Demência com corpos de Lewy: aspectos gerais

Demência com corpos de Lewy: aspectos gerais

Antes de entender a Demência com corpos de Lewy (DCL) é necessário enfatizar e compreender o conceito de demência. A demência é uma deterioração gradual e lenta do cérebro que afeta o funcionamento mental, como: memória, atenção, concentração, linguagem, raciocínio, entre outros. Essa disfunção ocorre principalmente em pessoas com mais de 65 anos de idade, mas, pode acometer pessoas mais jovens, apesar de ser mais raro. Nos estágios iniciais da demência, uma pessoa tem propensão a se tornar ansiosa ou deprimida devido à consciência da demência e da perda de memória. Desta forma, à medida que a situação piora, a pessoa pode se tornar mais dependente de outras pessoas
Nesse contexto, é válido ressaltar as síndromes parkinsonianas ou com parkinsonismo, cujos termos são usados para classificar um grupo de doenças que apresentam causas diferentes, mas englobam os sintomas mais comuns da Doença de Parkinson (DP) como tremor, movimentos lentos e rigidez. Nesse sentido, podemos classificar o parkinsonismo em quatro categorias, sendo elas: primário, secundário, Síndromes Parkinson-plus e Doenças heredodegenerativas. Assim, podemos dizer que a patologia é um tipo de parkinsonismo, mas nem todo parkinsonismo é Parkinson.
Por sua vez, para a identificação da DP e de seu quadro clínico, é necessário entender as características da doença em si. A DP é uma doença degenerativa, crônica e progressiva, em que ocorre perda de neurônios no Sistema Nervoso Central em uma região conhecida como substância negra. Os neurônios dessa região sintetizam o neurotransmissor dopamina, cuja diminuição provoca sintomas como: tremor em repouso, rigidez muscular, diminuição da velocidade dos movimentos e distúrbios do equilíbrio e da marcha.

 

A Demência com Corpos de Lewy está inserida na categoria das Síndromes Parkinson-plus. A DCL é uma doença neurodegenerativa progressiva que pode afetar a qualquer tipo de pessoa, sendo mais comum como dito a ocorrência em idosos, caracterizada pelo acúmulo de proteínas anormais (alfa-sinucleína) nas células do cérebro chamadas de Corpos de Lewy.

 

Seu quadro clínico é caracterizado por declínio cognitivo flutuante, com alucinações visuais e sintomas extrapiramidais (hipomimia, rigidez, tremor de repouso). A atenção, linguagem, funções executivas e as habilidades visuoespaciais são os domínios cognitivos mais prejudicados, podendo desenvolver sintomas parecidos com a Doença de Parkinson.

Um caso clássico relacionado à doença se refere ao ator Robin Williams, que durante sua carreira foi constatada a presença da Demência com corpos de Lewy (DCL). Sua esposa, Susan Williams, relata que durante a trajetória do ator, observou acentuadas dificuldades comportamentais e fisiológicas, tais como: problemas de linguagem, de se relacionar com os amigos, de se lembrar de fatos recentes, problemas com o sono, entre outros. Após a sua morte, na autópsia realizada, foi constatado que praticamente todas as regiões do cérebro foram afetadas, o que prediz o grau elevado e preocupante da doença. Atualmente, a esposa se dedica a promover ações de conscientização sobre a DCL.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2014) a DCL é o terceiro tipo de demência mais comum na população, sendo mais prevalente em homens. Em relação aos tratamentos, existem algumas alternativas farmacológicas, tais como o uso de anticolinérgicos e antidepressivos, e não farmacológicas, como a atuação de uma equipe interdisciplinar para contribuir com o processo de cuidado e atenção ao paciente.

 

É necessário que cada vez mais possamos conhecer essas doenças a fim de buscar e viabilizar novas formas de tratamento para amenizar e lentificar a evolução dos sintomas, uma vez que até o momento não foram identificados métodos de cura para a demência.

