Comprometimento cognitivo leve do idoso

Comprometimento cognitivo leve do idoso

Discutindo uma nova configuração de perfil cognitivo no envelhecimento

O idoso tende a se queixar mais sobre problemas e dificuldades de memória. Porém, uma grande parte destes idosos apresenta desempenho normal ou dentro do esperado em testes de memória e em outros domínios cognitivos, sendo considerados como poliqueixosos subjetivos de memória (“subjective memory complainers”). Vários fatores estão relacionados às queixas subjetivas de dificuldade de memória, como sintomas depressivos leves, ansiedade, alterações sensoriais, necessidade de manter o mesmo nível de desempenho de quando mais jovem, doenças clínicas.

Atualmente, o termo “Comprometimento Cognitivo Leve” (CCL, do inglês Mild Cognitive Impairment) tem sido o mais usado na literatura para definir o estado de transição entre o envelhecimento normal e o envelhecimento patológico, atualmente denominado na medicina como fase pré-demência. Em sua formulação original, o conceito de CCL dava ênfase excessiva sobre os déficits de memória recente e menos sobre os outros domínios cognitivos. Hoje é sabido que um indivíduo com CCL pode ter prejuízo em qualquer domínio cognitivo que não necessariamente seja memória.

 

Um aspecto importante do conceito de CCL é a necessidade da ausência de prejuízo funcional em atividades de vida diária decorrentes das dificuldades e queixas de memória apresentadas pelo paciente.

 

As atividades básicas de vida diária (ABVDs) incluem aquelas com menor demanda cognitiva, de mais fácil execução e geralmente associadas à capacidade de autocuidado. Exemplos de ABVDs são se alimentar, se vestir, cuidar da higiene pessoal. Já as atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) incluem as mais complexas e de maior demanda cognitiva. Exemplos são cozinhar, cuidar dos afazeres domésticos, fazer compras, cuidar de assuntos financeiros e administrar adequadamente sua medicação, etc. A evidência de que um idoso esteja apresentando dificuldades persistentes em realizar AIVDs e que estas sejam secundárias às suas queixas e dificuldades cognitivas pode ser um sinal inicial do surgimento de um quadro demencial.

 

Idosos diagnosticados como CCL apresentam um maior risco de desenvolver quadros demenciais, principalmente de desenvolver a doença de Alzheimer (DA).

 

Em geral, estes pacientes progridem para quadros demenciais em uma taxa de cerca de 10% ao ano. Porém, esta taxa de progressão é variável e depende de uma série de fatores como a idade do paciente (quanto mais idoso, maior o risco), o nível de escolaridade (quanto menor a escolaridade, menor o risco), a intensidade dos déficits cognitivos na avaliação inicial, dentre outros.

Indivíduos com CCL devem realizar um tratamento não farmacológico, como o treinamento de memória e/ou a estimulação cognitiva como fator preventivo ou de otimização das habilidades mentais; assim como devem realizar a prática de atividades físicas e ter um estilo de vida saudável, podendo assim estabilizar o quadro de comprometimento cognitivo ou retornar ao envelhecimento saudável.