por Dr. Tarso Adoni | jun 18, 2021 | Idosos e Famílias
Anthony Hopkins ganhou o seu segundo Oscar na premiação deste ano e, assim, tornou-se o mais velho vencedor do prêmio, aos 83 anos. Depois do inesquecível Dr. Hannibal Lecter em “O Silêncio dos Inocentes” (1991), foi a vez de dar vida ao protagonista Anthony em “Meu pai” (The Father, 2020). E nunca o dito aristotélico “a arte imita a vida” fez tanto sentido.
O filme gira em torno da deterioração mental do personagem, um homem de 81 anos que começa a apresentar sinais de demência. Há, inicialmente, dificuldade em se lembrar de fatos recentes, pois muda-se para a casa da filha, mas tem a convicção de estar na própria casa.
Anthony passa a acreditar que uma cuidadora contratada pela filha roubou o seu relógio, embora ele mesmo não se lembre de ter escondido o objeto em “esconderijo” que é então gentilmente apontado pela filha.
Temos ainda a criação de histórias que deixam o espectador em suspense, ora acreditando na versão do protagonista, ora dela desconfiando.
E, por fim, de modo mais arrasador, por isso mesmo mais verossímil, aquele homem passa a confundir as pessoas em seu entorno: um enfermeiro é, para ele, o seu genro; uma enfermeira, sua filha.
Todos aqueles que passaram ou passam pela situação de acompanhar uma pessoa próxima com demência irão identificar no filme os vários estágios de evolução da doença.
E, embora nunca seja dito o diagnóstico exato de Anthony, podemos usar o enredo para discutir a doença de Alzheimer, a causa número um de demência degenerativa, cujo principal fator de risco é o envelhecimento.
Evolução da doença Hopkins
Embora a doença esteja sempre associada à perda progressiva de memória, há outras manifestações que, muitas vezes, são mais impactantes do que a própria amnésia. As manifestações que mais trazem sobrecarga aos familiares e aos cuidadores são as chamadas comportamentais.
Dentre as mais comuns estão os delírios de roubo e de ciúme, caracterizadas pela crença inamovível de estar sendo roubado ou traído. Além disso, episódios de agressividade e agitação podem ocorrer em alguém antes descrito como um gentil cavalheiro ou uma afável senhora.
Assim como acontece no filme, conforme a doença evolui, passa a haver dificuldades em reconhecer o ambiente – o que, em termos práticos, implica em enorme risco de, sozinho, se perder na rua e, posteriormente, dificuldade em se guiar pelos cômodos da própria casa – e o surgimento potencial de alucinações visuais.
E, no estágio final, os autocuidados relativos à higiene e à alimentação são perdidos e precisam ser assumidos por outras pessoas.
O filme é um colosso, cuja força está assentada na atuação magistral do ator Hopkins.
E se há muita tristeza e desesperança conforme as cenas avançam, há a certeza de que uma vida plena e feliz deve ser buscada todos os dias e em todas as idades.
por Dra. Paula Cristina Eiras Poço | jun 16, 2021 | Idosos e Famílias
Existem medidas não medicamentosas que podem melhorar o sono de quem sofre de insônia crônica.
Existem dois tipos de insônia:
- Curta duração ou situacional – na maioria das pessoas a insônia de curta duração é situacional e terá resolução espontânea quando a situação estressora que gerou a insônia acabar. Não é considerada doença e é importante ter tranquilidade em relação à benignidade
- Insônia crônica – a insônia crônica pode por vezes ter tido início com um quadro situacional, mas geralmente persiste por mais de três meses. Por vezes está associada a um quadro psiquiátrico de base. Esse tipo sim, necessita de avaliação abordagem específicas, com mudanças comportamentais e por vezes até abordagem medicamentosa.
Antes de começar a mudar sua rotina e comportamentos, reveja com seu médico as medicações que você usa! Existem remédios que podem atrapalhar o sono. Avaliar essa possibilidade é sempre interessante já que, algumas vezes, a simples suspensão ou troca de algumas medicações podem melhorar a qualidade do sono, sem a necessidade de introduzir novas drogas.
As principais classes de medicações que impactam no sono são os corticoides, os estimulantes e os antidepressivos.
Rotina e comportamento para melhorar o sono
A primeira linha de tratamento para a insônia crônica é a chamada terapia cognitivo comportamental, com foco no sono.