 

Os conhecimentos dessas patologias podem ajudar a identificar e realizar o diagnóstico precoce, promovendo assim uma melhor qualidade de vida para o indivíduo. No processo de avaliação diagnóstica das demências, e em especial, a DP, é necessário se atentar aos sinais mais comuns que a pessoa apresenta, tais como: rigidez na expressão facial, bradicinesia, tremores, rigidez nas articulações e muscular, tremores e desequilíbrio/andar arrastando.

Existe a possibilidade de realizar exames laboratoriais e de neuroimagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética, ou preferencialmente a ressonância), que são importantes para excluir outras doenças. Além da avaliação clínica, deve-se utilizar uma das escalas para graduação da incapacidade, tais como a escala de Hoenhn  e  Yahr  modificada, que indicam incapacidade  motora. Outra avaliação que pode ser utilizada, do ponto de vista cognitivo, é o Exame Cognitivo de Montreal- MOCA (em inglês:  Montreal Cognitive Assessment), que contempla e avalia as habilidades visuoespaciais e visuoconstrutivas, nomeação, funções executivas, linguagem, memória e orientação-temporal e espacial.

Dentro desse contexto, um profissional gerontólogo operando em uma equipe interdisciplinar, pode atuar como mediador entre o paciente, a família e os profissionais de saúde, colaborando para o entendimento da doença e sua aceitação, criando estratégias para lidar com o paciente no dia a dia, estabelecendo rotinas, realizando estimulação cognitiva, ajudando e orientando sobre mudanças funcionais e estruturais no lar, bem como prestando auxílio e suporte às famílias que necessitam de apoio. O objetivo principal é, sabendo das capacidades reduzidas da pessoa doente, auxiliá-la naquilo que ainda pode realizar, proporcionando o máximo de atividades para a sua funcionalidade e promovendo a sua qualidade de vida.

 

A atuação multidisciplinar de profissionais gerontólogos em parceria com psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais, por exemplo, pode contribuir de forma significativa com os cuidados para a manutenção do bem-estar do paciente diagnosticado com DCL e com o suporte para familiares e/ou cuidadores.

 

Além dos tratamentos medicamentosos, as denominadas terapias não farmacológicas têm demonstrado efeitos positivos sobre as demências. Veja a seguir alguns exemplos sobre como esses profissionais podem atuar:

  • Fonoaudiólogos: auxiliam na manutenção da capacidade da fala e deglutição;
  • Nutricionistas: orientam em relação ao consumo adequado de alimentos e ingestão de líquidos, objetivando uma dieta que contribua com a melhor saúde possível;
  • Fisioterapeutas: estimulam o ganho de força muscular, a melhora do equilíbrio e da marcha, assim como a redução da rigidez muscular;
  • Psicólogos: proporcionam, através de terapias específicas, o cuidado com a saúde mental e cognitiva dos pacientes e familiares;
  • Terapeutas ocupacionais: realizam intervenções de acordo com as habilidades, interesses e demandas do paciente, especialmente relacionadas a realização de tarefas ocupacionais e cognitivamente estimulantes, adaptações no ambiente, entre outras.

 

A estimulação cognitiva, intervenção que pode ser realizada por diferentes profissionais, permite a maior preservação e menor velocidade de deterioração das funções cognitivas como memória e linguagem, sendo uma das terapias não farmacológicas mais recomendadas. Ainda que haja muitos desafios no tratamento e cuidado com pessoas diagnosticadas com Demência com corpos de Lewy, pesquisadores e diversos profissionais, dedicam-se para viabilizar as melhores condições de vida e saúde para pacientes, familiares e cuidadores.


Referências bibliográficas

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

LIMA-SILVA, Thais Bento. Doença de Parkinson e outras síndromes parkinsonianas. In: LIMA-SILVA, Thais Bento. Envelhecimento cerebral e saúde mental na velhice. São Paulo: Editora Senac, 2019, p. 1-15.

PARMERA, Jacy Bezerra; NITRINI, Ricardo. Demências: da investigação ao diagnóstico. Revista de Medicina, v. 94, n. 3, p. 179-184, 2015. DOI: 10.11606/issn.1679-9836.v.94i3p179-184. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/108748. Acesso em: 17 nov. 2021.

