por Dra. Luciene Miranda Barduco | out 31, 2022 | Idosos e Famílias
O mês de Outubro nos convida a refletir sobre o câncer de mama e o de colo uterino. Mas, de alguma forma, o tumor nestes órgãos é negligenciado.
Penso em algumas razões para isso, começando pelo fato do câncer de mama ser mais comum e ter maior mortalidade. Na mulher com mais de 60 anos isso é ainda mais notável. O risco de câncer de mama aumenta com a idade enquanto o de colo uterino diminui.
O colo é a parte do útero que se localiza no fundo da vagina e é exposto a condições diferentes do corpo uterino. Ele entra em contato com a acidez da vagina, com os micro-organismos que a habitam, sofre traumas na atividade sexual ou no parto, ou seja, o colo fica exposto.
Conhecemos alguns fatores de risco associados ao câncer de colo:
- Infecção pelo HPV
- Múltiplos parceiros sexuais
- Tabagismo
- IST (infecções sexualmente transmissíveis)
- Muitos partos pela vagina
- Início precoce de vida sexual
- Más condições de higiene
- Baixa imunidade, como no HIV ou pessoas que usam imunossupressores.
O mais importante desses fatores é a exposição ao vírus do papiloma humano (HPV). Por isso, a vacina contra o HPV é tão importante. Evitando a infecção pelo vírus esperamos eliminar o câncer de colo uterino. Não deixe de levar seus filhos e seus netos para serem vacinados. A vacina faz parte do calendário do SUS. Importante lembrar que o HPV também causa câncer de vagina, vulva e pênis.
As meninas e os meninos recebem 02 doses entre 09 e 14 anos, 11 meses e 29 dias de idade. Pessoas imunossuprimidas podem ser vacinadas nas UBS dos 09 aos 45 anos. Em clínicas de imunização, a vacina está disponível para mulheres de 09 a 45 anos e para homens de 09 a 26 anos e consiste em três doses. É uma vacina muito segura e eficaz.
O câncer de colo uterino tem uma particularidade muito interessante. Ele pode ser evitado através da realização do exame de Papanicolau uma vez por ano. É um exame simples que detecta as alterações celulares que podem virar câncer com o tempo. Dessa forma, podemos tratar estas lesões antes do desenvolvimento do tumor.
Já temos essa rotina bem estabelecida: ir ao ginecologista todos os anos para fazer o exame de prevenção do câncer. Até quando?
Como o risco diminui com a idade, a partir dos 64 anos, caso a paciente tenha dois exames normais feitos nos últimos 05 anos, não há necessidade de continuar fazendo o Papanicolau. Isso não quer dizer que a mulher pode deixar de ir ao ginecologista, já que é importante avaliar as mamas, ovários, o corpo uterino, a vagina e a vulva.
Esse câncer tende a ser assintomático por muito tempo, o que dificulta o diagnóstico.
Quando existem sintomas, os mais comuns são sangramento durante a relação sexual, corrimento muitas vezes com sangue e odor desagradável. Mais tardiamente pode haver dor, alterações urinárias e na evacuação. O câncer de colo uterino raramente dá metástase à distância; ele se propaga localmente, podendo acometer a bexiga, a vagina e o reto.
O diagnóstico geralmente é feito através do exame ginecológico, colpocitologia oncótica (o Papanicolau), colposcopia e biópsia. Com o diagnóstico definitivo obtido pela biópsia, são realizados exames adicionais para ver se o câncer está localizado apenas no colo uterino ou se ele já atingiu outros órgãos. Essa análise possibilita o planejamento do tratamento.
O tratamento depende da fase em que o câncer foi diagnosticado.
1- Lesões pré- malignas:
- cauterização elétrica, a laser, criocirurgia ou química
- retirada de uma parte do colo
- retirada do colo, a conização
2- Fases iniciais do câncer
- Conização
- Histerectomia total, por via abdominal, vaginal ou por videolaparoscopia.
- Histerectomia radical, quando retiramos o útero, as trompas, os ovários, a parte superior da vagina e alguns gânglios (ínguas).
3- Fases mais avançadas
- Radioterapia exclusiva
- Radioterapia e cirurgia
- Quimioterapia e radioterapia
- Imunoterapia
Obs: a radioterapia deve ser externa e interna, dentro da vagina. Esse tratamento se chama braquiterapia.