Surge o conceito de higiene do sono, medidas que visam ajuste de hábitos e comportamentos que podem impactar na capacidade de adormecer e manter um sono repousante.
12 dicas para você cuidar da higiene do seu sono:
- Ter horários regulares para se deitar e acordar, independente do dia da semana. Compensar noites mal dormidas durante a semana no final de semana atrapalha o ciclo do sono. Tente acordar sempre num horário regular
- Ir para a cama somente quando sentir sono
- Planejar atividades noturnas que promovam relaxamento: aqui é necessário testar diferentes abordagens e ver quais se adequam à você
- Manter um ambiente favorável: quarto escuro, silencioso e com temperatura agradável
- Evitar assistir à televisão ou mexer no celular na cama. Telas estimulam o cérebro e afastam o sono.
- Não cochilar durante o dia!
- Evitar comportamentos de ansiedade com relação à insônia – olhar o relógio no meio da madrugada ou se preocupar com quantas horas de sono terá, pois esse hábito só estimula o despertar
- Sair da cama se não conseguir adormecer e tentar realizar atividade relaxante até sentir sono, para somente então retornar a cama
- Evitar estimulantes – como cafeína, após o almoço; álcool e nicotina perto da hora de dormir
- Atenção à alimentação: evitar refeições volumosas antes de dormir, mas também não ir para cama com fome
- Realizar exercícios físicos regulares 4 a 6 horas antes de dormir. Atividade física próxima ao horário de dormir pode funcionar como estimulante!
- Exponha-se à claridade do dia: isso reforça o ciclo circadiano, que é o ciclo biológico que nosso organismo adota para liberação de hormônios e ajuste do metabolismo
Nem todos os pacientes conseguem solução do quadro apenas com medidas de higiene do sono e a terapia cognitivo comportamental pode ser de difícil acesso para algumas famílias e para alguns perfis de pacientes.
Mesmo que você ou seu familiar precise tomar medicações para o sono, é importante saber que estudos já demonstraram que a combinação com medidas comportamentais é superior ao remédio isoladamente.
Enfim, não desista de tentar melhorias comportamentais mesmo que, no seu caso, o médico tenha receitado medicações!
por Dr. Milton Roberto Furst Crenitte | jun 14, 2021 | Idosos e Famílias
Cada vez mais a sexualidade de pessoas idosas tem ganhado a atenção do público e do campo do saber gerontológico, ao mesmo tempo em que há um aumento no número de pessoas com demência, como a causada pela Doença de Alzheimer.
Ao contrário do que muitos acreditam, algumas pessoas com demência podem manter desejos e expressões de sexualidade.
É inegável que muitos apresentam uma redução no desejo, na frequência e na satisfação sexual, mas pesquisas realizadas nas últimas décadas mostram que a intimidade, o toque, a privacidade, a sensação de vínculo com alguém e, em alguns casos, até mesmo o ato sexual, podem ser benéficos tanto para a pessoa com demência quanto para sua parceria.
Existe a possibilidade de acontecer com um casal, por exemplo, em que uma pessoa tenha demência, ou as duas tenham ou, até mesmo, aconteçam novas relações em Instituições de Longa Permanência para Idosos. Isso pode acender um debate no qual não existe verdade absoluta ou respostas fáceis e prontas.
Entretanto, não é raro que uma pessoa com síndrome demencial que expresse ou tente manifestar sua sexualidade seja considerada inapropriada por nós, ou seja caracterizada como alguém agitada ou agressiva, e por isso, receba uma intervenção medicamentosa sem necessidade.
Com esses conhecimentos em mente, profissionais da saúde também devem avaliar a capacidade de consentimento dessas pessoas lembrando, por um lado, que a despeito da evolução do quadro cognitivo, muitos podem manter a capacidade de tomada de decisões, a qual se deteriora com a evolução natural da doença.
Por outro lado, no tocante à proteção de pessoas com demência é importante destacar que o “estupro de vulnerável” é previsto no código penal como um crime e parceiros fixos podem ser, em tese, enquadrados nessa legislação.
Nesse contexto, reprimir ou proibir a expressão da sexualidade de pessoas idosas, sem embasamento, pode ser um ato violento que contribua com o sofrimento biopsicossocial da pessoa com demência e de seus familiares.
Sexualidade não se resume ao ato sexual
Além disso, sexualidade não se resume apenas ao ato sexual, e nossa abordagem não pode ser baseada no binarismo do “Tudo ou Nada”, do “Certo ou Errado” ou do “Normal ou Patológico”. É preciso ir além, respeitando a biografia e heterogeneidade de cada um.
