O aumento global da expectativa de vida do ser humano resulta em uma população idosa, em ascensão, e crescente número de pessoas com comprometimento neurodegenerativo relacionados à idade e à demência trazendo grandes custos econômicos e emocionais.

Estima-se que haja 50 milhões de casos de demência ao redor do mundo, sendo a prevalência de 2 a 4% aos 65 anos de idade, crescendo a 15% aos 80 anos de idade.

Na falta de tratamento farmacológico para reduzir a progressão, ou mesmo reverter o quadro é necessário recorrermos aos métodos de prevenção relacionados ao estilo de vida representando uma promessa para os próximos anos.

Processo de envelhecimento natural como parte do ciclo da vida

O envelhecimento é considerado o período que sucede a fase da maturidade e é caracterizado pelo declínio das funções orgânicas e da capacidade funcional do indivíduo. Nesse período, o organismo sofre diversas alterações anatômicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, com repercussões sobre as condições de saúde.

Dentro desse contexto, o papel da nutrição vem ganhando destaque nos últimos anos, especialmente, com impacto na manutenção da saúde cerebral no processo de envelhecimento.

O desenvolvimento do cérebro acontece até 30 anos de idade, aproximadamente; posteriormente, um processo lento de atrofia se estabelece, com sinais clínicos de neuro degeneração, tipicamente, não acontece antes de uma idade mais avançada.

Esta trajetória parece ser determinada por uma rede complexa de fatores genéticos, endógenos e ambientais. Em função de sua lenta progressão há uma janela de oportunidade para intervenção com estratégias preventivas.

A nutrição tem sido identificada como uma promessa em patologias relacionadas ao envelhecimento como as doenças neurodegenerativas e demência.

A epidemiologia nutricional tem papel protetor de dietas saudáveis e de diversos nutrientes para o cérebro que envelhece.

Evidências sugerem que alguns nutrientes, em particular vitaminas, flavonoides e ácidos graxos ômega 3 têm potencial em afetar positivamente a função cognitiva. Mas além do foco em determinados nutrientes, alguns estudos apontam para uma abordagem com múltiplos nutrientes; outros focam em determinados tipos de dietas em função da complexidade das interações entre nutriente e alimento.

Envelhecimento e Alimentação: A dieta do Mediterrâneo

Dentre as dietas, a do Mediterrâneo tem sido estudada extensivamente no contexto do envelhecimento cerebral bem como em outras condições como doenças cardiovasculares e câncer.

A dieta do Mediterrâneo tem sua origem em culturas alimentares de países da bacia do mar Mediterrâneo. Embora existam muitas variantes desta dieta é, geralmente, caracterizada pela abundância de vegetais, frutas, cereais integrais, legumes, castanhas e sementes e o azeite de oliva é uma das principais fontes de gordura. Inclui quantidades moderadas de peixe e frango, carne vermelha em baixa quantidade e vinho, normalmente presente apenas nas refeições.

Evidências de estudos longitudinais e ensaios clínicos indicam que a adesão a este padrão está associada com melhores taxas na performance cognitiva e com menor risco no prejuízo cognitivo.

Uma versão da dieta Mediterrânea desenvolvida por um grupo de pesquisadores em 2015, deu origem a dieta MIND (Mediterranean- DASH Intervention for Neurodegenerative Delay).

A dieta MIND combina os princípios da dieta do Mediterrâneo com a dieta DASH (Dietary Approach to Stop Hypertension) desenvolvida para o tratamento de hipertensão. É caracterizada pela alta ingestão de frutas vermelhas, vegetais verdes folhosos e demais vegetais, aves, peixes, oleaginosas, leguminosas, grãos integrais e azeite de oliva extravirgem. Em contrapartida, carne vermelha, queijo, manteiga, margarina, “fastfood”, doces e massas estão presentes em quantidades muito baixas.

Esta dieta tem por objetivo reduzir a incidência de demência e o declínio da saúde cerebral. Vale mencionar que os ensaios, testando sua eficácia, ainda estão em andamento e os principais resultados são aguardados.

Adicionalmente, diversos estudos têm apontado que a adesão a outros fatores de estilo de vida como qualidade do sono, atividade física e envolvimento em atividades da cotidianas também foram relacionados com uma melhoria da função cognitiva.

Estes achados sugerem que seja feita uma abordagem com vários domínios, incorporando a dieta a outros promotores de saúde podendo otimizar efeitos benéficos na promoção da performance cognitiva e prevenção do declínio com a idade.

Desta forma, é necessário que haja um esforço no âmbito social para a elaboração de programas e políticas de prevenção que traduzam os resultados obtidos em pesquisas recentes e que também haja um incentivo da conscientização da população em relação a importância da nutrição para o bom envelhecimento, qualidade de vida e boa cognição.

Sobre o autor:

Gisele Leme
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Farmacêutica-Bioquímica graduada pela Universidade de São Paulo, com especialização em Ciência dos Alimentos. Graduada em Nutrição e Pós Graduada em Nutrição Clínica (Master of Science) pela New York University (NYU-EUA), registrada pela Comission of Dietetic Registration (Registered Dietitian-EUA), pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional pela VP Consultoria/Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduada em Fitoterapia e Alimentos Funcionais pela FAMATEC. Doutora em Ciência dos Alimentos e Nutrição Experimental pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).

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