4- Se existir metástase à distância ou comprometimento extenso dos órgãos vizinhos, o tratamento será menos radical, com a intenção de garantir a melhor qualidade de vida possível. Geralmente se usa radioterapia e quimioterapia para retardar a progressão da doença.
A chance de cura nas fases iniciais é de 80 a 90%. Já nas mais avançadas essa possibilidade diminui muito podendo ser, inclusive, incurável, com grande sofrimento associado e evolução para óbito.
Finalizando, o câncer de colo uterino apesar de raro após os 60 anos, deve fazer parte das nossas preocupações. Não deixe de ir ao ginecologista regularmente e de observar sinais de alerta como sangramento vaginal espontâneo ou associado à atividade sexual. Na dúvida, fale com seu médico. O diagnóstico precoce é sempre a melhor chance para a cura e a preservação de sua qualidade de vida.
por Dra. Luciene Miranda Barduco | nov 30, 2021 | Idosos e Famílias
Na medida em que a população envelhece e a expectativa de vida acena com metas cada vez mais ambiciosas, observamos um aumento progressivo dos diagnósticos de câncer. O racional é que uma célula mais velha esteja sob maior risco de mutações e algumas formas que nosso corpo tem para neutralizar essas mutações vão ficando menos eficientes.
A idade, independente de outros fatores, aumenta a incidência de câncer. Na ginecologia não é diferente. Durante o mês de outubro nossas atenções se voltaram para o câncer de mama e, caso você não tenha visto ainda, aqui no Portal da Trevoo existem artigos sobre esse tema tão importante. Hoje vou abordar o câncer ginecológico, que responde por mais de 40% dos casos de câncer nas mulheres, sendo os mais comuns os de colo uterino, ovários e corpo uterino ou endométrio.
Existem algumas particularidades na mulher mais idosa que interferem no prognóstico, incluindo o diagnóstico tardio, já que muitas vezes a mulher deixa de ir ao ginecologista após a menopausa ou por não ter atividade sexual ou por achar, erroneamente, que por estar mais idosa “não precisa” mais ir ao ginecologista.
Para ilustrar, seguem duas tabelas do INCA, 2019, sobre incidência e mortalidade por câncer em mulheres no Brasil.
TABELAS INCA:
1 INCIDENCIA DE CÂNCER EM MULHERES
Localização Primária |
Casos Novos |
% |
Mama feminina |
66.280 |
29,7 |
Cólon e Reto |
20.470 |
9,2 |
Colo do útero |
16.710 |
7,5 |
Traqueia, Brônquio e Pulmão |
12.440 |
5,6 |
Glândula Tireoide |
11.950 |
5,4 |
Estômago |
7.870 |
3,5 |
Ovário |
6.650 |
3,0 |
Corpo do útero |
6.540 |
2,9 |
Linfoma não-Hodgkin |
5.450 |
2,4 |
Sistema Nervoso Central |
5.230 |
2,3 |
Todas as Neoplasias, exceto pele não melanoma |
223.110 |
100,0 |
Todas as Neoplasias |
316.280 |
|
2 MORTALIDADE POR CÂNCER EM MULHERES
Localização Primária |
Óbitos |
% |
Mama |
18.068 |
16,4 |
Traqueia, Brônquios e Pulmões |
12.621 |
11,4 |
Cólon e Reto |
10.385 |
9,4 |
Colo do útero |
6.596 |
6,0 |
Pâncreas |
5.893 |
5,3 |
Estômago |
5.475 |
5,0 |
Sistema Nervoso Central |
4.663 |
4,2 |
Fígado e Vias biliares intrahepáticas |
4.584 |
4,2 |
Ovário |
4.123 |
3,7 |
Leucemias |
3.356 |
3,0 |
Todas neoplasias |
110.344 |
100,0 |
O câncer de mama tende a ser menos agressivo com a idade, apresenta crescimento mais lento e, em regra, demanda tratamentos menos invasivos. Não existe mudança com relação à cirurgia, salvo em mulheres muito idosas com comorbidades que contraindiquem quimioterapia ou mesmo a radioterapia. Nesses casos, há uma tendência maior à realização de mastectomia ao invés de cirurgia conservadora. Nesse grupo é mais comum a hormonioterapia do que a quimioterapia como adjuvante.
