O mês de Outubro nos convida a refletir sobre o câncer de mama e o de colo uterino. Mas, de alguma forma, o tumor nestes órgãos é negligenciado.
Penso em algumas razões para isso, começando pelo fato do câncer de mama ser mais comum e ter maior mortalidade. Na mulher com mais de 60 anos isso é ainda mais notável. O risco de câncer de mama aumenta com a idade enquanto o de colo uterino diminui.
O colo é a parte do útero que se localiza no fundo da vagina e é exposto a condições diferentes do corpo uterino. Ele entra em contato com a acidez da vagina, com os micro-organismos que a habitam, sofre traumas na atividade sexual ou no parto, ou seja, o colo fica exposto.
Conhecemos alguns fatores de risco associados ao câncer de colo:
- Infecção pelo HPV
- Múltiplos parceiros sexuais
- Tabagismo
- IST (infecções sexualmente transmissíveis)
- Muitos partos pela vagina
- Início precoce de vida sexual
- Más condições de higiene
- Baixa imunidade, como no HIV ou pessoas que usam imunossupressores.
O mais importante desses fatores é a exposição ao vírus do papiloma humano (HPV). Por isso, a vacina contra o HPV é tão importante. Evitando a infecção pelo vírus esperamos eliminar o câncer de colo uterino. Não deixe de levar seus filhos e seus netos para serem vacinados. A vacina faz parte do calendário do SUS. Importante lembrar que o HPV também causa câncer de vagina, vulva e pênis.
As meninas e os meninos recebem 02 doses entre 09 e 14 anos, 11 meses e 29 dias de idade. Pessoas imunossuprimidas podem ser vacinadas nas UBS dos 09 aos 45 anos. Em clínicas de imunização, a vacina está disponível para mulheres de 09 a 45 anos e para homens de 09 a 26 anos e consiste em três doses. É uma vacina muito segura e eficaz.
O câncer de colo uterino tem uma particularidade muito interessante. Ele pode ser evitado através da realização do exame de Papanicolau uma vez por ano. É um exame simples que detecta as alterações celulares que podem virar câncer com o tempo. Dessa forma, podemos tratar estas lesões antes do desenvolvimento do tumor.
Já temos essa rotina bem estabelecida: ir ao ginecologista todos os anos para fazer o exame de prevenção do câncer. Até quando?
Como o risco diminui com a idade, a partir dos 64 anos, caso a paciente tenha dois exames normais feitos nos últimos 05 anos, não há necessidade de continuar fazendo o Papanicolau. Isso não quer dizer que a mulher pode deixar de ir ao ginecologista, já que é importante avaliar as mamas, ovários, o corpo uterino, a vagina e a vulva.
Esse câncer tende a ser assintomático por muito tempo, o que dificulta o diagnóstico.
Quando existem sintomas, os mais comuns são sangramento durante a relação sexual, corrimento muitas vezes com sangue e odor desagradável. Mais tardiamente pode haver dor, alterações urinárias e na evacuação. O câncer de colo uterino raramente dá metástase à distância; ele se propaga localmente, podendo acometer a bexiga, a vagina e o reto.
O diagnóstico geralmente é feito através do exame ginecológico, colpocitologia oncótica (o Papanicolau), colposcopia e biópsia. Com o diagnóstico definitivo obtido pela biópsia, são realizados exames adicionais para ver se o câncer está localizado apenas no colo uterino ou se ele já atingiu outros órgãos. Essa análise possibilita o planejamento do tratamento.
O tratamento depende da fase em que o câncer foi diagnosticado.
1- Lesões pré- malignas:
- cauterização elétrica, a laser, criocirurgia ou química
- retirada de uma parte do colo
- retirada do colo, a conização
2- Fases iniciais do câncer
- Conização
- Histerectomia total, por via abdominal, vaginal ou por videolaparoscopia.
- Histerectomia radical, quando retiramos o útero, as trompas, os ovários, a parte superior da vagina e alguns gânglios (ínguas).
3- Fases mais avançadas
- Radioterapia exclusiva
- Radioterapia e cirurgia
- Quimioterapia e radioterapia
- Imunoterapia
Obs: a radioterapia deve ser externa e interna, dentro da vagina. Esse tratamento se chama braquiterapia.
4- Se existir metástase à distância ou comprometimento extenso dos órgãos vizinhos, o tratamento será menos radical, com a intenção de garantir a melhor qualidade de vida possível. Geralmente se usa radioterapia e quimioterapia para retardar a progressão da doença.
A chance de cura nas fases iniciais é de 80 a 90%. Já nas mais avançadas essa possibilidade diminui muito podendo ser, inclusive, incurável, com grande sofrimento associado e evolução para óbito.
Finalizando, o câncer de colo uterino apesar de raro após os 60 anos, deve fazer parte das nossas preocupações. Não deixe de ir ao ginecologista regularmente e de observar sinais de alerta como sangramento vaginal espontâneo ou associado à atividade sexual. Na dúvida, fale com seu médico. O diagnóstico precoce é sempre a melhor chance para a cura e a preservação de sua qualidade de vida.
Sobre o autor:
Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso! Colunista do Portal Trevoo.
@lulubarduco