Mesmo nos casos de evolução da demência e perda da capacidade de consentimento, é possível orientar as pessoas que se relacionarão sobre as diferentes formas de carinho, de afeto, de toque e de intimidade como abraços ou até mesmo uma massagem nos braços e nas pernas com aroma agradável.
Por fim, como sexo e sexualidade muitas vezes são considerados assuntos “tabu” pela sociedade, as percepções individuais têm grande impacto na vivência e no tratamento que desempenhamos. Uma pesquisa com cuidadores de idosos mostrou que aqueles que se sentiam desconfortáveis com esse assunto teriam uma tendência maior a reprimir ou silenciar qualquer manifestação sexual da pessoa idosa. Dessa forma, nada melhor do que falar sobre isso e planejar estratégias de comunicação para um assunto tão importante.
por Equipe TREVOO | jun 11, 2021 | Idosos e Famílias
A equipe da Trevoo conhece as dificuldades para escolher a Casa de Repouso (Residencial para Idosos), principalmente emocionais, que norteiam a decisão de mudança (ou não) de um idoso para um Residencial. Medos e dúvidas se confundem, nos levando a questionar se a atitude a ser tomada será a mais correta para a qualidade de vida do idoso e seus familiares.
Recomendamos que você converse com os membros de sua família e a equipe que acompanha o idoso, (geriatra, clínico, neurologista, entre outros), conheça os melhores Residenciais de São Paulo, apresentados pela www.trevoo.com.br e conte com o apoio do Assessor Familiar durante a pesquisa.
Quanto maior o número de informações que você tiver a este respeito, mais acertada será a sua decisão.
Dicas importantes para escolher a Casa de Repouso:
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Existe alguma lei específica que protege o idoso?
Sim, o Estatuto do Idoso, que foi promulgado em outubro de 2003. Essa é a norma que estabelece as prerrogativas, as prioridades e os direitos do idoso no Brasil. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm
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O que é uma ILPI?
ILPI significa instituição de Longa Permanência para Idosos. São elas: casas de repouso, clínicas geriátricas e asilos. Asilo era o nome dado antigamente. Atualmente, ILPI é o nome “politicamente correto” quando nos referirmos as residências coletivas destinadas às pessoas idosas, segundo a RDC 283(http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_283_2005_COMP.pdf/a38f2055- c23a-4eca-94ed-76fa43acb1df), de 2005, Artigo IV, incisivo 3.6. As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) são caracterizadas como instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinadas ao domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condições de liberdade, dignidade e cidadania.
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Como saber se o Residencial cumpre as exigências legais?
Para atender as exigências da lei, o Residencial deve ter identificação externa, estar cadastrada no CMVS (Cadastro Municipal de Vigilância em Saúde) e possuir AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros). Deve contar com um responsável técnico de nível superior cadastrado junto ao seu respectivo conselho; equipe multidisciplinar com, no mínimo, um médico, um enfermeiro, um nutricionista e um fisioterapeuta; equipe de apoio com auxiliares/técnicos de enfermagem, serviços gerais, cozinheira, podendo também contar com serviços terceirizados como lavanderia, por exemplo.
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Quem pode se hospedar?
Podem se hospedar pessoas a partir de 60 anos.
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Quando e por que procurar?
A hora ideal é quando você percebe que fica inviável cuidar do idoso/familiar. Observamos que os familiares percorrem uma trajetória de eventos antes de considerar levar o idoso para um Residencial. Isso começa quando algum membro da família passa a dedicar-se em tempo integral ao idoso. Torna-se necessário adaptar a residência para suprir as necessidades da idade avançada e surge a necessidade de contratar um cuidador que fique durante o dia enquanto a família se organiza em esquema de plantão de revezamento durante a noite. Depois de um tempo é preciso encontrar um cuidador para o dia e outro para passar a noite. Só então, esgotadas todas as alternativas, surge a hipótese de procurar um Residencial.
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O que observar em uma visita a um Residencial?