O câncer de endométrio, que é a camada interna do útero, aparece geralmente após os 60 anos. O sintoma mais comum é sangramento vaginal na ausência de reposição hormonal e esse é um alerta muito válido.
Toda mulher que apresenta sangramento na pós-menopausa deve ser submetida a uma avaliação cuidadosa através de exame ginecológico e ultrassonográfico, com a medida da espessura e das características desse endométrio. Importante frisar que o câncer não é a única causa desse tipo de sangramento, mas obrigatoriamente, deve ser descartado. Os pólipos, a própria fragilidade desse tecido provocada pela falta de hormônio e as hiperplasias (espessamentos) do endométrio são causas mais comuns e benignas de sangramento.
O diagnóstico de certeza depende da retirada de material da cavidade uterina de preferência através da histeroscopia ou, quando esse método não se encontra disponível, através de curetagem.
O tratamento é cirúrgico por excelência e tanto as cirurgias por videolaparoscopia quanto as robóticas são alternativas que diminuem o tempo de cirurgia e o pós- operatório, e tendem a ser muito melhores se comparadas às cirurgias convencionais.
O câncer de ovário persiste como um grande desafio para nós, médicos, devido à dificuldade de se avaliar os ovários, o que leva a um diagnóstico em fases avançadas da doença com piora no prognóstico e qualidade de vida. Sua incidência aumenta a partir dos 65 anos. Os ovários são órgãos pequenos que diminuem ainda mais na menopausa e podem não ser vistos em uma USG de rotina.
Em fases iniciais não apresenta sintomas e geralmente é achado em ultrassonografia de rotina. Tardiamente, pode haver dor e aumento do volume do abdômen, emagrecimento e queda do estado geral. 75% dos casos são diagnosticados em fase avançada, o que explica ser o câncer de ovário o que apresenta maior mortalidade dentre os cânceres em mulheres. Portanto não deixe de fazer o USG endovaginal ou de pelve anualmente, principalmente se houver casos de câncer de ovário e/ou mamas na sua família. A base do tratamento é a cirurgia, cuja extensão depende da fase da doença e geralmente da quimioterapia complementar. Metade das pacientes com câncer de ovário avançado morre em até cinco anos. Em compensação, quando a doença ainda está restrita ao órgão, 90% dessas pacientes viverão mais que cinco anos.
Os cânceres de vulva e o de vagina são relativamente raros e acometem, principalmente, mulheres acima de 65 anos. O de vulva, que é a genitália externa da mulher, responde por 5% dos cânceres ginecológicos e o de vagina tem incidência ainda menor.
Raramente o câncer de vagina é primário, geralmente ocorre por extensão ou metástase de outros tumores ginecológicos. O tratamento é cirúrgico e resulta, muitas vezes, em mutilações importantes, com impacto direto na qualidade de vida dessas mulheres, inclusive na vida sexual.
A taxa de sobrevida em cinco anos do câncer de vulva varia de 16%, se existe disseminação para outros órgãos, até 86% nos tumores localizados. Com relação ao câncer de vagina, mais de 90% de sobrevida em cinco anos nos casos iniciais caindo para 30%, em média, nos casos em que existe doença a distância.
Vale lembrar que a vacina contra o HPV, que também faz parte do calendário de vacinação no nosso país e é oferecida pelo SUS, vem diminuindo a incidência das lesões precursoras do câncer genital, tanto em homens quanto em mulheres, o que significa que menos pessoas serão vítimas dessas neoplasias.
Já o câncer de colo uterino apresenta risco menor à medida que a mulher envelhece, mas isso não significa que podemos deixar de fazer o Papanicolau. Aliás, a ideia de ir ao ginecologista anualmente para fazer o exame de prevenção é uma forma de garantirmos que os outros exames necessários a cada fase da vida serão realizados também. É o terceiro tumor mais frequente em mulheres, atrás apenas do de mama e do colorretal, e a quarta causa de morte por câncer na população feminina no Brasil, segundo dados do INCA. Ou seja, é muito presente em nossa realidade de país eternamente em desenvolvimento. A incidência do câncer de colo é nitidamente menor em países desenvolvidos.
