por Dra. Monira Samaan Kallás | out 16, 2023 | Idosos e Famílias
Você já escovou seus dentes hoje? Já usou o fio dental? Ou está neste momento chupando uma bala ou um chiclete de hortelã para disfarçar o bafo de onça?
Você já pagou bem caro por um tratamento dentário e depois de três ou quatro anos teve cáries novamente ou perdeu implantes dentários, por exemplo?
Leitor querido, este artigo tem o objetivo de provocá-lo no que se refere ao autocuidado em saúde bucal e a cuidados que oferecemos a pacientes dependentes.
Um dos meus maiores desafios no dia a dia é “convencer” cuidadores da importância da higiene bucal. Cáries, inflamação gengival, mau hálito, candidíase e perda de dentes são os problemas mais comuns na cavidade bucal. E sua prevenção é simples: h á b i t o s d e h i g i e ne. E não nos faltam artifícios para isso: temos uma gama de escovas, pastas, fios e fitas, e bochechos.
Escovas macias são as mais recomendadas porque, além de limpar os dentes, também limpam e massageiam a gengiva. E temos as interdentais indicadas para próteses onde os dentes estão grudados ou quando os dentes apresentam separações grandes, onde o fio ou a fita “dançam”, sem conseguir limpar o espaço de forma adequada.
Sobre a gama de bochechos existentes, vale lembrar que para serem efetivos, devem ter indicações específicas para cada tipo de problema bucal: inflamação gengival (geralmente antinflamatórios ou à base de clorexidina), cáries (bochechos à base de flúor) ou boca seca (bochechos para hidratação).
Para pacientes dependentes há escovas de dentes elétricas e abridores de boca. Estes últimos são bastante úteis para proteger cuidadores de mordidas ou movimentos involuntários de abertura e fechamento da boca.
Muito bem, hábitos saudáveis são presentes que damos a nós mesmos todos os dias: e vão desde tomar água, evitar doces, fumo e fazer atividade física. E para a saúde bucal não é diferente.
Uma ideia que dou aos pacientes e aos cuidadores é associar a higiene bucal a algo da rotina. Podemos associar o escovar dos dentes ao término do banho, de manhã ou à noite. Durante o dia pode-se associar ao término de uma refeição.
E, automaticamente, quando cuidamos de nós, conseguimos cuidar do outro.
Estudos mostram que crianças com problemas bucais tem pais com problemas bucais, por exemplo. E muitas vezes não é diferente de cuidadores e seus pacientes. Assim, queridos leitores, mãos à obra: corre lá no banheiro e dá uma geral nessa boca. E na boca que você cuida também!!!
Observação: a onça é um animal carnívoro que se lambuza bastante na hora de comer a caça. Por esta razão, fede muito e sua presença é detectada à distância na mata. Assim, pessoas que possuem o hálito fétido passaram a ser chamadas de “bafo de onça”.
por Dra. Monira Samaan Kallás | nov 12, 2021 | Idosos e Famílias
Quem perdeu todos os dentes precisa de higiene bucal?
Sim. A boca é composta de lábios, língua (superfície e dorso), céu da boca, bochechas do lado de dentro e dentes.
Como escovar uma dentadura?
Pode fazer a higiene com uma escova de dente, macia e sabão neutro, como os de bebê. E também pode ser com detergente neutro. Apesar de intuitivo, as pastas de dentes podem deixar a resina das próteses mais porosas.
Tirar as dentaduras para dormir a noite por quê?
Sim. A gente também tira os sapatos para dormir, por mais que sejam confortáveis como os chinelinhos de pano. No caso das próteses móveis ou dentaduras, é indicada a remoção para evitar proliferação de microrganismos, principalmente fungos. Além disso, também para evitar compressão desnecessária dos tecidos da boca em quem tem bruxismo ou apertamento, por exemplo. Lave-as, e coloque em um recipiente com água filtrada que deve ser trocada na noite seguinte.
Perder os dentes faz parte do envelhecimento?
Não. Culturalmente nos acostumamos com a ideia de que os dentes estragam ao longo da vida e devem ser removidos. É um engano. O certo é aprender a ter hábitos diários simples como escovar os dentes, passar o fio dental e administrar o consumo de doces.
Quem usa sonda e não come mais pela boca precisa de higiene bucal?
Sim. Vou também responder com uma pergunta: quem não anda mais precisa lavar os pés ou tomar banho todos os dias?
Os microrganismos da boca se proliferam mesmo sem comermos. Além disso, o comum é que as secreções do trato respiratório voltem e façam crostas na cavidade bucal. A higiene colabora também para a prevenção de pneumonia por broncoaspiração de conteúdo contaminado.
Mas minha paciente morde meu dedo quando vou escovar seus dentes, como é que vou fazer?
Há dispositivos prontos no mercado, que são os mordedores de borracha. E também podemos fazer “bonecas”, que são palitos de madeira empilhados e com a ponta envolta com gaze e esparadrapo. Eles dão apoio para manter o paciente com a boca aberta para a realização da higiene.
Há também dispositivos facilitadores como escovas de dente elétricas, fio dental forquilha e escovas interdentais.
Cuidar do outro é inerente de profissionais que escolheram dedicar suas vidas a esses pacientes. Dar banho, administrar medicamentos, virar na cama para prevenir escaras, levar para tomar sol, cortar as unhas e acompanhar o dia todo são atividades da rotina dos cuidadores. As tarefas bucais são escovar os dentes, limpar a língua, as bochechas pelo lado de dentro, o céu da boca e manter os lábios hidratados.