Os principais detalhes a serem observados e questionados são:
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Limpeza e cuidados dos dormitórios, e demais ambientes onde os idosos residem;
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Ambientes de convívio coletivo, se possuem instalações que seguem normas de acessibilidade;
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Aparência dos residentes em relação aos cuidados pessoais;
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Procedimentos médicos e terapêuticos praticados, quais profissionais compõem a equipe clínica, se há Assistência de enfermagem 24 horas e atendimento médico periódico (que pode ser diariamente ou com intervalos de visitas quinzenais e até mensais)
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Quais as atividades são oferecidas para estímulo físico, cognitivo, social e religioso
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Em caso de emergências, ou internações hospitalares, qual suporte oferecido pela clínica, se o Residencial possui convênios com alguns tipos de serviços (como remoção médica, com outros profissionais de cuidados especializados, entre outros).
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Como devem ser os prontuários dos residentes?
Os prontuários devem ser únicos para cada residente e com evolução de toda equipe multiprofissional, estes deverão conter ainda exames solicitados e seus laudos, e todo que diz respeito ao idoso.
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Qual o período mínimo de permanência?
O idoso poderá permanecer o tempo que quiser ou puder. Destacamos que o pagamento mensal é feito antecipadamente. Desta forma os contratos, em geral, não possuem prazo de vigência.
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A decisão de institucionalizar um familiar/idoso em um Residencial deve ser da família, do idoso, caso ele tenha condições, ou em conjunto?
Preferencialmente, a decisão deve ser tomada em conjunto, oferecendo ao familiar/idoso a possibilidade de opinar em ir ou não para o Residencial. Porém, em caso de impossibilidade devido a condições clínicas, cabe à família tomar a decisão.
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Quais os níveis de dependência que normalmente requerem a mudança para o Residencial?
Aqueles que impedem o idoso desempenhar suas funções de forma independente e segura, e quando seus familiares não tenham condições de proporcionar cuidados profissionais específicos.
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Um idoso independente e funcional pode morar em um residencial?
Sim, existem opções de moradia e hospedagem para idosos lúcidos e independentes. Esses locais atendem idosos que desejam independência, segurança, conforto e a possibilidade de interação com outros moradores, além de executarem atividades e receberem estímulos físicos e cognitivos.
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Normalmente, um idoso com grave dependência será mais bem cuidado em um Residencial ou em casa?
Sem dúvida, em um Residencial, onde o idoso terá suporte da equipe médica e de enfermagem com cuidados especializados durante 24 horas, fator determinante para uma boa reabilitação.
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Em relação aos custos, um idoso com grave dependência gera mais gastos sendo tratado em casa ou em um Residencial?
Acreditamos que os custos serão maiores em casa, local que exige investimentos elevados com equipamentos, serviços especializados, cuidado integral, além de adaptação do ambiente, fato que pode significar uma grande reforma dependendo de cada um. A maioria destes serviços está incluída na mensalidade dos Residenciais, que também se encarregam dos cuidados da parte de hotelaria.
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O idoso se sente mais seguro e amparado quando tratado em um Residencial ou em casa? Por quê?
No caso de idosos que demandem cuidados específicos, os Residenciais são as melhores opções de cuidado, oferecendo um ambiente especializado, com profissionais capacitados, treinados e supervisionados que proporcionam ao idoso uma maior sensação de confiança e bem-estar. Para idosos independentes os Residenciais também são uma ótima opção, por oferecerem conforto, segurança e estímulos físicos e cognitivos. O desejo de um idoso independente em ir para um Residencial por muitas vezes está atrelado a ele não querer ter preocupações e demandas das necessidades domésticas e nem de demandar essas necessidades para os familiares.
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É difícil o processo de adaptação em um Residencial? É importante a presença periódica da família para uma melhor adaptação?
Varia de idoso para idoso. É comum um estranhamento inicial, porém, nem sempre a presença constante dos familiares fará com que a adaptação seja suficientemente boa. De forma geral, um planejamento interdisciplinar é capaz de definir os cuidados iniciais mais adequados para o idoso.
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O que a família pode fazer para contribuir para uma melhor adaptação do idoso?
A colaboração da família é muito importante neste processo, dando apoio ao idoso e a equipe no plano terapêutico e clínico traçado para o idoso.
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Quais as atividades/serviços básicos que todo Residencial de qualidade deve oferecer?
Locais de trânsito pessoal e coletivo dotados de acessibilidade, uma rotina composta de atividades que visem o bem-estar biopsicossocial dos idosos (atividades físicas, estimulação cognitiva, inserção social e lazer), serviços ou acessibilidade para cuidados pessoais e de beleza são um bom referencial, cardápios e dietas elaborados por nutricionista adequados para diferentes necessidades e faixas etárias.
por Dra. Carla da Silva Santana Castro | jun 10, 2021 | Idosos e Famílias
Memória: a importância das reminiscências. Para as nossas vidas.
