Existe sexo após a menopausa? Sim, existe!
Somos seres sexuais e assim o seremos até o final de nossos dias. Difícil de acreditar, não é?
Principalmente porque somos pouco educados com relação a sexo e sexualidade. Sim, são conceitos diferentes. Sexualidade é muito mais amplo e fala sobre essa energia que todos nós carregamos, a energia vital, o tesão.
- Sexo é biológico. Função reprodutora comum a todos os animais. Mas para nós, seres humanos, o sexo é também prazer, encontro, vontade, válvula de escape e tanto mais.
Lógico que a forma de vivenciarmos a própria sexualidade varia ao longo da vida. Como todo o mais que somos. A cada etapa, nosso corpo nos oferece uma forma de experimentar o prazer.
O que muda para nós, mulheres, com a menopausa, com o envelhecimento?
Nossos ovários produzem, a partir da puberdade, hormônios que causam mudanças externas, voz, distribuição de gordura, aumento das mamas, e mudanças também na forma como nosso cérebro passa a identificar e responder a estímulos sexuais. Existe uma modulação do nosso SNC devida a esses hormônios, que são o Estradiol e a Progesterona.
Praticamente todos os órgãos do nosso corpo apresentam receptores para esses hormônios que produzimos até a chegada da menopausa. A maioria das mulheres menstrua até por volta de 50 anos. Nessa faixa de idade, é comum vermos alterações no ciclo menstrual, tanto na duração e volume do sangramento quanto na regularidade do intervalo entre as menstruações. Esse período de irregularidade menstrual tem duração imprevisível e se chama climatério. Nessa fase, muitas mulheres não apresentam sintomas que possam ser associados a essa perda progressiva da função ovariana. E a menopausa, o que é? É a falência ovariana que se traduz pela perda da capacidade de produção desses hormônios sexuais. Geralmente falamos em menopausa quando a menstruação não aparece por, pelo menos, 12 meses consecutivos.
E agora, doutora, a menopausa chegou, não produzo mais hormônios, e o sexo? Acabou?
Se praticamente todo meu corpo “funciona” com esse combustível que agora não tenho mais, como me adaptar? Existe sexo após a menopausa?
Alguns órgãos acusam precocemente esta diminuição do estrogênio. O tecido que reveste a vagina, a mucosa vaginal, é um desses. Na menopausa, a espessura da mucosa vaginal diminui e isso pode causar desconforto durante a penetração. A lubrificação tende a ser mais escassa e demora mais para acontecer, o que também gera desconforto. Numa fase inicial, um lubrificante comum, de preferência a base de água, costuma ser suficiente para garantir conforto na penetração. Com o tempo precisamos “nutrir” a parede vaginal para que ela não fique tão atrófica e sensível.
Vale dizer que a uretra, que se exterioriza ao lado da vagina, também sofre pela falta de estrogênio, com aumento de incidência tanto de infecções urinárias quanto de graus variados de dificuldade para “segurar” a urina, o que chamamos de incontinência urinária.
Para melhorarmos as condições da vagina e da uretra podemos usar cremes ou óvulos com estrogênio por via vaginal. Esse uso, inclusive, ajuda a manter saudável a flora bacteriana da vagina, o que é importante para evitar alterações no odor em decorrência do crescimento de outros tipos de bactérias.
Estas medidas são simples, destituídas de risco, e facilitam a manutenção de atividade sexual satisfatória na menopausa. O conforto na penetração e a ausência de dor facilitam o desejo e o prazer. Aliás, quando a mulher tem uma relação sexual satisfatória, prazerosa, fica muito mais propensa a pensar em sexo, o que motiva os próximos encontros. Costumo dizer para minhas pacientes que o sexo ajuda a manter a saúde da vagina. Sabem por quê? Durante a excitação existe um afluxo grande de sangue para a região genital, o que melhora a elasticidade da vagina, que também é um fator importante no conforto. Além disso, a realização de exercícios específicos para os músculos da região genital, chamado assoalho pélvico, garantem elasticidade e funcionalidade este será tema de uma próxima conversa nossa. Se o sexo é bom, se não ocorre dor, ardência, fica tão mais fácil querer de novo!
E quanto mais eu quero, mais gostoso fica.
Lógico que o prazer e o desejo não dependem apenas da condição física da vagina. Outros sintomas da menopausa, como as ondas de calor, os fogachos, alterações na qualidade do sono, às vezes no humor, também podem interferir nessa vivência. Assim, retomo algumas dicas que já dei para vocês em outro artigo sobre os Sintomas da Menopausa. Cuidem da sua saúde física e mental!
Invista no relacionamento com sua parceria, divirta-se, tenha uma atitude positiva com relação a essas mudanças todas e lembre-se que o desejo e o prazer nascem muito mais no nosso cérebro do que nos nossos ovários. E sim, o sexo pode ser bom, gostoso, de qualidade em qualquer fase da nossa vida. Basta buscarmos informações adequadas e usarmos os recursos disponíveis.
Não existe hormônio que desperte o desejo em uma relação desgastada, descuidada. Mas o cuidado com seu próprio corpo, informação adequada sobre sexualidade e busca dos recursos disponíveis são importantes para que a menopausa não signifique sexo ausente ou insatisfatório.
Sobre o autor:
Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso! Colunista do Portal Trevoo.
@lulubarduco