Existem alguns mitos que, tenho certeza, dificultam o diagnóstico e o tratamento das disfunções sexuais masculinas. E essas crenças trazem um peso que agrava o sofrimento que existe nestas situações.
- Homem está sempre pronto para o sexo.
- Homem que é homem não “falha”.
- Homem tem desejo em qualquer situação, com qualquer pessoa, em qualquer lugar.
- “Contar para o médico? De forma alguma! Que ele vai pensar de mim?”
- Ah, se não conseguir 2, 3, infinitas ereções seguidas, tem alguma coisa errada.
E por aí afora. E assim, muitas vezes quem leva o problema para o médico é a parceira. O machismo que permeia nossa sociedade dificulta essa conversa franca e necessária para a saúde sexual desse indivíduo, desse casal.
Mais uma vez, informação de qualidade é fundamental.
Quando o paciente chega a verbalizar o desconforto ou sofrimento associado a disfunções sexuais masculinas é porque a situação tornou-se insuportável. Ou então, a própria parceria deu um ultimato. “Ou você fala com seu médico ou eu vou falar!”. Ou ainda: “Se você não resolver o SEU problema, eu vou resolver o MEU. Vou embora”.
Lógico que não é o ideal. A consulta médica seja com o urologista ou o médico de referência, que pode ser um clínico, geriatra ou cardiologista é, geralmente, a oportunidade para essa conversa. Acolher, não julgar, facilitar a exposição do problema sempre com respeito e empatia. Essas atitudes são fundamentais para que esse paciente possa ser diagnosticado e encaminhado para o melhor tratamento.
Usamos as fases da resposta sexual, desejo, excitação e orgasmo para situar a disfunção, sempre considerando que é comum haver queixa relacionada a mais de uma fase.
Disfunções sexuais masculinas mais comuns e os tratamentos disponíveis
Ejaculação Precoce (EP)
- 30% dos homens apresentam EP.
- Pode ser ao longo da vida, quando presente desde o início da vida sexual, com todas as parcerias e na grande maioria das relações, ou adquirida.
- Definida como dificuldade de controlar pelo tempo desejado a ejaculação com sofrimento associado.
- Associa-se a ansiedade de desempenho, baixa autoestima, dificuldade para estabelecer vínculos.
- Tratamento medicamentoso com antidepressivos, tramadol, anestésicos locais.
- Start stop, que se baseia na interrupção do estímulo excitatório quando houver a percepção de que a ejaculação se aproxima. Após a diminuição da excitação, retoma-se o estímulo. Essa técnica “treina” um maior controle da ejaculação.
- Squeeze, que seria a compressão da glande por alguns segundos quando o homem percebe que vai ejacular. Repete-se o processo até haver retardo na ejaculação.
- Terapia sexual.
Disfunção erétil (DE)
- Dificuldade recorrente ou persistente de obter ou manter uma ereção suficiente para desempenho sexual satisfatório, por tempo maior que 6 meses e na grande maioria das ocasiões.
- 40 a 50% dos homens acima de 60 anos se queixam de DE e é uma situação que gera intenso sofrimento com impacto na qualidade de vida.
- Alguns medicamentos podem provocar DE bem como o abuso de álcool, drogas e o tabagismo. Algumas doenças cursam com DE, como aterosclerose, diabetes, insuficiência renal ou hepática. Pode ser desencadeada por cirurgia na próstata, por radioterapia e por deficiência de testosterona.
- Pode ser predominantemente orgânica ou psicogênica.
- O tratamento medicamentoso é a primeira escolha, havendo várias opções disponíveis, cada uma com seus prós e contras. Os mais usados são a Sildenafila (Viagra), a Vardenafila(Levitra) e a Tadalafila ( Cialis).
- Injeção no pênis de substâncias que provocam a ereção, como a prostaglandina E1, a papaverina e a fentolamina.
- Dispositivos a vácuo para provocar a ereção.
- Em algumas situações, o recurso da prótese peniana pode ser necessário.
- Reposição de testosterona.
- Psicoterapia, com destaque para terapia cognitivo comportamental.
Desejo sexual hipoativo
- Deficiência ou ausência persistente ou recorrente de desejo e fantasia sexual levando a sofrimento e dificuldades interpessoais.
- Menos comum no homem que na mulher, com incidência crescente ao longo da vida, podendo chegar a quase 5% nos indivíduos acima de 60 anos.
- Medicamentos podem interferir no desejo, como os antidepressivos e alguns anti-hipertensivos, além de abuso de álcool e drogas.
- Importante a avaliação clínica para descartar diminuição dos hormônios da tireóide, diminuição da testosterona e depressão.
- Lembrar que o envelhecimento cursa com diminuição de testosterona e pode justificar diminuição do desejo.
- Várias situações de ordem afetiva podem levar ao desejo hipoativo, como ansiedade, estresse pós-traumático, luto, cansaço, estresse.
- O tratamento depende da causa e pode envolver medicamentos, como a reposição de testosterona, antidepressivos e psicoterapia.
Finalizando, gostaria de dizer que o primeiro passo rumo à solução é o diagnóstico adequado. Para isso, é necessário que os homens se sintam motivados e confortáveis para abordar suas dificuldades sexuais. E o médico deve estar capacitado para ouvir e encaminhar essas queixas, oferecendo informações e opções de tratamento que, na maioria das vezes, envolvem medicamentos e psicoterapia.
Sobre o autor:
Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso! Colunista do Portal Trevoo.
@lulubarduco