De posse das informações sobre anatomia que partilhei com vocês anteriormente, hoje vamos entender sobre a fisiologia da resposta sexual, ou seja, como o corpo se prepara para a atividade sexual.

O cérebro é o grande maestro. Os órgãos pélvicos são os músicos. Hormônios e neurotransmissores são responsáveis pela comunicação entre o cérebro  e os órgãos genitais e pelos ajustes necessários  à boa execução  dessa bela sinfonia.

Existem diferenças entre o ciclo da fisiologia da resposta sexual masculino e feminino e vários estudiosos já propuseram seus modelos.

O primeiro que se conhece foi apresentado por Masters e Johnson, um ginecologista e uma psicóloga, na década de 60. É o chamado modelo linear da resposta sexual, que o tempo mostrou ser válido para a resposta masculina apenas.

Excitação, Platô, Orgasmo, Resolução

Modelo linear de Masters e Johnsons

Na sequência, tivemos Kaplan que incluiu o desejo em seu modelo.

Desejo Sexual, Excitação, Orgasmo, Resolução

Ciclo Tradicional de Resposta Sexual. Desejo, Excitação, Orgasmo, Resolução.

Modelo linear de Masters e Johnsons adaptado por Kaplan.

Mais tarde, já nos anos 2000, foi a vez de Basson apresentar o que, até hoje, parece ser o exemplo mais completo e coerente com as nuances da resposta sexual feminina.

Em círculo: Neutralidade sexual, Estímulo Sexual, Desejo sexual "espontâneo", Excitação sexual, Desejo e Excitação Sexual, Satisfação Emocional e Física, Intimidade Emocional.

Ciclo de respostas de Basson.

E porque é importante termos essas noções sobre a fisiologia da resposta sexual?

Primeiro para não compararmos nossa resposta à de nosso parceiro, muitas vezes do sexo masculino. A ideia de excitação/orgasmo/resolução vale para a maioria dos homens. Nós, mulheres, temos uma resposta sexual circular, não linear. O que significa que posso iniciar a atividade sexual sem desejo, sem excitação, num estado “neutro” e me envolver ativamente na relação, num crescendo de sensações. Posso me distrair e até perder a excitação, mas, dependendo de estímulos exteriores ou interiores, como memória, fantasias, voltar a me sentir excitada.

Também importa saber que não existe desejo de melhor ou pior qualidade. Muitas mulheres se sentem cobradas por não “procurarem” sua parceria, ou seja, por não apresentarem desejo espontâneo, apenas o desejo responsivo. Não se cobre! Principalmente nas relações de maior duração é assim que somos! O desejo se manifesta, na maioria das vezes, a partir do estímulo adequado.

Outra observação é sobre a necessidade da relação passar por todas as fases. Para o homem, praticamente não se dissocia o sexo com penetração do orgasmo, o que pode sugerir que para uma relação sexual ser satisfatória o orgasmo é obrigatório.  Para muitas mulheres a gratificação sexual, o prazer, não inclui, necessariamente, o orgasmo, também chamado clímax. A proximidade, as carícias, a excitação podem ser tão ou até mais satisfatórias que o orgasmo propriamente.

Então não se cobre por não ter orgasmo em toda relação sexual. Se você se sentir satisfeita, feliz, gratificada, não se preocupe. Permita-se experimentar o prazer de várias formas, sem focar no orgasmo. Essa informação pode fazer muita diferença na vivência da sua sexualidade.

A resposta sexual é modulada por várias substâncias produzidas pelo nosso corpo, por mecanismos neurológicos, neuroendocrinológicos além de fatores ambientais e relacionais. Ou seja, é uma resposta complexa, mas passível de entendimento e, mais que isso, passível de aprendizado, treino e evolução.

E quais são as substâncias que modulam a resposta sexual?

1. Hormônios sexuais

  • Femininos: estradiol e progesterona, produzidos nos ovários e testosterona, produzida em menor quantidade nos ovários e nas glândulas suprarrenais.
  • Masculinos: testosterona, produzida principalmente nos testículos e nas glândulas suprarrenais.

2. Neurotransmissores, produzidos no cérebro:

  • Facilitadores da resposta sexual: dopamina, óxido nítrico, ocitocina
  • Inibidores da resposta sexual: serotonina, GABA e opióides.

A adrenalina tem efeito facilitador com relação à congestão pélvica para as mulheres, e inibidor para os homens, o que pode atrapalhar a ereção.

Espero ter conseguido trazer conhecimentos e despertar a curiosidade de vocês. Se tiverem dúvidas ou contribuições entre em contato!

Farei o possível para responder a todos.

Com essas noções, pretendo abordar as principais disfunções sexuais na próxima oportunidade.

Fiquem à vontade para compartilhar!

Sobre o autor:

Dra. Luciene Miranda Barduco
+ artigos

Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso! Colunista do Portal Trevoo.
@lulubarduco

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