por Cássia Elisa Rossetto Verga, Gabriela dos Santos and Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva | abr 14, 2023 | Idosos e Famílias
Antes de entender a Demência com corpos de Lewy (DCL) é necessário enfatizar e compreender o conceito de demência. A demência é uma deterioração gradual e lenta do cérebro que afeta o funcionamento mental, como: memória, atenção, concentração, linguagem, raciocínio, entre outros. Essa disfunção ocorre principalmente em pessoas com mais de 65 anos de idade, mas, pode acometer pessoas mais jovens, apesar de ser mais raro. Nos estágios iniciais da demência, uma pessoa tem propensão a se tornar ansiosa ou deprimida devido à consciência da demência e da perda de memória. Desta forma, à medida que a situação piora, a pessoa pode se tornar mais dependente de outras pessoas
Nesse contexto, é válido ressaltar as síndromes parkinsonianas ou com parkinsonismo, cujos termos são usados para classificar um grupo de doenças que apresentam causas diferentes, mas englobam os sintomas mais comuns da Doença de Parkinson (DP) como tremor, movimentos lentos e rigidez. Nesse sentido, podemos classificar o parkinsonismo em quatro categorias, sendo elas: primário, secundário, Síndromes Parkinson-plus e Doenças heredodegenerativas. Assim, podemos dizer que a patologia é um tipo de parkinsonismo, mas nem todo parkinsonismo é Parkinson.
Por sua vez, para a identificação da DP e de seu quadro clínico, é necessário entender as características da doença em si. A DP é uma doença degenerativa, crônica e progressiva, em que ocorre perda de neurônios no Sistema Nervoso Central em uma região conhecida como substância negra. Os neurônios dessa região sintetizam o neurotransmissor dopamina, cuja diminuição provoca sintomas como: tremor em repouso, rigidez muscular, diminuição da velocidade dos movimentos e distúrbios do equilíbrio e da marcha.
A Demência com Corpos de Lewy está inserida na categoria das Síndromes Parkinson-plus. A DCL é uma doença neurodegenerativa progressiva que pode afetar a qualquer tipo de pessoa, sendo mais comum como dito a ocorrência em idosos, caracterizada pelo acúmulo de proteínas anormais (alfa-sinucleína) nas células do cérebro chamadas de Corpos de Lewy.
Seu quadro clínico é caracterizado por declínio cognitivo flutuante, com alucinações visuais e sintomas extrapiramidais (hipomimia, rigidez, tremor de repouso). A atenção, linguagem, funções executivas e as habilidades visuoespaciais são os domínios cognitivos mais prejudicados, podendo desenvolver sintomas parecidos com a Doença de Parkinson.
Um caso clássico relacionado à doença se refere ao ator Robin Williams, que durante sua carreira foi constatada a presença da Demência com corpos de Lewy (DCL). Sua esposa, Susan Williams, relata que durante a trajetória do ator, observou acentuadas dificuldades comportamentais e fisiológicas, tais como: problemas de linguagem, de se relacionar com os amigos, de se lembrar de fatos recentes, problemas com o sono, entre outros. Após a sua morte, na autópsia realizada, foi constatado que praticamente todas as regiões do cérebro foram afetadas, o que prediz o grau elevado e preocupante da doença. Atualmente, a esposa se dedica a promover ações de conscientização sobre a DCL.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2014) a DCL é o terceiro tipo de demência mais comum na população, sendo mais prevalente em homens. Em relação aos tratamentos, existem algumas alternativas farmacológicas, tais como o uso de anticolinérgicos e antidepressivos, e não farmacológicas, como a atuação de uma equipe interdisciplinar para contribuir com o processo de cuidado e atenção ao paciente.
É necessário que cada vez mais possamos conhecer essas doenças a fim de buscar e viabilizar novas formas de tratamento para amenizar e lentificar a evolução dos sintomas, uma vez que até o momento não foram identificados métodos de cura para a demência.
Os conhecimentos dessas patologias podem ajudar a identificar e realizar o diagnóstico precoce, promovendo assim uma melhor qualidade de vida para o indivíduo. No processo de avaliação diagnóstica das demências, e em especial, a DP, é necessário se atentar aos sinais mais comuns que a pessoa apresenta, tais como: rigidez na expressão facial, bradicinesia, tremores, rigidez nas articulações e muscular, tremores e desequilíbrio/andar arrastando.
