A geração esquecida

A geração esquecida

Já não é novidade que a população de nosso país está envelhecendo e cada vez nós vivemos mais e melhor. Mas quando pensamos em HIV ou AIDS, por que ainda o jovem é aquele que primeiro vem a nossa cabeça?

O HIV – vírus causador da AIDS – foi descoberto em 1981, no auge da geração dos Baby Boomers e, primeiramente descrito como uma epidemia dos jovens e homossexuais. Mas não passou muito tempo para observarmos claramente que se tratava de uma doença potencialmente transmissível para todos aqueles que têm uma vida sexual ativa e sem proteção.

Quem convivia com o HIV até meados da década de 90, sofria com uma doença fatal, por predispor em pouco tempo a muitas infecções do organismo, ditas oportunistas, como, por exemplo, pneumonia ou meningite por fungos e/ou diversos outros microrganismos.

Após muito debruçarmos sobre a ciência, surgiu o tão esperado tratamento. Chamado no meio médico de TARV (o que antigamente era o tal “coquetel”), a terapia antirretroviral levou a infecção pelo HIV passar de uma doença fatal, para uma doença crônica. Sim, por enquanto incurável, mas com cada vez mais evidências que demonstram uma longevidade muito semelhante a quem não tem HIV.

 

Fica claro entender então que uma geração inteira vem envelhecendo com HIV e em países como Estados Unidos, entre todas as pessoas com HIV, a população acima dos 50 anos já passa da metade!

 

Falar sobre os grupos mais vulneráveis ao HIV não é simples e aqueles com mais de 50 anos já constituem uma parcela considerada vulnerável. Alguns motivos explicam isso.

Existem ainda muitas barreiras a serem enfrentadas como por exemplo, um imaginário que o idoso não faz sexo. O etarismo, ou seja, o preconceito contra pessoas com idade mais avançada mostra-se presente coletivamente, quando se pensa que o idoso não faz sexo ou ainda quando nos deparamos com a vergonha de falar sobre o assunto, medo de ser julgado “promíscuo” etc. Como se ficar mais velho fosse um empecilho para algo tão saudável como o sexo.

Alguns podem ainda esquecer-se do preservativo e seu uso correto, seja por crenças errôneas de que a proteção gira em torno da gravidez (dessa forma exclusiva de mulheres mais jovens) ou mesmo por dificuldades enfrentadas pelas pacientes com idade mais avançada na lubrificação da vagina (algo muito comum), o que gera um desconforto para o uso do preservativo.

Nas consultas médicas ou de outros profissionais de saúde, o tema sexualidade deve ser abordado, partindo do próprio profissional ou de alguma pergunta do paciente. É fundamental para uma equipe de saúde averiguar riscos quanto às práticas sexuais.

 

Os idosos também devem ser considerados para testes diagnósticos de infecções sexualmente transmissíveis, algo que podemos nos esquecer de oferecer e é muito importante uma vez que quanto mais tarde diagnosticamos o HIV no organismo, mais propensos àquelas infecções oportunistas.

 

Com todo o exposto e para evidenciar algumas dúvidas cabíveis, listo as perguntas a seguir:

  • Existe alguma dúvida sobre seu funcionamento sexual? Notou algum problema ou mudança na sua capacidade de desfrutar o sexo, como dor ou outros sintomas?
  • Você e seu parceiro (a) usam o preservativo regularmente?
  • Você conhece os outros fatores de risco para o HIV, como transfusões de sangue (no passado), ou uso de drogas intravenosas?
  • Você conhece outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, gonorreia, tricomoníase entre outras? Já sabe se teve alguma delas?
  • O que se pode fazer para proteger os parceiros de contrair o HIV?
  • Você já ouviu falar do PrEP – medicamento oral antiviral usado preventivamente por diversas pessoas sexualmente ativas e que se encaixam em alguns perfis de risco?

Podemos reduzir de forma consistente a transmissão do HIV em populações mais vulneráveis como o da geração esquecida, entendendo suas particularidades, explorando o tema com mais naturalidade em consultas e também políticas públicas, assumindo os riscos reais dos mais idosos ao enfrentarmos o etarismo em diversos ambientes e práticas.