Hopkins, a arte imita a vida

Hopkins, a arte imita a vida

Anthony Hopkins ganhou o seu segundo Oscar na premiação deste ano e, assim, tornou-se o mais velho vencedor do prêmio, aos 83 anos. Depois do inesquecível Dr. Hannibal Lecter em “O Silêncio dos Inocentes” (1991), foi a vez de dar vida ao protagonista Anthony em “Meu pai” (The Father, 2020). E nunca o dito aristotélico “a arte imita a vida” fez tanto sentido.

O filme gira em torno da deterioração mental do personagem, um homem de 81 anos que começa a apresentar sinais de demência. Há, inicialmente, dificuldade em se lembrar de fatos recentes, pois muda-se para a casa da filha, mas tem a convicção de estar na própria casa.

Anthony passa a acreditar que uma cuidadora contratada pela filha roubou o seu relógio, embora ele mesmo não se lembre de ter escondido o objeto em “esconderijo” que é então gentilmente apontado pela filha.

Temos ainda a criação de histórias que deixam o espectador em suspense, ora acreditando na versão do protagonista, ora dela desconfiando.

E, por fim, de modo mais arrasador, por isso mesmo mais verossímil, aquele homem passa a confundir as pessoas em seu entorno: um enfermeiro é, para ele, o seu genro; uma enfermeira, sua filha.

Todos aqueles que passaram ou passam pela situação de acompanhar uma pessoa próxima com demência irão identificar no filme os vários estágios de evolução da doença.

E, embora nunca seja dito o diagnóstico exato de Anthony, podemos usar o enredo para discutir a doença de Alzheimer, a causa número um de demência degenerativa, cujo principal fator de risco é o envelhecimento.

Evolução da doença Hopkins

Embora a doença esteja sempre associada à perda progressiva de memória, há outras manifestações que, muitas vezes, são mais impactantes do que a própria amnésia. As manifestações que mais trazem sobrecarga aos familiares e aos cuidadores são as chamadas comportamentais.

Dentre as mais comuns estão os delírios de roubo e de ciúme, caracterizadas pela crença inamovível de estar sendo roubado ou traído. Além disso, episódios de agressividade e agitação podem ocorrer em alguém antes descrito como um gentil cavalheiro ou uma afável senhora.

Assim como acontece no filme, conforme a doença evolui, passa a haver dificuldades em reconhecer o ambiente – o que, em termos práticos, implica em enorme risco de, sozinho, se perder na rua e, posteriormente, dificuldade em se guiar pelos cômodos da própria casa – e o surgimento potencial de alucinações visuais.

E, no estágio final, os autocuidados relativos à higiene e à alimentação são perdidos e precisam ser assumidos por outras pessoas.

O filme é um colosso, cuja força está assentada na atuação magistral do ator Hopkins.

E se há muita tristeza e desesperança conforme as cenas avançam, há a certeza de que uma vida plena e feliz deve ser buscada todos os dias e em todas as idades.

Todo esquecimento é igualmente preocupante?

Todo esquecimento é igualmente preocupante?

Uma das queixas mais frequentes que surgem no consultório dos médicos neurologistas e geriatras é o esquecimento. O temor mais comum de quem procura o consultório por esse motivo é estar com doença de Alzheimer.

Será que é comum ficarmos mais esquecidos conforme envelhecemos?

Não é necessário ter passado dos cinquenta ou sessenta anos para evocar facilmente aquela típica situação de querer lembrar o nome de um artista de cinema, atriz de novela ou, até mesmo, de determinada rua e, não conseguir… No entanto, passados alguns minutos (tá certo, às vezes são muitos minutos…), eis que o nome surge.

A analogia que mais se presta a explicar esses pequenos lapsos de memória, embora seja algo rudimentar, é comparar o nosso cérebro à memória de um computador. Todos nós sabemos que conforme o computador vai sendo usado e seu disco rígido é ocupado por informações que armazenamos, ele vai ficando cada mais lento e a velocidade de processamento de informações diminui.

É comum ouvirmos essas frases:

– ah, mas eu tinha uma memória de elefante

– eu sempre fui reconhecido por ter uma memória prodigiosa

– entre outras frases tão conhecidas.

Imagine a quantidade de situações que já foram vivenciadas por um indivíduo de 60 anos: pessoas que conheceu (e que segue conhecendo, claro), lugares que visitou, ocasiões festivas e outras não tão festivas assim, viagens, empregos, endereços e assim por diante?

Agora, voltamos à comparação com o disco rígido relativamente “vazio” de um jovem de 20 anos: é fácil entender a diferença no desempenho da memória entre os dois.

Ganhamos, por um lado, enriquecendo o cérebro com as nossas experiências de vida, mas pagamos um preço por isso: a memória um pouco mais lenta.

No entanto, de fato, existem  algumas situações que passam do esquecimento por “HD cheio” para um problema mais sério que deverá ser bem esmiuçado.

Qual o limite entre um esquecimento trivial e aquele que preocupa?

Há algumas pistas que são indicativas da necessidade de investigação. Por exemplo, quando os esquecimentos passam a prejudicar ou colocar em risco a pessoa: esquecer o fogão aceso reiteradamente, perder-se em trajeto habitual, tomar o remédio prescrito em dose dobrada ou não tomá-lo.

Outra queixa bastante frequente por parte dos familiares é que o indivíduo se tornou “muito repetitivo” e, aqui está o elemento primordial, não tem crítica de estar assim: ele repete várias vezes a mesma coisa (uma história ou uma pergunta) mas tem a convicção de que sempre é a primeira vez.

Mas nem tudo são más notícias!

Estima-se que até 30% de todas as queixas de dificuldade com a memória sejam provocadas por situações potencialmente reversíveis, tais como distúrbios de humor (a depressão, por exemplo), disfunção da tireoide, déficits vitamínicos específicos e efeito colateral de medicamentos, para citar apenas algumas.

E, para aqueles que querem minimizar o risco de problemas de memória, a melhor atitude é ter um estilo de vida saudável e tratar daquelas doenças que podem colocar o cérebro em risco:

7 sugestões que você pode adotar no seu dia a dia:

      1. Controle a pressão alta (hipertensão arterial)
      2. Acompanhe os níveis de açúcar e colesterol no sangue
      3. Não fume
      4. Não abuse do álcool
      5. Mantenha o peso adequado
      6. faça atividade física regularmente
      7. mantenha-se cognitivamente ativo por meio da leitura, das amizades e da família

 

E a dica mais valiosa! Diante de sinais de alerta, o melhor a fazer é procurar um especialista.