WILLIAMS, Susan Schneider. The terrorist inside my husband’s brain. 2016. DOI: 10.1212/WNL.0000000000003162. Disponível em: https://n.neurology.org/content/87/13/1308. Acesso em: 18 nov. 2021.

Doença de Parkinson: dicas para ajudar o paciente e a família

Doença de Parkinson: dicas para ajudar o paciente e a família

Você sabia que dia 11 de abril é considerado o Dia Mundial da Doença de Parkinson e que todo o mês é voltado para a conscientização da doença? Essa data foi escolhida em homenagem a James Parkinson, médico inglês que descreveu a doença pela primeira vez em 1817, na época chamada de “paralisia agitante”. Somente 50 anos depois, após novas descobertas feitas pelo pesquisador Jean-Martin Charcot a doença recebeu o nome de Doença de Parkinson (DP).

A Doença de Parkinson (DP) faz parte do grupo de doenças neurodegenerativas e atinge principalmente pessoas acima de 50 anos. Estudos indicam que a possibilidade de ser acometido pela doença aumenta de acordo com a idade. Dados revelam que atualmente cerca de 200 mil brasileiros têm o diagnóstico da doença, no entanto, possivelmente esse número é mais elevado, pois são necessários diversos exames e procedimentos para identificar a DP.

Apesar dos avanços da ciência, os conhecimentos sobre a enfermidade ainda são limitados. Não existe um consenso sobre sua causa e o quanto está relacionada ao processo de envelhecimento. Pesquisadores têm direcionado as investigações principalmente para quatro fatores: aspectos genéticos (considerando a hereditariedade), aspectos ambientais (exposição a toxinas), estresse oxidativo e alterações celulares.

Existe grande possibilidade de que os quatro fatores anteriormente citados estejam relacionados, e que juntos, causem danos na região da substância nigra, área do cérebro responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor que leva informações do cérebro para o corpo. Portanto, quando essa região é  envolvida e seus neurotransmissores morrem, há um comprometimento do funcionamento adequado do corpo, gerando diversos sintomas.

            Os primeiros costumam ser notados inicialmente pelas pessoas mais próximas, como a lentificação dos movimentos e os tremores nas extremidades das mãos. Outros sintomas são: a diminuição do tamanho da letra, a rigidez muscular, acinesia, ou seja, uma diminuição dos movimentos, problemas na fala e no sono, depressão, além de problemas respiratórios, urinários e dificuldade na deglutição.

Dicas sobre doença de Parkinson para ajudar o paciente e a família

  • Praticar atividades físicas: sabemos que os exercícios físicos auxiliam a preservar por exemplo, a capacidade de execução dos movimentos, portanto, pode ajudar a retardar o avanço acelerado desse declínio.
  • Realizar exercícios de orientação temporal: é sempre importante conversar com a pessoa que tem DP o dia, o mês e o ano em que estamos, além de sempre questionar a hora aproximada, pois assim ela se situará no tempo.
  • Discutir notícias recentes: ler notícias preferencialmente positivas, essa atividade contribuirá para saber os acontecimentos da humanidade.
  • Desenvolver exercícios intelectuais: esses exercícios contribuem para a preservação das funções cognitivas, como por exemplo, a memória. Há um Método chamado Supera que utiliza exercícios que colaboram para que pessoas saudáveis ou com leve declínio cognitivo mantenham as suas capacidades intelectuais.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde – Biblioteca Virtual em Saúde. 11/4 – Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson: avançar, melhorar, educar, colaborar! 2021. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/3450-11-4-dia-mundial-de-conscientizacao-da-doenca-de-parkinson-avancar-melhorar-educar-colaborar. Acesso em: 12 abr. 2021.

Pinheiro, J. E. S. Doença de Parkinson e Outros Transtornos do Movimento. [In] Freitas, E. V.; PY, L. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3a Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 437 – 445.

Metaverso e saúde mental – Instrumentos disponíveis para todas as idades?

Metaverso e saúde mental – Instrumentos disponíveis para todas as idades?

O que você sabe sobre o metaverso?

 

O metaverso está crescendo em popularidade, como evidenciado pela presença de diferentes mundos virtuais. O metaverso equivale ao universo paralelo ao real, e é entendido como a evolução final da internet, uma espécie de realidade virtual em que qualquer interação desenvolvida neste “espaço” também pode impactar diretamente o mundo real.

