A pessoa com Doença de Alzheimer e o valor da afetividade
A doença de Alzheimer (DA) é um dos tipos de demência mais frequente, conhecido também como transtorno neurocognitivo maior, que afeta comumente pessoas idosas. É uma doença neurodegenerativa e progressiva que produz significativos prejuízos em domínios cognitivos (atenção complexa, função executiva, memória e aprendizagem, linguagem, percepto-motor e cognição social) (American Psychiatric Association [APA], 2013). E estes interferem nas atividades da vida diária. Isto é, na capacidade funcional do indivíduo.
Além dos sintomas cognitivos, indivíduos com DA apresentam também fenômenos comportamentais, físicos e psicológicos nos diferentes estágios da patologia. Essas manifestações causam sofrimentos à pessoa com DA e seus familiares, razão em que buscam cuidados em saúde. No estágio leve da DA costumam se encontrar sintomas depressivos e/ou apatia nos indivíduos. No estágio moderado são comuns características psicóticas, agitação, agressividade, perambulação e irritabilidade. Mais tarde na doença, pode-se observar incontinência, disfagia, mioclonia, convulsões e distúrbios da marcha (APA, 2013).
Diante do diagnóstico e sintomas iniciais da doença, indivíduos com DA tendem a buscar o isolamento social, bem como vivenciar a solidão e a depressão. Por isso, é importante compreender que pessoas com DA necessitam se relacionar com os outros e receber apoio afetivo. Ainda que em estágios mais avançados da DA, diante de limitações impostas pela doença, o paciente necessita de reconhecimento de suas capacidades e necessidades específicas. Tais como direito à autonomia (ainda que exercida parcialmente), ao respeito, à segurança, e a expressar opiniões e sentimentos/emoções.
Desta maneira, a afetividade, que pouco tem sido explorada nas ciências humanas em relação aos cuidados de pessoas com DA, pode ser uma aliada importante nesse processo. Pois ela é indispensável para todos os seres humanos independentemente de idade ou condição clínica.
A afetividade tem sido definida genericamente como agregado de sentimentos e emoções de experiências singulares que resultam em uma valoração qualitativa.
Algumas definições específicas encontradas na literatura são carinho, abraço ou cuidado que se tem com alguém próximo. Ou relações positivas com os outros, satisfatórias, calorosas e verdadeiras (Pires, 2016). Neste sentido, a afetividade estaria mais associada ao afeto positivo. Cabe mencionar que o afeto se trata da capacidade de afetarmos ou sermos afetados por alguém de forma positiva ou negativa, isto é, de relações energéticas. A maneira como somos afetados pode aumentar ou diminuir nossa maneira de agir (Oliveira; Lima-Silva, 2019).
Assim, a afetividade surge como importante promotor de qualidade de vida a ser alcançada por meio das relações familiares, comunitárias e sociais. Por isso, é preciso enaltecer as relações que gerem segurança afetiva para pessoas com DA. Neste intuito, a família é um espaço privilegiado, pois é responsável em proporcionar apoio emocional e segurança aos seus membros, mediante amor, atenção, interesse e compreensão. Bem como pode promover sentimentos de pertença e identidade familiar. Para Pires (2016) a família é o lugar do aconchego, de lembranças, de segurança e identitário, ainda que as relações e conflitos se tornem difíceis, ali é nosso lugar.
Há muitos momentos difíceis de lidar com a pessoas com DA, como confusão, tristeza e insegurança, bem como frustração por qualquer contrariedade, raiva ou medo. Esses sentimentos podem ser aliviados com atitudes do cuidador que transmitam conforto emocional, como um aperto de mão ou um abraço.
O toque é benéfico, na medida que, por vezes, revela carinho e alívio ao paciente. Afetividade pode ser traduzida também em calma e bom humor, comunicando que está tudo bem e que está ali para apoiá-la. Assim, evita comportamentos complicados e de difícil controle.
Você pode agir contrariando uma pessoa com DA que diz ter sumido um vestido (que a pessoa com DA não tem) ou ter uma atitude positiva dizendo que irá procurar, criando um clima mais favorável, compreensível e empático.
Outra questão é que com o declínio cognitivo, as pessoas com DA vão se tornando cada vez mais sensíveis ao toque e com a comunicação menos verbal. E é aí que entra a importância do contato físico, do toque, do abraço. De acordo com Newshan e Schuller-Civitella (2003), apresentam um resultado de estudo em que a terapia do toque promove calma, bem-estar, conforto, e muita satisfação ao paciente. Por este motivo, a afetividade, pode ser fundamental no cuidado da pessoa com DA. Ao contrário, um ambiente estressor e sem acolhimento, poderá trazer novos desfechos negativos para o paciente com DA e o seu cuidador.
Por fim, um ambiente familiar acolhedor é transformador, facilita a relação e minimiza conflitos com o indivíduo que tem DA, bem como reduz o sofrimento psicológico de ambos. Faz-se necessário respeito e amorosidade pelas queixas e sintomas que a pessoa com DA está apresentando, bem como demonstração de apoio diante de seus sofrimentos e necessidades.
Referências consultadas
American Psychiatric Association. 2013. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association.
Oliveira, W. da S.; Lima-Silva, T. B. (2019). Centro-dia para idosos: afeto positivo como potência de ação e de fortalecimento de vínculos. Revista Kairós-Gerontologia, 22(2), 141-159.
Pires, C. F. 2016. Promoção das relações familiares e dos laços afetivos entre doente de Alzheimer institucionalizado e a família. 134f. Dissertação de Mestrado. Instituto Politécnico de Portalegre Escola Superior de Educação e Ciências. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/29898