Perda auditiva relacionada ao envelhecimento, também chamado de Presbiacusia, é uma doença degenerativa crônica complexa, uma das mais prevalentes em idosos e que afeta milhões de pessoas na Terra. Esta condição pode abranger as funções emocionais e sociais dos indivíduos e constitui em um grande desafio para a saúde pública.

 

Prevalência da perda auditiva

A prevalência da perda auditiva (presbiacusia) aumenta com a idade, uma característica comum de todas as doenças do envelhecimento. Os exames diagnósticos medem a sensibilidade auditiva a sons em diversas frequências e intensidades. Por exemplo, o som de um trovão possui frequência baixa (som grave), já aquele do raio é em uma frequência alta (som agudo).

A gravidade do problema é visualizada no gráfico do exame audiométrico, particularmente, relacionada à intensidade (volume) do som ouvido pelo paciente. Ao longo do envelhecimento, perde-se a capacidade de ouvir sons agudos e de baixa intensidade. A intensidade é medida em uma unidade chamada decibel. Pessoas sem comprometimento auditivo podem ouvir sons em baixos decibéis (até 25 dB), mas indivíduos que precisam de um volume maior, por exemplo, 35 dB, já apresentam comprometimento auditivo moderado. Essas pessoas encontram dificuldades em entender algumas conversas dependendo da distância que estão de quem fala. Indivíduos que apresentam comprometimento moderadamente severo só ouvem sons agudos em intensidade similar ao ruído produzido por um aspirador de pó. Pessoas com presbiacusia severa ouvem sons agudos em intensidade equivalente ao barulho produzido por uma motocicleta com escapamento que produz som fortemente agudo. Ou seja, um ruído ensurdecedor para um indivíduo sem presbiacusia.

 

Fatores de risco para perda auditiva

Entre os fatores de risco mais importantes destacam-se a exposição ao barulho, diabetes, tabagismo, histórico familiar, hipertensão arterial e uso de fármacos ototóxicos.

 

Exposição ao ruído favorece a perda auditiva

Exposição ao ruído de alta intensidade é o fator de risco mais comum. Audiometria que comparou pessoas que moram em grandes metrópoles com forte barulho de carros, trens, construção de prédios etc, com indivíduos que moram em cidades menores, onde há menos dessas fontes, mostrou que os indivíduos de cidades onde há menor ruído ouvem melhor e percebem sons em baixas intensidades (baixo volume).

 

Diabetes e Tabagismo são fatores para perda auditiva

O Diabetes e Tabagismo são fatores de risco para perda auditiva com o envelhecimento, porque afetam a saúde cardiovascular, mas essas condições podem ser controladas.

 

Histórico familiar

Há uma contribuição genética em alguns casos de presbiacusia. Identificaram-se centenas de genes que codificam para inúmeras proteínas celulares relacionadas à perda auditiva. A redução de função nessas proteínas é uma condição crônica que pode antecipar a presbiacusia em alguns indivíduos, mesmo nos que vivem em cidades de baixo nível de ruído e que não apresentam os demais fatores de risco.

 

Hipertensão arterial 

O comprometimento da função cardiovascular é fator de risco para a presbiacusia. A microvasculatura que compõe a porção sensorial da orelha, que permite a percepção sonora, é muito sensível ao aumento da pressão arterial e isso leva à perda progressiva da audição.

 

Medicamentos ototóxicos

Alguns medicamentos comprometem a função auditiva e seu uso crônico pode levar ao agravamento da presbiacusia. Por exemplo, antibióticos da classe dos aminoglicosídeos são ototóxicos; seu efeito danifica permanentemente a audição. Esses remédios são usados como a última opção para tratamento de infecções bacterianas e devem ser evitados.

 

O mecanismo Patológico

Fatores genéticos e diabetes podem levar à aterosclerose (acúmulo de colesterol nas artérias), comprometendo a função cardíaca. Tabagismo e aterosclerose reduzem a quantidade de oxigênio que é levada aos tecidos do corpo, uma condição denominada hipóxia. Ateroscerose também leva a um estado inflamatório crônico no indivíduo. Essa inflamação, juntamente com hipóxia e ruído excessivo são fatores que causam presbiacusia, porque juntos aumentam o estresse oxidativo das células. Substâncias ototóxicas como aminoglicosídeos também são capazes de gerar radicais livres nas células da cóclea, reduzindo sua sensibilidade aos sons. Ao longo do envelhecimento, o dano causado às células ciliares da cóclea acumula-se e a presbiacusia mostra-se mais pronunciada.

 

Prevenção para a perda auditiva

Controlar o diabetes e os níveis de colesterol plasmáticos diminuiria a inflamação e, adicionando-se o hábito de não fumar, reduziria a hipóxia que causa dano à cóclea. O estresse oxidativo causado pelos radicais livres pode ser reduzido com antioxidantes, presentes em diversos alimentos como brócolis, frutas cítricas (vitamina C),chá verde, uvas (resveratrol), tomates (licopeno) etc. A maioria dos compostos antioxidantes dos alimentos coloridos são solúveis em lipídeos e isso sugere oconsumo desses alimentos com alguma forma de lipídeo como azeite de oliva e queijos. Uma decisão mais cautelosa no uso de aminoglicosídeos para o tratamento de infecções bacterianas também poderia contribuir como forma de prevenção da presbiacusia.

 

Tratamento

O tratamento mais empregado para presbiacusia é amplificação do som, com uso de aparelhos auditivos adequados. Entretanto, a maiorias das pessoas que usam esses dispositivos relatam incômodo com relação à proximidade da fonte sonora. O aparelho não consegue adaptar-se a fontes sonoras que estão mais longe ou mais perto e isso causa desconforto que pode levar à baixa aderência a essa forma de tratamento. Portanto, é necessária uma longa adaptação dos pacientes com presbiacusia ao uso dos amplificadores sonoros.

 

Referências

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Sobre o autor:

Prof. Dr. José Ribamar dos Santos Ferreira Júnior
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Tem graduação em Química (1995) e doutorado em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (2001). Pós-doutorado na University of Texas Southwestern Medical Center at Dallas (2005) e no Instituto de Física de São Carlos (2006). Atualmente é professor doutor da Universidade de São Paulo, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades. Tem experiência na área de Bioquímica e Biologia Molecular, com ênfase em Comunicação entre Mitocôndria e Núcleo ao longo do Envelhecimento. Articulista do Portal Trevoo.

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