Existe a possibilidade de realizar exames laboratoriais e de neuroimagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética, ou preferencialmente a ressonância), que são importantes para excluir outras doenças. Além da avaliação clínica, deve-se utilizar uma das escalas para graduação da incapacidade, tais como a escala de Hoenhn e Yahr modificada, que indicam incapacidade motora. Outra avaliação que pode ser utilizada, do ponto de vista cognitivo, é o Exame Cognitivo de Montreal- MOCA (em inglês: Montreal Cognitive Assessment), que contempla e avalia as habilidades visuoespaciais e visuoconstrutivas, nomeação, funções executivas, linguagem, memória e orientação-temporal e espacial.
Dentro desse contexto, um profissional gerontólogo operando em uma equipe interdisciplinar, pode atuar como mediador entre o paciente, a família e os profissionais de saúde, colaborando para o entendimento da doença e sua aceitação, criando estratégias para lidar com o paciente no dia a dia, estabelecendo rotinas, realizando estimulação cognitiva, ajudando e orientando sobre mudanças funcionais e estruturais no lar, bem como prestando auxílio e suporte às famílias que necessitam de apoio. O objetivo principal é, sabendo das capacidades reduzidas da pessoa doente, auxiliá-la naquilo que ainda pode realizar, proporcionando o máximo de atividades para a sua funcionalidade e promovendo a sua qualidade de vida.
A atuação multidisciplinar de profissionais gerontólogos em parceria com psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais, por exemplo, pode contribuir de forma significativa com os cuidados para a manutenção do bem-estar do paciente diagnosticado com DCL e com o suporte para familiares e/ou cuidadores.
Além dos tratamentos medicamentosos, as denominadas terapias não farmacológicas têm demonstrado efeitos positivos sobre as demências. Veja a seguir alguns exemplos sobre como esses profissionais podem atuar:
- Fonoaudiólogos: auxiliam na manutenção da capacidade da fala e deglutição;
- Nutricionistas: orientam em relação ao consumo adequado de alimentos e ingestão de líquidos, objetivando uma dieta que contribua com a melhor saúde possível;
- Fisioterapeutas: estimulam o ganho de força muscular, a melhora do equilíbrio e da marcha, assim como a redução da rigidez muscular;
- Psicólogos: proporcionam, através de terapias específicas, o cuidado com a saúde mental e cognitiva dos pacientes e familiares;
- Terapeutas ocupacionais: realizam intervenções de acordo com as habilidades, interesses e demandas do paciente, especialmente relacionadas a realização de tarefas ocupacionais e cognitivamente estimulantes, adaptações no ambiente, entre outras.
A estimulação cognitiva, intervenção que pode ser realizada por diferentes profissionais, permite a maior preservação e menor velocidade de deterioração das funções cognitivas como memória e linguagem, sendo uma das terapias não farmacológicas mais recomendadas. Ainda que haja muitos desafios no tratamento e cuidado com pessoas diagnosticadas com Demência com corpos de Lewy, pesquisadores e diversos profissionais, dedicam-se para viabilizar as melhores condições de vida e saúde para pacientes, familiares e cuidadores.
Referências bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
LIMA-SILVA, Thais Bento. Doença de Parkinson e outras síndromes parkinsonianas. In: LIMA-SILVA, Thais Bento. Envelhecimento cerebral e saúde mental na velhice. São Paulo: Editora Senac, 2019, p. 1-15.
PARMERA, Jacy Bezerra; NITRINI, Ricardo. Demências: da investigação ao diagnóstico. Revista de Medicina, v. 94, n. 3, p. 179-184, 2015. DOI: 10.11606/issn.1679-9836.v.94i3p179-184. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/108748. Acesso em: 17 nov. 2021.
WILLIAMS, Susan Schneider. The terrorist inside my husband’s brain. 2016. DOI: 10.1212/WNL.0000000000003162. Disponível em: https://n.neurology.org/content/87/13/1308. Acesso em: 18 nov. 2021.
por Cássia Elisa Rossetto Verga, Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva and Dr. Tiago Nascimento Ordonez | fev 21, 2023 | Idosos e Famílias
Envelhecimento e Demência Vascular: os desafios de envelhecer com patologias
Dois fenômenos ocorreram no século XX, especialmente nos últimos 50 anos no Brasil: o aumento da longevidade e das doenças crônico-degenerativas. O mundo, portanto, vive uma situação inédita, com desafios para superar em relação à saúde cognitiva das pessoas idosas, como as síndromes demenciais. Nesse sentido, é válido salientar que a longevidade de um organismo é fruto da interação entre seu potencial genético e ambiental. Logo, cada indivíduo envelhece de forma heterogênea e por isso destacamos neste texto, uma das patologias mais frequentes na população: as demências, em especial, a Demência Vascular.