A associação com infecção pelo HPV é o principal fator de risco, além de baixas condições de higiene, múltiplos parceiros, início precoce de vida sexual, tabagismo, outras doenças sexualmente transmissíveis e imunossupressao.
Os sintomas mais comuns são corrimento vaginal com odor desagradável e sangramento vaginal à atividade sexual. Com a evolução da doença pode aparecer dor pélvica intensa, alterações urinárias, intestinais, febre, emagrecimento. Não espere isso acontecer com você!
A faixa de idade mais acometida é entre 35 e 45 anos, mas mais de 20% dos casos ocorrem em mulheres com mais de 65 anos. A sobrevida média em cinco anos é de 66%, mas é importante frisar que, nos casos iniciais, passa de 90%.
O câncer de colo é um dos poucos que podem, efetivamente, ser prevenidos, já que na maioria das vezes só conseguimos diagnóstico precoce. O Papanicolau, chamado de exame preventivo, deve ser realizado anualmente por todas as mulheres que já tiveram atividade sexual. É um exame simples, rotineiro, indolor, de baixo custo, que consegue identificar células doentes que podem evoluir para o câncer se não houver tratamento adequado, ou seja, o Papanicolau diagnostica o pré-câncer de colo. Digo para minhas pacientes que, havendo como prevenir, o câncer de colo só acontece em quem QUER. Cuide-se! Faça seu preventivo regularmente!
O tratamento varia de procedimentos simples, como a retirada do colo uterino apenas, até cirurgias muito complexas. Em algumas situações a radioterapia é necessária, o que acarreta, muitas vezes, consequências danosas para a paciente, devido à proximidade da bexiga e do reto. Quimioterapia, imunoterapia e terapia alvo, muitas vezes são necessárias e dadas inúmeras possibilidades terapêuticas e às particularidades de cada paciente, o ideal é que uma equipe multiprofissional conduza o tratamento.
Enfim, espero ter contribuído com informações importantes e, mais que isso, espero ter alertado sobre os cânceres ginecológicos que são uma triste realidade em nosso meio e merecem toda a atenção.
por Dra. Luciene Miranda Barduco | out 5, 2021 | Idosos e Famílias
Existem alguns mitos que, tenho certeza, dificultam o diagnóstico e o tratamento das disfunções sexuais masculinas. E essas crenças trazem um peso que agrava o sofrimento que existe nestas situações.
- Homem está sempre pronto para o sexo.
- Homem que é homem não “falha”.
- Homem tem desejo em qualquer situação, com qualquer pessoa, em qualquer lugar.
- “Contar para o médico? De forma alguma! Que ele vai pensar de mim?”
- Ah, se não conseguir 2, 3, infinitas ereções seguidas, tem alguma coisa errada.
E por aí afora. E assim, muitas vezes quem leva o problema para o médico é a parceira. O machismo que permeia nossa sociedade dificulta essa conversa franca e necessária para a saúde sexual desse indivíduo, desse casal.
Mais uma vez, informação de qualidade é fundamental.
Quando o paciente chega a verbalizar o desconforto ou sofrimento associado a disfunções sexuais masculinas é porque a situação tornou-se insuportável. Ou então, a própria parceria deu um ultimato. “Ou você fala com seu médico ou eu vou falar!”. Ou ainda: “Se você não resolver o SEU problema, eu vou resolver o MEU. Vou embora”.
Lógico que não é o ideal. A consulta médica seja com o urologista ou o médico de referência, que pode ser um clínico, geriatra ou cardiologista é, geralmente, a oportunidade para essa conversa. Acolher, não julgar, facilitar a exposição do problema sempre com respeito e empatia. Essas atitudes são fundamentais para que esse paciente possa ser diagnosticado e encaminhado para o melhor tratamento.
Usamos as fases da resposta sexual, desejo, excitação e orgasmo para situar a disfunção, sempre considerando que é comum haver queixa relacionada a mais de uma fase.
Disfunções sexuais masculinas mais comuns e os tratamentos disponíveis
Ejaculação Precoce (EP)
- 30% dos homens apresentam EP.
- Pode ser ao longo da vida, quando presente desde o início da vida sexual, com todas as parcerias e na grande maioria das relações, ou adquirida.
- Definida como dificuldade de controlar pelo tempo desejado a ejaculação com sofrimento associado.
- Associa-se a ansiedade de desempenho, baixa autoestima, dificuldade para estabelecer vínculos.
