A feminização da velhice enfatiza o acréscimo de número da população de mulheres idosas que cresceu nos últimos anos. Segundo estimativas da Divisão de População das Nações Unidas, até 2040, o número de idosos chegará a 54,2 milhões, o que representa 23,6% da população total do Brasil. Outros dados apontam que em 1980, o número de homens com 60 anos ou mais aumentou para 3,64 milhões e o número de mulheres chegou a 4 milhões. Ou seja, os números de mulheres idosas só tendem a aumentar nos próximos anos.

 

E por quê esse fato está ocorrendo?

 

Em geral, as mulheres tendem a se preocupar mais com a saúde, procurando mais tratamentos com especialistas e realizando exames preventivos. Não é algo que se possa generalizar, porém, um dos diversos estudos como o de Maximiano-Barreto et al., (2019) descreve que existem fatores genéticos: em que as mulheres têm cromossomos XX e os homens têm cromossomos XY. Com isso, os cromossomos X contém muitos genes que ajudam a prolongar a vida. Ou seja, caso um homem nasça com um problema no cromossomo X, a mulher possui uma “cópia de segurança” enquanto os homens não possuem essa “reserva”.

Outro fator são os hormônios: estrogênio, o hormônio sexual feminino, atua como “antioxidante” no corpo, impedindo o envelhecimento das células. Nos homens, é maior a produção de testosterona, que faz com que o corpo seja maior – e é responsável por características como a voz mais grave e o corpo mais peludo.

Outro fato importante é em relação aos comportamentos e ocupações: pelo instinto masculino e incentivo cultural, os homens tendem a agir com maior violência e também se arriscar mais do que as mulheres. Alguns comportamentos em relação ao uso de tabagismo e álcool são fortemente relacionados a esses incidentes de mortes (como por exemplo, acidentes de trânsito).

Além disso, alguns fatores genéticos, como já citado, podem atingir maior proporção de homens, tais como: doenças cardiovasculares, pulmonares e câncer de testículos e próstata. Lembrando novamente, que esses fatores têm influência genética e também do estilo de vida.

Nesse sentido, para que haja uma sobrevida masculina objetivando equilibrar as diferenças estatísticas já demarcadas na população, é importante que haja a promoção do envelhecimento saudável para todos os gêneros. Divulgar as campanhas de prevenção ao câncer de próstata, controle dos fatores de risco para doenças cardiovasculares que são mais prevalentes em homens é indispensável para

As mulheres tendem a desenvolver problemas de saúde mental – como depressão, ansiedade e estresse – em proporções maiores do que homens. Esse é um dos motivos pelos quais as mulheres podem desenvolver declínios cognitivos e até quadros demenciais. Fatores hormonais também estão associados aos riscos cognitivos, como a menopausa e o surgimento de câncer de mama, por exemplo.

Entretanto, ainda assim não se pode generalizar esses fatores, pois é possível viver com maior qualidade de vida a depender das atitudes em relação ao estilo de vida, tanto para homens quanto para mulheres.

É importante frisar que essas ocorrências não descartam a possibilidade de que as mulheres estão envelhecendo com qualidade de vida. Apesar de existirem políticas públicas em defesa das mulheres, em muitas sociedades e até no mundo corporativo a mulher envelhecida na sociedade capitalista é identificada como “inútil” ao capital, manifestando com isso preconceitos, estigmas, negligência e abandono.

Logo, reitera-se a importância da discussão sobre o gênero, sendo necessário ressaltar o protagonismo feminino que vem sendo construído ao longo dos anos por meio de lutas e resistências. E de fato, colocar as políticas públicas em ação e serem efetivas na população e em todos os eixos políticos.

Um dos desafios do processo de feminização é criar um espaço de convivência que incentive as mulheres idosas a participarem da vida social, evitar o isolamento e aumentar a autoestima e autonomia das mulheres. Além disso, programas de promoção do envelhecimento saudável também devem ser prioridade para ambos os sexos com o objetivo de viver bem e com qualidade de vida no processo da longevidade.

 

A vida dos homens importa!

 

Nesse sentido, para que haja uma sobrevida masculina objetivando equilibrar as diferenças estatísticas já demarcadas na população, é importante que haja a promoção do envelhecimento saudável para todos os gêneros. Divulgar as campanhas de prevenção ao câncer de próstata, controle dos fatores de risco para doenças cardiovasculares que são mais prevalentes em homens é indispensável para conscientizar a população masculina sobre os cuidados com a saúde. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem foi criada com foco nos homens dos 20 aos 59 anos, com objetivo de ampliar o acesso com qualidade aos serviços do Sistema único de Saúde.

Por fim, é importante que os temas que perpassam o cotidiano das equipes de trabalho e da população assistida pela Atenção Básica sejam abordados segundo uma visão biopsicosociocultural do usuário, estimulando o diálogo necessário entre gênero, saúde e cultura (SCHWARZ, 2012).

 

Referências consultadas:

 

CEPELLOS, V.M. Feminização do envelhecimento: um fenômeno multifacetado muito além dos números. Rev. adm. empres. [online]. 2021, vol. 61, no. 2, e2019-0861.

MAXIMIANO-BARRETO, M. A.; ANDRADE, L.; CAMPOS, L. B. de; PORTES, F. A.; GENEROSO, F. K. A FEMINIZAÇÃO DA VELHICE: UMA ABORDAGEM BIOPSICOSSOCIAL DO FENÔMENO. Interfaces Científicas – Humanas e Sociais, [S. l.], v. 8, n. 2, p. 239–252, 2019. DOI: 10.17564/2316-3801.2019v8n2p239-252

SCHWARZ, Eduardo. Reflexões sobre gênero e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, p. 2581-2583, 2012.

Sobre o autor:

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Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020. Articulista do Portal Trevoo.

Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera. Articulista do Portal Trevoo.

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