O que é a demência vascular?
As demências classificadas como não degenerativas ou reversíveis são decorrentes de acidentes vasculares, processos infecciosos, traumatismos, deficiências nutricionais, tumores etc. Por sua vez, a Demência Vascular corresponde a um número aproximado de 20% entre todos os tipos de demências. Ela ocorre devido a eventos isquêmicos ou hemorrágicos, conhecidos como derrame ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) que provoca morte neuronal em local estratégico, provocando alterações cognitivas e motoras, podendo apresentar também quadros de depressão.
Paralelo a isso, contudo, esse tipo de demência é passível de prevenção, uma vez que está relacionada a fatores de risco cardiovasculares que podem ser controlados como níveis altos de colesterol, glicemia, tabagismo e hipertensão. Segundo dados do estudo de Engelhardt et al., (2011) e do DSM-V (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 2014), a Demência Vascular atinge entre 15-20%, sendo em 2% da população de 65-70 anos de idade e em 20-40% acima de 80 anos. Além disso, a demência vascular também é mais comum em homens do que em mulheres.
Quais são os sintomas?
Os sintomas mais comuns são déficit de memória recente, paralisia, incapacidade de realizar tarefas básicas do cotidiano, alterações do comportamento e humor, desequilíbrio físico. E podem ocorrer sintomas parecidos com Alzheimer.
Tratamentos e prevenções da demência vascular
Os tratamentos podem ser medicamentosos e não medicamentosos. Nesse cenário, medicamentos para controle de pressão arterial, diabetes, doenças cardíacas são úteis. Por vezes, são prescritos a aspirina e outros medicamentos para prevenir a formação de coágulos nos vasos sanguíneos pequenos. Os medicamentos também podem ser prescritos para aliviar a inquietação, depressão ou ajudar a pessoa a dormir melhor. Todavia, nada melhor do que mudar o estilo de vida para prevenir o surgimento do quadro de demência. Para tanto, efetuar uma dieta saudável, praticar exercícios físicos e evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool podem diminuir o risco de futuros infartos.
Torna-se evidente, portanto, que para manter uma mente e cognição saudáveis, recomenda-se a prática de exercícios que estimulem as funções cognitivas, assim como atividades intelectuais e de interação social, para a promoção da melhora do humor e da qualidade de vida geral das pessoas idosas. idosas.
Referências consultadas:
DSM-V – AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM-V. Traduzido por Maria Inês Côrrea Nascimento. 5º ed. Artmed. 2014.
ENGELHARDT, Eliasz et al. Demência vascular. Critérios diagnósticos e exames complementares. Dementia & Neuropsychologia, v. 5, n. 1, p. 49-77, 2011.
por Cássia Elisa Rossetto Verga and Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva | jan 13, 2023 | Idosos e Famílias
A feminização da velhice enfatiza o acréscimo de número da população de mulheres idosas que cresceu nos últimos anos. Segundo estimativas da Divisão de População das Nações Unidas, até 2040, o número de idosos chegará a 54,2 milhões, o que representa 23,6% da população total do Brasil. Outros dados apontam que em 1980, o número de homens com 60 anos ou mais aumentou para 3,64 milhões e o número de mulheres chegou a 4 milhões. Ou seja, os números de mulheres idosas só tendem a aumentar nos próximos anos.
E por quê esse fato está ocorrendo?
Em geral, as mulheres tendem a se preocupar mais com a saúde, procurando mais tratamentos com especialistas e realizando exames preventivos. Não é algo que se possa generalizar, porém, um dos diversos estudos como o de Maximiano-Barreto et al., (2019) descreve que existem fatores genéticos: em que as mulheres têm cromossomos XX e os homens têm cromossomos XY. Com isso, os cromossomos X contém muitos genes que ajudam a prolongar a vida. Ou seja, caso um homem nasça com um problema no cromossomo X, a mulher possui uma “cópia de segurança” enquanto os homens não possuem essa “reserva”.
Outro fator são os hormônios: estrogênio, o hormônio sexual feminino, atua como “antioxidante” no corpo, impedindo o envelhecimento das células. Nos homens, é maior a produção de testosterona, que faz com que o corpo seja maior – e é responsável por características como a voz mais grave e o corpo mais peludo.