- Tratamento medicamentoso com antidepressivos, tramadol, anestésicos locais.
- Start stop, que se baseia na interrupção do estímulo excitatório quando houver a percepção de que a ejaculação se aproxima. Após a diminuição da excitação, retoma-se o estímulo. Essa técnica “treina” um maior controle da ejaculação.
- Squeeze, que seria a compressão da glande por alguns segundos quando o homem percebe que vai ejacular. Repete-se o processo até haver retardo na ejaculação.
- Terapia sexual.
Disfunção erétil (DE)
- Dificuldade recorrente ou persistente de obter ou manter uma ereção suficiente para desempenho sexual satisfatório, por tempo maior que 6 meses e na grande maioria das ocasiões.
- 40 a 50% dos homens acima de 60 anos se queixam de DE e é uma situação que gera intenso sofrimento com impacto na qualidade de vida.
- Alguns medicamentos podem provocar DE bem como o abuso de álcool, drogas e o tabagismo. Algumas doenças cursam com DE, como aterosclerose, diabetes, insuficiência renal ou hepática. Pode ser desencadeada por cirurgia na próstata, por radioterapia e por deficiência de testosterona.
- Pode ser predominantemente orgânica ou psicogênica.
- O tratamento medicamentoso é a primeira escolha, havendo várias opções disponíveis, cada uma com seus prós e contras. Os mais usados são a Sildenafila (Viagra), a Vardenafila(Levitra) e a Tadalafila ( Cialis).
- Injeção no pênis de substâncias que provocam a ereção, como a prostaglandina E1, a papaverina e a fentolamina.
- Dispositivos a vácuo para provocar a ereção.
- Em algumas situações, o recurso da prótese peniana pode ser necessário.
- Reposição de testosterona.
- Psicoterapia, com destaque para terapia cognitivo comportamental.
Desejo sexual hipoativo
- Deficiência ou ausência persistente ou recorrente de desejo e fantasia sexual levando a sofrimento e dificuldades interpessoais.
- Menos comum no homem que na mulher, com incidência crescente ao longo da vida, podendo chegar a quase 5% nos indivíduos acima de 60 anos.
- Medicamentos podem interferir no desejo, como os antidepressivos e alguns anti-hipertensivos, além de abuso de álcool e drogas.
- Importante a avaliação clínica para descartar diminuição dos hormônios da tireóide, diminuição da testosterona e depressão.
- Lembrar que o envelhecimento cursa com diminuição de testosterona e pode justificar diminuição do desejo.
- Várias situações de ordem afetiva podem levar ao desejo hipoativo, como ansiedade, estresse pós-traumático, luto, cansaço, estresse.
- O tratamento depende da causa e pode envolver medicamentos, como a reposição de testosterona, antidepressivos e psicoterapia.
Finalizando, gostaria de dizer que o primeiro passo rumo à solução é o diagnóstico adequado. Para isso, é necessário que os homens se sintam motivados e confortáveis para abordar suas dificuldades sexuais. E o médico deve estar capacitado para ouvir e encaminhar essas queixas, oferecendo informações e opções de tratamento que, na maioria das vezes, envolvem medicamentos e psicoterapia.
por Dra. Luciene Miranda Barduco | out 1, 2021 | Idosos e Famílias
Abordagem das principais disfunções sexuais femininas
Então, doutora, quando o sexo vai bem, nem falamos sobre isso. Quando não vai bem, falamos menos ainda!
É um erro pensarmos que é possível fingir que está tudo bem, que podemos levar o desconforto, às vezes a dor, a culpa, a ausência de desejo, de prazer, indefinidamente sem repercussões para nossa saúde física e mental. A identificação e a nomeação do que ocorre é o primeiro passo. “Não tenho desejo” ou “sinto dor” já norteiam a investigação. Se existe uma parceria envolvida, toque no assunto, de preferência num local neutro, com tempo e privacidade para conversar. Digo para minhas pacientes que não se discute a relação onde se TEM a relação ou no momento que esse encontro não aconteceu e gerou mágoa, raiva, frustração. Busque o diálogo. Recebo muitas pacientes angustiadas, receosas de abordar o tema sobre as disfunções sexuais femininas. Procure falar de forma clara, direta, para não haver necessidade de interpretação ou adivinhação.
