de problemas psiquiátricos abre o quadro depois dos 50 anos. Caso isso aconteça é necessário pensar nas demências, especialmente na DFT.
Com o tempo, essas alterações do comportamento se tornam mais dramáticas a ponto do indivíduo se tornar agressivo ou ter comportamentos tão inapropriados que causam muito estresse para as pessoas com quem convive. Invariavelmente, chega um momento em que o paciente se torna incapaz de executar suas atividades profissionais ou mesmo em casa.
Além do comportamento, pessoas com DFT se tornam mais apáticas, sem vontade de fazer as coisas, e deixam de participar de muitas de suas atividades habituais. Também vão perdendo a capacidade de ter empatia com os outros e podem decepcionar enormemente as pessoas queridas. Um exemplo é o paciente que ignora a dor causada pelo óbito de um parente próximo, ou a alegria causada pelo nascimento de uma criança.
O indivíduo com DFT também muda o seu hábito alimentar. Passa a ter preferência por alimentos doces e guloseimas, come de maneira voraz, e tem risco de ganhar peso. Finalmente, passa a apresentar comportamentos repetitivos, muito parecidos com o que observamos no transtorno obsessivo compulsivo. : A pessoa repete incontáveis vezes uma mesma sequência de atos, como abrir e fechar gavetas, bater com o pé no chão ou checar se fechou a porta.
Concluindo…
À medida que a população envelhece, vemos cada vez mais pessoas com demências diferentes da Doença de Alzheimer. Sendo capazes de entender as diferenças, poderemos desenhar tratamentos mais individualizados que facilitem o cuidado dos pacientes e diminuam o desgaste dos cuidadores. Ao ver uma pessoa com alguma dessas características, leve-a ao seu neurologista de confiança!