Outro fato importante é em relação aos comportamentos e ocupações: pelo instinto masculino e incentivo cultural, os homens tendem a agir com maior violência e também se arriscar mais do que as mulheres. Alguns comportamentos em relação ao uso de tabagismo e álcool são fortemente relacionados a esses incidentes de mortes (como por exemplo, acidentes de trânsito).
Além disso, alguns fatores genéticos, como já citado, podem atingir maior proporção de homens, tais como: doenças cardiovasculares, pulmonares e câncer de testículos e próstata. Lembrando novamente, que esses fatores têm influência genética e também do estilo de vida.
Nesse sentido, para que haja uma sobrevida masculina objetivando equilibrar as diferenças estatísticas já demarcadas na população, é importante que haja a promoção do envelhecimento saudável para todos os gêneros. Divulgar as campanhas de prevenção ao câncer de próstata, controle dos fatores de risco para doenças cardiovasculares que são mais prevalentes em homens é indispensável para
As mulheres tendem a desenvolver problemas de saúde mental – como depressão, ansiedade e estresse – em proporções maiores do que homens. Esse é um dos motivos pelos quais as mulheres podem desenvolver declínios cognitivos e até quadros demenciais. Fatores hormonais também estão associados aos riscos cognitivos, como a menopausa e o surgimento de câncer de mama, por exemplo.
Entretanto, ainda assim não se pode generalizar esses fatores, pois é possível viver com maior qualidade de vida a depender das atitudes em relação ao estilo de vida, tanto para homens quanto para mulheres.
É importante frisar que essas ocorrências não descartam a possibilidade de que as mulheres estão envelhecendo com qualidade de vida. Apesar de existirem políticas públicas em defesa das mulheres, em muitas sociedades e até no mundo corporativo a mulher envelhecida na sociedade capitalista é identificada como “inútil” ao capital, manifestando com isso preconceitos, estigmas, negligência e abandono.
Logo, reitera-se a importância da discussão sobre o gênero, sendo necessário ressaltar o protagonismo feminino que vem sendo construído ao longo dos anos por meio de lutas e resistências. E de fato, colocar as políticas públicas em ação e serem efetivas na população e em todos os eixos políticos.
Um dos desafios do processo de feminização é criar um espaço de convivência que incentive as mulheres idosas a participarem da vida social, evitar o isolamento e aumentar a autoestima e autonomia das mulheres. Além disso, programas de promoção do envelhecimento saudável também devem ser prioridade para ambos os sexos com o objetivo de viver bem e com qualidade de vida no processo da longevidade.
A vida dos homens importa!
Nesse sentido, para que haja uma sobrevida masculina objetivando equilibrar as diferenças estatísticas já demarcadas na população, é importante que haja a promoção do envelhecimento saudável para todos os gêneros. Divulgar as campanhas de prevenção ao câncer de próstata, controle dos fatores de risco para doenças cardiovasculares que são mais prevalentes em homens é indispensável para conscientizar a população masculina sobre os cuidados com a saúde. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem foi criada com foco nos homens dos 20 aos 59 anos, com objetivo de ampliar o acesso com qualidade aos serviços do Sistema único de Saúde.
Por fim, é importante que os temas que perpassam o cotidiano das equipes de trabalho e da população assistida pela Atenção Básica sejam abordados segundo uma visão biopsicosociocultural do usuário, estimulando o diálogo necessário entre gênero, saúde e cultura (SCHWARZ, 2012).
Referências consultadas:
CEPELLOS, V.M. Feminização do envelhecimento: um fenômeno multifacetado muito além dos números. Rev. adm. empres. [online]. 2021, vol. 61, no. 2, e2019-0861.
MAXIMIANO-BARRETO, M. A.; ANDRADE, L.; CAMPOS, L. B. de; PORTES, F. A.; GENEROSO, F. K. A FEMINIZAÇÃO DA VELHICE: UMA ABORDAGEM BIOPSICOSSOCIAL DO FENÔMENO. Interfaces Científicas – Humanas e Sociais, [S. l.], v. 8, n. 2, p. 239–252, 2019. DOI: 10.17564/2316-3801.2019v8n2p239-252
SCHWARZ, Eduardo. Reflexões sobre gênero e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, p. 2581-2583, 2012.
por Cássia Elisa Rossetto Verga, Graciela Akina Ishibashi and Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva | set 27, 2022 | Idosos e Famílias
Tele-estimulação cognitiva para idosos e sua importância na prevenção de declínio cognitivo
Com a chegada da pandemia de Covid-19 no Brasil, a telemedicina passou a ser regulamentada no país sob Ofício do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1.756/2020 e a Portaria nº 476, de 20 de março de 2020. Nele o médico pode avaliar quando é realmente necessário realizar uma consulta presencial ou é possível fazer o acompanhamento virtual por meio da tele-estimulação cognitiva para idosos.