Várias palavras orbitam no termo memória: recordar, lembrar e relembrar, rememorar, memorizar, registrar, evocar, reviver, dentre outras. Mas a despeito das diferenças e semelhanças entre elas, há um ponto comum em seu conteúdo – o passado – composto por pessoas, lugares, vivências e histórias que adentraram o presente por muitas vias diferentes:
- uma imagem
- uma cena
- um cheiro
- um som
- um sabor
- um toque…
No sentido concreto, um álbum de fotografias, objetos de viagem, uma canção e seu aparelho – um rádio, um toca-discos, uma vestimenta e seu bordado ou, até mesmo, uma cristaleira repleta de louças que contam histórias-memórias.
Temos aqui um ponto claro: as memórias são despertadas por diferentes estímulos e toda a sorte de conteúdos registrados podem ser percebidos com a consciência do presente.
O que são reminiscências?
São memórias, lembranças, àquilo que se conserva na memória.
De acordo com Platão, memórias que, quando retomada pela consciência, pode ser a base de toda sabedoria ou do conhecimento humano.
Com o passar dos anos, as pessoas vão registrando fatos de toda a natureza na memória. Aquilo que viu, ouviu, sentiu, fez e viveu. Isto quer dizer que, quanto mais avançam em idade, mais histórias têm guardadas em seus “livros íntimos”.
Essas lembranças, se não foram contadas e registradas, serão perdidas, causando enorme prejuízo às gerações futuras. Por essa capacidade de armazenar fatos e pela capacidade de relembrar os eventos do passado com mais frequência, os idosos podem dar uma enorme contribuição à sociedade.
O registro das histórias da vida é um meio de construir a nossa cultura (Souza, 1999)
Relembrar e refletir
O trabalho de rememorar desperta a curiosidade (e encantamento) por tamanha conexão que desprende e encerra. Por tamanha energia que burila e faz agitar. Rememorar concretiza o já dito por Galeano “RECORDAR: Do latim re-cordis, voltar a passar pelo coração…”. Mas desta vez, com os olhos do presente, tendo as lembranças repousadas sobre um pano de fundo já tecido e vivido que toma nova forma e se ressignifica.
Quem não se emociona com a letra da música “O Portão” de Roberto Carlos?
“… fui abrindo a porta devagar, mas deixei a luz entrar primeiro, todo o meu passado iluminei, e entrei” …
Ou ainda ouvindo o canto de lamento de Dido, na “Ópera Dido & Aeneas” de Henry Purcell:
“Remember-me, Remember-me” (lembre-se de mim) cantada com todo sentimento?
De acordo com Coleman e colaboradores (1994) relembrar e refletir sobre o passado é um importante exercício de autoconhecimento. Esta prática pode contribuir para fortalecer ou restituir o senso de identidade e autoestima. Rememorar traz para o presente as situações do passado, oferecendo uma oportunidade reelaborá-las. No entanto, é importante cuidar para que as lembranças tenham como função maior justapor o passado, o presente e o futuro e recuperar seu universo público.
Deve-se evitar que as reminiscências se tornem uma jornada melancólica e sentimental, uma evocação nostálgica ou uma fuga do presente, que incentiva o narrador a ficar preso no passado.
Quem nunca ouviu a célebre frase “…no meu tempo é que era bom! Agora nada mais vale a pena” …
Perseverar sobre determinadas situações do passado, especialmente sobre experiências negativas e sem solução, pode aumentar o sofrimento. Esse processo é chamado de ruminação, e definitivamente não é benéfico.
Contudo, nem todas as lembranças são boas e nem todos gostam de relembrar e jogar a luz no vivido e na experiência passada. E temos que reconhecer que as formas com que as pessoas lidam com suas vidas e suas memórias devem ser respeitadas.
Alguns destaques sobre a memória me cumprem fazer!
Recordar tem a ver com a nossa memória como sujeitos e nos dão identidade, e desta forma, precisam encontrar seu espaço no cotidiano. O narrador precisa de um ouvinte atento e capaz de ouvir com interesse as muitas histórias que os idosos têm para contar, mesmo que estas sejam repetidas.