“Nossa, doutora, será que ele não percebe que eu estou distante, ou que eu não estou gostando?”
Não! Muitas vezes seu parceiro não percebe mesmo, você precisa falar.
“E se ele achar que não gosto mais dele, que tenho outra pessoa em minha vida?”
Para evitar qualquer mal entendido, assertividade é fundamental.
Estima-se que entre 20 e 50 % das mulheres americanas apresentam alguma disfunção sexual ao longo da vida. No Brasil, o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, conduzido pela Dra Carmita Abdo, mostrou 28,5% das mulheres com alguma queixa relacionada à vivência da sexualidade.
E o que pode ser feito para tratar uma disfunção sexual? Quem trata?
O sucesso do tratamento depende de se fazer o diagnóstico da melhor forma possível. O ideal é o atendimento ser realizado por uma equipe multiprofissional, já que as disfunções sexuais femininas tendem a ser multifatoriais.
Na maioria das vezes, o ginecologista é quem primeiro a paciente procura. Muito importante o profissional acolher a queixa, ouvir sem julgamentos, explicitar os sintomas. Há quanto tempo isso ocorre? Em que situações? Como você se sente a esse respeito? Procuramos identificar quais fases da resposta sexual estão afetadas para efeito de direcionamento do raciocínio. Assim, podemos tentar enquadrar a queixa como disfunção do desejo, da excitação, do orgasmo ou dor .
O médico muitas vezes irá diagnosticar e tratar as alterações físicas presentes. Por exemplo, processos infecciosos ou inflamatórios na vagina se traduzem em dor e dificuldade à penetração e podem ser resolvidos de forma relativamente simples. Cremes vaginais, tratamento da atrofia genital com hormônios ou laser ou reabilitação do assoalho pélvico podem garantir a saúde sexual da paciente. A fisioterapia é de grande ajuda principalmente nos casos em que a tensão da musculatura do períneo prejudica a atividade sexual.
Exames laboratoriais e de imagem também são importantes para descartar situações específicas, como mau funcionamento da tireoide ou falta dos hormônios sexuais, como acontece na menopausa. Alguns medicamentos, como anticoncepcionais e drogas de ação central podem interferir principalmente no desejo e sua substituição pode ser interessante.
Muitas vezes não encontramos uma causa física para justificar a queixa e a avaliação por um psicólogo ou psiquiatra é necessária.
Existem vários recursos em terapia que podem ser usados dependendo do caso e, principalmente, da experiência do terapeuta. A terapia pode ser individual, em casal ou em grupo, dependendo da situação. Em especial a terapia cognitiva comportamental tem resultados muito bons, inclusive para o vaginismo e disfunção orgásmica, ajudando a “reprogramação” da resposta sexual. Melhorar o conhecimento sobre seu corpo e perceber como e onde você gosta de ser tocada é um bom início.
A masturbação, seja sozinha ou com sua parceria, é um exercício importante para esse autoconhecimento. Algumas técnicas de relaxamento e de manutenção do foco, como no Mindfullness, também são interessantes.
Pensar em sexo, fantasiar mais, aumentar o seu repertório através de leituras e filmes também é parte desse processo. Avalie como vocês têm esse encontro sexual. Será que o estímulo é adequado? E a frequência desses encontros? O local, o tempo, a disponibilidade, a intimidade. O que eu PODERIA mudar? O que eu GOSTARIA de mudar?
Alguns medicamentos podem ajudar no desejo e na excitação, como o Tribulus terrestris, que é um fitoterápico, a bupropiona, que é um antidepressivo, a tibolona e os próprios hormônios masculinos.
Se você estiver na menopausa, converse com seu médico sobre reposição hormonal baseada em estradiol e progesterona. A reposição de testosterona ainda não é consenso e, quando realizada, deve ser acompanhada atentamente e por períodos limitados.
Este assunto é amplo e não se esgota em alguns artigos. Espero ter contribuído! Pensar as próprias experiências, perceber como a vivência da sexualidade impacta sua qualidade de vida e, sempre que necessário, não ter preconceito e procurar ajuda.
