A síndrome de fragilidade, ou simplesmente fragilidade, é um diagnóstico médico que vem ganhando reconhecimento junto com a chegada do século 21. Pudera, só agora é que realmente a humanidade envelhece de maneira mais consistente. A fragilidade é como se fosse um carro que começa a dar problemas depois de muitos anos de uso. Mas o corpo humano é infinitamente mais sofisticado do que um carro; apesar de sofrer desgastes, as células e suas funções podem ser recuperadas, ou compensadas por outras, tornando-o um universo de possibilidades. Mas, para começar, se não desconfiarmos dela, se torna impossível algum tratamento para sua reversão, ou pelo menos, recuperação parcial.
Talvez você já tenha presenciado na sua vida, algo que seus olhos não sabem bem o que é, mas que pode ser síndrome de fragilidade. Ainda é cedo, e você irá levar sua mãe para a coleta de exames de rotina no laboratório. O jejum dela te preocupa, o seu nem tanto. Tudo flui bem, até que ela é chamada, e você vê que ela se levanta da cadeira com esforço, e caminha com uma breve hesitação, até que ganhe confiança. Você tem um breve pensamento, te lembrando como ela envelheceu. Talvez as pernas dela tenham afinado, será que perdeu músculos? Outra possibilidade: você tinha no seu avô um ótimo, companheiro de saídas para mercados, jantares familiares, pequenas viagens, mas agora ele prefere ficar em casa, pois se já não está cansado, tem medo de se cansar demais. Pois o que parece compatível com o envelhecimento, nem sempre é. O mais importante, pode ser tratado e melhorado.
Como identificar a fragilidade
Existem cinco sinais possíveis de serem observados por qualquer idoso ou familiar que podem ajudar na procura médica no momento adequado.
- Perda de peso: emagrecimentos discretos como 5% do peso total em um ano, podem ser sinais indiretos da fragilidade. Se houve intenção de perder peso, que bom. Se não houver fica o alerta. Só enfatizando: uma pessoa idosa de 60kg que perca 3kg, é uma pessoa que pode estar em risco para fragilidade, e o mais importante, pode passar desapercebido, ou se percebido, pode se dar pouca importância a isso.
- Lentidão: com o envelhecimento, podemos ficar realmente mais lentos e um profissional médico pode testar a velocidade da marcha e constatar se a velocidade está anormalmente baixa.
- Fraqueza: também acontece com o envelhecimento, mas a perda muscular pode ter sido inadequadamente acentuada com o processo de envelhecimento, tornando o desempenho muscular abaixo do esperado.
- Exaustão: a queixa constante de cansaço, acompanhada muitas vezes da negativa a programas familiares que antes eram rotineiros, podem ser uma pista importante. Não pense que é manha. A exaustão é real, principalmente explicável por ineficiência das células em produzir energia para as atividades cotidianas.
- Inatividade física: é nítido que estar em movimento denota ótima saúde. Por sua vez, buscar o recolhimento ou passar horas e horas sentado ou deitado são um sinal de que algo não está bom, e merece uma avaliação.
Qualquer dos sinais acima, mesmo se apresentados isoladamente, já merecem avaliação médica. Assim como para o câncer, diabetes ou qualquer outra doença secularmente conhecida, quanto antes ocorre uma intervenção, maiores são as chances de sucesso.
Quão comum é a fragilidade?
Pois bem, a fragilidade não é uma condição exclusiva do envelhecimento, mas uma vez que advém de desgastes metabólicos, ela é mais provável na velhice. Aliás, é tão provável, que a estimativa é de que de 14-24% de uma população idosa possa ser acometida por essa condição. A sua condição “irmã caçula” é chamada de pré-fragilidade e pode ocorrer em mais de 40%dos idosos. Sim, é grande a chance de desenvolvermos fragilidade. Mas então, como saber quem pode estar em risco.
Dizer que ser do sexo masculino, ter ido à escola e completado o máximo possível do calendário escolar, ter adquirido altos salários, nesse momento talvez não seja um parâmetro útil. Esses fatores são protetores, mas existem diversos outros que podemos modificar a qualquer momento da vida. Portanto, como preveni-la?
Como prevenir a fragilidade?
Uma ingestão de quantidade de proteínas adequada na vida, nem pouco, nem muito, é algo que promove proteção a fragilidade.
- O consumo de açúcar comedido é um fator de equilíbrio e importante de proteção.
- A dieta do mediterrâneo tem como premissas boas quantidades de carboidratos de qualidade. É rica no consumo de vegetais, tem rica ingestão de carnes magras e frutas, mas só o fato de consumir vegetais isoladamente pode já ser bom.
- Um bom suporte social, ter amigos e família por perto protege dos adoecimentos.
- A atividade física, isto é, estarmos em movimento. Pode ser caminhando mais, praticando modalidades esportivas ou academia.
Quando procurar ajuda médica?
Se você percebe indícios de que há algum idoso que pode ser frágil na família, uma medida importante é a procura de um geriatra, que é atualmente o especialista habilitado para tratar essa condição. Existem perspectivas sólidas de melhorias e tratamentos, baseadas em modificações de estilo de vida, sem a necessidade de medicamentos específicos. Possivelmente a intervenção incluirá uma equipe multiprofissional que irá abranger os aspectos importantes da melhoria do idoso. O tratamento também vai incluir sempre o olhar minucioso sobre as doenças que acometem o indivíduo e o uso de seus medicamentos, pois esses ajustes são componentes fundamentais na melhoria dessa condição. Não haverá uma resposta satisfatória a uma intervenção multiprofissional se alguma doença mal controlada ou o efeito indesejável de algum medicamento acometer o indivíduo de maneira que o impeça de aderir às modificações sugeridas.
Um último ponto, frágeis todos seremos, e se tudo der certo vai ser por muito pouco tempo, bem no finalzinho de muitas décadas de vida muito bem vividas, com alegria, propósito e a família por perto.
Sobre o autor:
Médica Geriatra, Doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Coordenadora do Ambulatório de Fragilidade do Serviço de Geriatria do HCHMUSP e do Serviço de Geriatria do Hospital Japonês Santa Cruz. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Fundadora da Goki Geriatria e Colunista do Portal Trevoo.