Muitas perguntas podem ser feitas neste diálogo trazendo elementos interessantes para a conversa dando uma nova roupagem. Toda lembrança deve ser respeitada. Nem todo mundo gosta de ficar contando histórias.
Recordar é tornar a passar pelo coração, hoje. Só por isso já vale a pena!!!
Referências
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Souza, Elza Maria de. Reminiscências integrando gerações: a arte de compartilhar memórias – Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
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Coleman, PG. Reminiscence within the study of ageing: the social significance of story. In: Bornat, J. Reminiscence rewiwed: perspectives, evaluations, achievements. Buckingham, Open University Press, 1994.
por Dra. Luciene Miranda Barduco | jun 9, 2021 | Idosos e Famílias
Quando os sintomas da menopausa se aproximam, surgem muitas dúvidas…
Há tantos anos que tudo se repetia mensalmente que já nem atinava mais para as fases ao longo da vida, afinal, são apenas fases! Algum inchaço, mamas doloridas e humor numa montanha russa! De repente, com o sangramento, vem um alívio. Ufa, sobrevivi! E, mais importante, todos à minha volta também sobreviveram. Mas este mês, o alívio não veio…
Aos 50 não pensei em gravidez, nem em menopausa. E agora, doutora?
A pergunta pode ser feita de várias formas e traz uma dezena de questionamentos:
– Nossa, mas parou, tão cedo?! Mas minha mãe menstruou até os 55!
Para aquelas que sofrem com a menstruação, o mais comum é:
– Poxa, até que enfim”!
A menopausa é ausência de sangramento vaginal espontâneo por, pelo menos, 12 meses consecutivos, encerra a fase reprodutiva da mulher e traz novas demandas, alguns desafios e, pelo menos uma certeza: passaremos 30, 40 anos, na menopausa. Temos muita vida para viver!
Sintomas da menopausa: Como me preparar para essa transição? Como me cuidar daqui para a frente? Muda alguma coisa?
O ginecologista é, por excelência e privilégio, quem acompanha a mulher ao longo de todas as fases da vida, desde a primeira menstruação. Cólicas, irregularidade menstrual, o despertar da sexualidade, contracepção, gravidez e prevenção anual.
São muitas dúvidas ao longo de todo esses processos até a chegada do climatério – o período em que os ovários começam a dar sinais de fadiga e envelhecimento. Isso se traduz por alterações menstruais variadas, diminuição da fertilidade, alterações de peso, alteração da qualidade do sono. ressecamento vaginal, mudanças na pele, cabelo e unhas. Sua duração é imprevisível e pode levar meses ou anos até a falência ovariana definitiva – a menopausa.
Para algumas mulheres, a transição é suave. Para outras, os sintomas da menopausa podem impactar negativamente a qualidade de vida.
Sabe quem vai orientar você sobre como lidar com os sintomas da menopausa? Sim, ele mesmo! Seu ginecologista. Lembre-se de que esse processo é natural, fisiológico e que você sobreviverá!
5 dicas de sobrevivência:
- Procure chegar à menopausa sem dívidas ou, pelo menos, com dívidas já negociadas, ou seja, cuide da sua saúde como um todo. Não carregue pendências como sedentarismo, hábitos alimentares ruins, obesidade ou tabagismo. Tenha sua rotina clínica e ginecológica em dia para a chegada da menopausa. Assim, você terá “apenas” essa questão para cuidar.
- Procure enxergar essa transição de forma afetiva e serena. Acolha essa nova mulher, que só não menstrua, mas tem uma história linda para contar e outra, ainda mais linda, para escrever.
- Nem a idade, nem o estado menstrual, definem um fim da sua relação com seu ginecologista. “Ah, agora não menstruo e não corro risco de engravidar, não preciso mais me consultar!” Na verdade, precisa sim. E seu ginecologista continua com você oferecendo informação de qualidade, adequando os exames complementares à essa nova realidade, estabelecendo novos protocolos de prevenção e tratamento.
- A passagem do tempo aumenta o risco para diversas condições clínicas como hipertensão, diabetes, disfunção da tireoide e vários tipos de câncer. Seu ginecologista fará o diagnóstico e o encaminhamento para os especialistas.
- Converse com ele sobre reposição hormonal. Pode ser um recurso muito útil para facilitar os ajustes do seu corpo e, também, da sua mente para essa nova realidade, caso não haja contraindicações.
E agora, querida leitora, vamos cuidar da sua menopausa!?