No nosso próximo encontro, vou abordar o tratamento das disfunções sexuais masculinas. Eles também precisam de cuidados!
por Dra. Luciene Miranda Barduco | set 24, 2021 | Idosos e Famílias
Acredito que o aprendizado se constrói pela interação da informação com o meio em que o indivíduo se insere, sua cultura, troca de experiências e vivências. Também sobre sexo aprendemos continuamente ao longo da vida. Será? Deveria ser, tenho certeza. Ter curiosidade e interesse pelo assunto é muito importante, mas não é suficiente. Evoluir, aprender, praticar, inserir o sexo no nosso cotidiano e não deixá-lo num lugar distante, quase um acessório para ser usado em ocasiões especiais, é essencial. Essas ideias facilitam a vivência saudável da sexualidade, independente de parceria ou fase da vida.
Sexo funcional é o que acontece sem dor, sem desconforto, com satisfação. Na disfunção ocorre sofrimento, angústia.
Disfunções sexuais
Didaticamente dividimos as disfunções sexuais quanto à época do surgimento em primária “doutora, sempre foi assim” e secundária, quando aparece em um momento mais tardio, muitas vezes associado a um evento pontual “doutora, até meu marido me trair, eu sentia desejo”.
Também a duração da queixa importa. “Doutora, semana passada tivemos relação e eu não senti prazer” é diferente de “doutora, faz meses, anos, que não sinto prazer”. De modo geral, se a queixa existe por pelo menos seis meses consecutivos, devemos investigar de forma mais detalhada.
Queixas mais comuns que recebo em meu consultório
- Diminuição do desejo, principalmente o espontâneo. No texto anterior abordei o nosso ciclo de resposta sexual. Vale reler!
Às vezes, a falta de desejo é generalizada e pode indicar alguma doença sistêmica, como depressão, hipotireoidismo ou uso de algum medicamento, especialmente antidepressivos.
“Não sinto vontade de fazer coisa alguma” é diferente de “doutora, tenho disposição para tudo, menos para o sexo”.
- Transtorno de excitação. Na verdade, para nós mulheres, desejo e excitação se sobrepõem. Procure manter sua atenção na atividade sexual, evite pensamentos desviantes.
- Disfunção do orgasmo. Somente com a parceria? Ou mesmo na masturbação você não consegue sentir prazer?
- Dor associada à relação sexual. Todas as vezes, eventualmente? E para ser examinada, ou para ser tocada sem penetração, também dói? Dor, desconforto eventualmente é diferente de “doutora, não consigo ter penetração. Parece que minha vagina está fechada”. Procuramos diferenciar a dispareunia, que é dor à penetração, do vaginismo, quando não é possível qualquer tipo de penetração. Algumas mulheres apresentam dor na região externa, na vulva, a chamada vulvodínia.
As disfunções sexuais mais comuns para os homens
- Diminuição ou inibição do desejo, que muitas vezes se associa a estresse, dificuldades com a parceria, uso de alguns medicamentos. Menos frequente é o excesso de desejo, que pode ou não caracterizar uma compulsão.
- Disfunção erétil, ou seja, dificuldade para manter a ereção por tempo suficiente para permitir a penetração. É mais comum nos homens com mais idade e se associa a alguns hábitos, como tabagismo, abuso de álcool, a algumas condições clínicas, como diabetes, doença aterosclerótica e ao uso de alguns medicamentos.
- Ejaculação precoce é a situação mais frequente e tende a ser mais comum em homens jovens, principalmente no início da vida sexual. A ansiedade tem papel importante na sua gênese.
- Dor associada à penetração ou à ejaculação.
- Ausência de orgasmo
Vale lembrar que essa classificação tem valor didático e, na prática, muitas vezes existe a associação de várias queixas e uma disfunção pode causar o aparecimento de outra. Por exemplo, um homem com disfunção erétil pode desenvolver diminuição do desejo, numa tentativa muitas vezes inconsciente de evitar uma situação que o coloque frente à sua disfunção.
Uma mulher com dor à relação sexual pode desenvolver diminuição do desejo e da excitação.
Outro dado interessante é haver com frequência parcerias disfuncionais. Por exemplo, o homem com ejaculação precoce muitas vezes se relaciona com uma mulher com diminuição do desejo.
Entender que essas queixas são frequentes e muitas vezes negligenciadas em uma consulta de rotina é apenas o início da jornada. Procure se informar e lembre-se de que o sigilo médico garante sua privacidade. Busque ajuda!