A incontinência urinária e envelhecimento é um problema sem solução?

A incontinência urinária é a incapacidade de reter a urina voluntariamente. Muitos fatores contribuem para o surgimento do problema e a incidência aumenta com a idade.

Além de mudanças próprias do envelhecimento, várias doenças podem aparecer ao longo da vida e contribuir para o surgimento ou agravamento da incontinência.

Nas mulheres, a menopausa contribui para o surgimento do quadro. A redução dos hormônios femininos, os estrogênios, causa atrofia da uretra e da vagina. Além disso, ocorre diminuição da produção de muco, que é uma substância gelatinosa que contribui para a vedação da uretra. O músculo responsável pela continência, o esfíncter, sofre atrofia das suas fibras. Além disso, esta estrutura pode ter sofrido lesões por partos mal assistidos e cirurgias da vagina ou períneo.

Nos homens, as doenças da próstata são fatores importantes. No crescimento benigno, chamado de hiperplasia, ocorre compressão do canal da uretra. A bexiga tem que gerar mais pressão para que a micção ocorra. Sua musculatura sofre hipertrofia e vai desenvolver contrações involuntárias. Isso leva ao aumento do número de vezes que o paciente precisa urinar, além da sensação de ter que ir ao banheiro imediatamente, a urgência urinária. Se essas contrações involuntárias forem muito fortes, o esfíncter pode não suportar essa pressão, resultando no escape da urina.

Em homens idosos com dificuldade de locomoção, esse problema vai ser especialmente importante. A parede da bexiga perde a sua elasticidade e acumula menos urina, o que agrava ainda mais o processo. O tratamento cirúrgico da hiperplasia prostática tem um risco pequeno de prejudicar o esfíncter urinário. Os sintomas decorrentes das alterações da bexiga podem durar até seis meses após a cirurgia.

Nos homens também pode surgir o câncer de próstata. Em muitos casos o crescimento benigno e a doença podem coexistir. A maioria dos tratamentos atuais pode afetar a continência urinaria, normalmente por comprometerem diretamente o esfíncter urinário ou reduzirem a capacidade da bexiga acumular urina.

O envelhecimento contribui com a incontinência urinária

Com o envelhecimento também ocorre redução da capacidade do órgão e aparecimento de contrações involuntárias, condição conhecida como bexiga do idoso. Existe uma tendência à perda de massa muscular generalizada, especialmente em indivíduos sedentários, a sarcopenia. A musculatura da região pélvica também vai sofrer.

O diabetes melitus de longa data pode comprometer a inervação da bexiga e do esfíncter em ambos os sexos. Além disso, o aumento do volume de urina produzida, situação comum no diabetes descompensado, vai agravar qualquer forma de incontinência urinária.

Na mesma linha, medicações que aumentam a produção de urina podem piorar o problema. Diuréticos, por exemplo, muito usados em indivíduos com hipertensão arterial e danos cardiológicos, são complicadores importantes.

A doença de Parkinson também leva ao surgimento de contrações involuntárias da bexiga e, na maioria dos casos, a uma lentidão dos movimentos. Boa parte dos pacientes vai ter essas contrações associadas à dificuldade em chegar ao toalete e abrir as vestes.

Os acidentes vasculares cerebrais ou derrames, assim como as demências, causam incontinência por vários mecanismos. O indivíduo pode perder a percepção da necessidade de urinar assim como o controle dos reflexos necessários para o comando adequado da micção.

Enfim, alimentação saudável, atividade física, não fumar, consumo moderado de álcool, tratamento das doenças da próstata, reposição hormonal se indicado, tudo é importante. Fisioterapia pélvica e até o tratamento cirúrgico pode ser necessário. Procure sempre a orientação do seu médico e não deixe de falar com ele sobre este problema.

Sobre o autor:

Rodrigo Sousa Madeira Campos
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Médico Urologista do Hospital São Camilo e do AC Camargo Câncer Center
Mestre em Ciências pela FMUSP e Doutor em Oncologia pela Fundação Antônio Prudente. Cursa MBA em Gestão e Inovação em Saúde pela PUCRS.
Especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia e Membro Internacional da Sociedade Americana de Urologia.

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