E a partir disso faço-lhes uma provocação odontológica: “como é que vocês cuidam da saúde bucal de vocês? Escovam seus dentes, usam fio dental, já perderam dentes? Usam próteses?“
Essas reflexões têm o objetivo de nos fazer lembrar a importância de dar a nós mesmos o que damos ao outro, em todos os aspectos.
E assim finalizo: “ Eu cuido melhor do outro quando cuido de mim”.
por Dra. Monira Samaan Kallás | maio 5, 2021 | Idosos e Famílias
Dra. Débora atendia Sr. João há 16 anos. Ele não era o paciente mais exemplar do mundo no que se refere a auto cuidados em saúde bucal. Fora vítima de uma época em que a Odontologia Preventiva não tinha espaço. Profissionais e pacientes estavam acostumados com extrações dentárias e não tratamentos.
Sr. João, aos seus 48 anos, já usava com uma dentadura superior, comia muitos doces e tinha 14 dentes inferiores restaurados. Ao completar 55 anos começou a se tratar com Dra. Débora e entendeu a importância do autocuidado em saúde bucal. Ela era muito dedicada e sempre explicava como escovar e limpar a dentadura.
Dedicada aos seus pacientes, durante os três primeiros anos de atendimento, semestralmente, Dra. Débora chamava Sr. João ao consultório para um check up. O procedimento era sempre o mesmo: fazia uma bela profilaxia, removia cálculo (tártaro) e elogiava: “parabéns, sem nenhuma cárie ou inflamação, pode voltar daqui a um ano.”
E assim se foram mais 5 anos…
Porém, sr. João, já aos 63 anos, e Débora o acompanhando há oito, ouve um discurso diferente, no retorno ao consultório “- Sr. João, é precisa escovar melhor os dentes, devido ao sangramento gengival, e há dentes moles, o que é novo em nossas consultas. Já perdeu tantos dentes por não escová-los, logo o senhor que sempre foi tão cuidadoso!”
A importância do olhar atento dos dentistas sobre a relação bidirecional entre saúde bucal e doenças no corpo
Sr. João tinha um grande apreço por Débora e não insistiu que estava se cuidando. Conforme solicitado, voltou quinzenalmente e a inflamação não diminuía. Porém, o que Débora nem suspeitava é que, somado ao quadro bucal e à história de grande consumo de doces, o Sr. João estava apresentando alguns sintomas novos: perda de peso, tomava muita água, ía muitas vezes ao banheiro à noite e estava com a visão embaçada, o que já não lhe permitia uma boa higiene bucal. Realmente aparentando ser um caso de saúde bucal e doenças no corpo.
Este foi o start para Débora, que dedicara seus 8 anos de formada à ser uma dentista técnica, acreditando que seus pacientes só tinham boca, começar a pensar diferente
Sr João estava com diabetes, portanto, não era má escovação. A descoberta veio por Cora, uma colega dentista que examinou o Sr. João, colheu sua história e pediu exames laboratoriais para descobrir se a condição bucal nova tinha só causas locais. Os resultados mostraram alteração nos exames do metabolismo do açúcar.
Cora explicou para Débora que, muitas vezes, o dentista é o profissional da área da saúde que está mais próximo do paciente e pode ser muito importante na hora de encaminhá-lo para o médico. Neste caso, conduziu o diagnóstico e o início do tratamento de diabetes.
A partir daí começou uma nova carreira para Débora. Ela estudou, fez cursos para entender as complicações bucais que tem relação com doenças gerais e vice-versa. Viu que todos seus pacientes tinham bocas e corpos associados. Não parou mais! Se apaixonou pela pesquisa e hoje é professora nesta área!
Um segredo… João é uma das pessoas mais importantes da vida de Débora. É seu avô!
por Dra. Monira Samaan Kallás | maio 4, 2021 | Idosos e Famílias
Prótese dentária, a importância de darmos atenção às funções dos nossos dentes.
Senhora Catarina vivia em uma Instituição de Longa Permanência (ILP*), conhecido como residencial para idosos, há um ano. Por motivos óbvios, como não era alimentada mais por via oral e pela elevada possibilidade de perda de sua prótese dentária (dentadura), estas foram entregues à sua família assim que ela foi admitida.
Apesar de entrar muda e sair calada, a senhora Catarina frequentava todas as atividades sociais do residencial: apresentações de música, aulas de artesanato, festa junina, entre outras.
A partir da observação de uma geriatra de que os residentes poderiam estar broncoaspirando por falta de cuidados bucais, um gestor que realmente se preocupava com as pessoas criou a equipe de odontologia, com fundos e recursos do residencial.
Em sua primeira semana de trabalho, Dr. Reinaldo pediu a prótese dentária da dona Catarina para a família e dividiu com os colegas – fonoaudiólogos e fisioterapeutas – a necessidade de seu uso para a fala adequada, além de manutenção da musculatura da face.
Todos ficaram surpresos ao ouvirem a voz da Sra. Catarina, pela primeira vez. Ela continuou sociabilizando, mas agora, ainda mais participativa: falava, cantava, contava seus casos….
Respondendo à pergunta que deu título a este artigo:
– Dentes, para que os quero?
Para falar e para comer. E, se eu não puder mais fazer isso, os quero sim, meus dentes. Para conversar e para sorrir!
Convido você a ler o artigo Saúde bucal e doenças no corpo, para descobrir através do Sr. João, a importância do olhar atento do dentista sobre a relação da saúde bucal e saúde geral do corpo.