Novas ideias para a criação de um Metaverso no setor de saúde mental foram criadas, como uma agência de serviços de aconselhamento psicológico que será desenvolvida e vendida por meio da realidade virtual (RV), que é um sistema imaginativo complexo que pode unir fantasia e realidade (Ifdil et al., 2022).

Esse aconselhamento seria parecido com o real, os professores participam de salas de aula virtuais como avatares (pessoas do metaverso) e ajudam os facilitadores e outros alunos a melhorar sua capacidade de lidar com diversas questões ou vivências, fazendo perguntas ou criando ideias que podem ser usadas em uma aula real (Ifdil et al., 2022).

O aconselhamento online está se tornando mais popular, a terapia de RV seria uma delas. O estudo de Slater et al. (2019) realizou um aconselhamento virtual de auto conversação com jovens (a pessoa real com seu avatar do metaverso) que resultou em melhorias no sofrimento e em suas respostas aos seus problemas pessoais.

O metaverso também pode ser aplicado na medicina, por exemplo, no espaço digital de diagnóstico e tratamento. Os pacientes podem compartilhar informações com os médicos durante o processo terapêutico para reduzir a resistência no processo de tratamento. Outra possibilidade é para pessoascom problemas de saúde mental e cognitiva. Esse recurso permite que os pacientes recebam tratamento em casa e tenham a própria privacidade preservada (Han& Oh, 2021). Essa opção seria relevante para os idosos que apresentam uma procura maior, por exemplo, em consultas de rotina, não sendo necessariamente preciso que haja locomoção até a clínica de atendimento.

A Realidade Aumentada (RA) é uma mistura do virtual com o real, por exemplo, o jogo Pokémon GO, que ganhou muitos usuários nos últimos anos no Brasil. Nesta ferramenta, o jogador pode usar a câmera do celular para encontrar e capturar o Pokémon na realidade.

O desenvolvimento de altas tecnologias, como RV, RA, jogos e metaverso destinados para idosos ainda é escasso. De acordo com Xi et al. (2022), a Realidade Aumentada causa esforço e demanda mental relativamente altos, ou seja, os designers devem considerar fatores como facilidade de uso, mobilidade e interatividade para reduzir o esforço necessário na conclusão de tarefas com RA. Além disso, precisamser mais receptivos aos graus de complexidade e riqueza de informações que podem levar a alta demanda mental, especialmente quando o aplicativo RA tem como alvo grupos específicos: os idosos, crianças, pacientes e deficientes. Outro ponto relatado pelos pesquisadores se refere às capacidades funcionais dos idosos, que podem ser prejudicadas pelo uso de fones de ouvido e controles (óculos e controle de mão), por exemplo. As características deste grupo pode impactar sua capacidade de utilização das ferramentas virtuais e a necessidade de desenvolvimento de produtos específicos é essencial para pessoas que não tenham tanta facilidade com equipamentos digitais.

Com a rápida evolução da tecnologia, o metaverso vai se tornar cada vez mais presente no mundo, na educação, na medicina, na interação social, na economia, na diversão e no entretenimento. Como ferramenta de inclusão, deve se preocupar em se adaptar a um número de pessoas que só cresce, que é o do 60+.

 

Referências

 

HAN, Yiqian; OH, Seokhee. Investigation and Research on the Negotiation Space of Mental and Mental Illness Based on Metaverse. In: 2021 International Conference on Information and Communication Technology Convergence (ICTC). IEEE, 2021. p. 673-677.

IFDIL, Ifdil et al. Virtual reality in Metaverse for future mental health-helping profession: an alternative solution to the mental health challenges of the COVID-19 pandemic. Journal of Public Health, 2022.

SLATER, Mel et al. An experimental study of a virtual reality counselling paradigm using embodied self-dialogue. Scientific reports, v. 9, n. 1, p. 1-13, 2019.

XI, Nannan et al. The challenges of entering the metaverse: An experiment on the effect of extended reality on workload. Information Systems Frontiers, p. 1-22, 2022.