Dessa maneira, a efetuação de troca de receitas, acompanhamento de exames, sessões de terapia, entre outras situações, podem ser realizadas sem que o profissional e o paciente estejam no mesmo ambiente físico. Com isso, as teleconsultas tiveram um alcance muito maior durante o cenário pandêmico. Elas envolvem um conjunto de tecnologias utilizadas pelos profissionais: integrando, agilizando e facilitando a vida do paciente.
Nesse contexto, a pandemia trouxe a necessidade de repensarmos estratégias de avaliação e intervenções terapêuticas e desenvolvermos novas competências na área da saúde. A telereabilitação cognitiva, por exemplo, é uma metodologia que utiliza as tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) como estratégia para estimular as capacidades cognitivas através da interação do indivíduo com sistemas computacionais.
A intervenção cognitiva à distância visa promover potencialidades humanas, com ênfase em problemas cognitivos, em especial, em idosos que estão em um quadro clínico de comprometimento cognitivo leve, estágios de demências e realizando tratamentos pós-sequelas da Covid-19.
Ao participar de atividades de estimulação cognitiva, mesmo de forma remota, o idoso pode atrasar o início da perda de memória, aumentar a plasticidade cerebral, obter um bom desempenho cognitivo e promover um bem-estar emocional. A prática constante de tarefas com jogos, leituras e músicas, por exemplo, pode fortalecer as capacidades de interação social, melhorar o humor, a disposição mental e física, além de interferir positivamente na qualidade de vida da pessoa idosa. (CARVALHAIS, 2019).
Em seu estudo Cacciante e colaboradores analisaram e sintetizaram evidências sobre a eficácia da telereabilitação em pacientes com doenças neurológicas (acidente vascular cerebral, lesão cerebral traumática, comprometimento cognitivo leve etc ), em comparação com a reabilitação face a face convencional. Concluíram que as melhorias no desempenho cognitivo obtidas pela telereabilitação são comparáveis àquelas alcançadas frente a frente, e apresenta ser mais eficiente na melhoria da memória operacional e funções executivas.
Veja algumas vantagens e desvantagens da tele-estimulação cognitiva para idosos:
Vantagens da tele-estimulação cognitiva para idosos:
- Tempo de viagem abreviado;
- Redução de custos e acesso a serviços, especialmente para a população carente e para pacientes com deficiências motoras que influenciam negativamente sua mobilidade e sua capacidade de chegar aos centros de reabilitação.
Desvantagens da tele-estimulação cognitiva para idosos:
- As deficiências auditivas e visuais podem interferir em alguns aspectos da logística de telecomunicações, como qualidade ou clareza visual;
- A ausência de domínios tecnológicos pode prejudicar ou impossibilitar a estimulação cognitiva no contexto remoto.
É relevante destacar o valor das intervenções de tele-estimulação cognitiva baseada na perspectiva ampla da Gerontologia e de outros profissionais. Eles partem da importância do bem-estar do idoso, ainda que em condições adaptadas, e levam em conta o incentivo das potencialidades de cada indivíduo o que torna real a possibilidade de manutenção e melhoria das capacidades cognitivas.
Referências bibliográficas
BERNARDES, M. S.; RAYMUNDO, T. M.; SANTANA, Carla da Silva. O uso das novas tecnologias na reabilitação cognitiva: uma revisão da literatura. Anais, 2014. Disponível em: https://www.canal6.com.br/cbeb/2014/artigos/cbeb2014_submission_343.pdf. Acesso em: 01 dez. 2021.
CACCIANTE, Luisa et al. Cognitive telerehabilitation in neurological patients: systematic review and meta‑analysis. NeurologicalSciences, p. 1-16, 2021. Disponível em https://link.springer.com/article/10.1007/s10072-021-05770-6. Acesso em: 02 dez. 2021.
CARVALHAIS, Maribel et al. Efeitos de um programa de estimulação cognitiva no funcionamento cognitivo de idosos institucionalizados. Revista de Investigação & Inovação em Saúde, v. 2, n. 2, p. 19-28, 2019. Disponível em: https://riis.essnortecvp.pt/index.php/RIIS/article/view/54. Acesso em: 02 dez. 2021.