Existem alguns mitos que, tenho certeza, dificultam o diagnóstico e o tratamento das disfunções sexuais masculinas. E essas crenças trazem um peso que agrava o sofrimento que existe nestas situações.

  1. Homem está sempre pronto para o sexo.
  2. Homem que é homem não “falha”.
  3. Homem tem desejo em qualquer situação, com qualquer pessoa, em qualquer lugar.
  4. “Contar para o médico? De forma alguma! Que ele vai pensar de mim?”
  5. Ah, se não conseguir 2, 3, infinitas ereções seguidas, tem alguma coisa errada.

E por aí afora. E assim, muitas vezes quem leva o problema para o médico é a parceira. O machismo que permeia nossa sociedade dificulta essa conversa franca e necessária para a saúde sexual desse indivíduo, desse casal.

Mais uma vez, informação de qualidade é fundamental.

Quando o paciente chega a verbalizar o desconforto ou sofrimento associado a disfunções sexuais masculinas é porque a situação tornou-se insuportável. Ou então, a própria parceria deu um ultimato. “Ou você fala com seu médico ou eu vou falar!”. Ou ainda: “Se você não resolver o SEU problema, eu vou resolver o MEU. Vou embora”.

Lógico que não é o ideal. A consulta médica seja com o urologista ou o médico de referência, que pode ser um clínico, geriatra ou cardiologista é, geralmente, a oportunidade para essa conversa. Acolher, não julgar, facilitar a exposição do problema sempre com respeito e empatia. Essas atitudes são fundamentais para que esse paciente possa ser diagnosticado e encaminhado para o melhor tratamento.

Usamos as fases da resposta sexual, desejo, excitação e orgasmo para situar a disfunção, sempre considerando que é comum haver queixa relacionada a mais de uma fase.

Disfunções sexuais masculinas mais comuns e os tratamentos disponíveis

Ejaculação Precoce (EP)

  • 30% dos homens apresentam EP.
  • Pode ser ao longo da vida, quando presente desde o início da vida sexual, com todas as parcerias e na grande maioria das relações, ou adquirida.
  • Definida como dificuldade de controlar pelo tempo desejado a ejaculação com sofrimento associado.
  • Associa-se a ansiedade de desempenho, baixa autoestima, dificuldade para estabelecer vínculos.
  • Tratamento medicamentoso com antidepressivos, tramadol, anestésicos locais.
  • Start stop, que se baseia na interrupção do estímulo excitatório quando houver a percepção de que a ejaculação se aproxima. Após a diminuição da excitação, retoma-se o estímulo. Essa técnica “treina” um maior controle da ejaculação.
  • Squeeze, que seria a compressão da glande por alguns segundos quando o homem percebe que vai ejacular. Repete-se o processo até haver retardo na ejaculação.
  • Terapia sexual.

Disfunção erétil (DE)

  • Dificuldade recorrente ou persistente de obter ou manter uma ereção suficiente para desempenho sexual satisfatório, por tempo maior que 6 meses e na grande maioria das ocasiões.
  • 40 a 50% dos homens acima de 60 anos se queixam de DE e é uma situação que gera intenso sofrimento com impacto na qualidade de vida.
  • Alguns medicamentos podem provocar DE bem como o abuso de álcool, drogas e o tabagismo. Algumas doenças cursam com DE, como aterosclerose, diabetes, insuficiência renal ou hepática. Pode ser desencadeada por cirurgia na próstata,  por radioterapia e por deficiência de testosterona.
  • Pode ser predominantemente orgânica ou psicogênica.
  • O tratamento medicamentoso é a primeira escolha, havendo várias opções disponíveis, cada uma com seus prós e contras. Os mais usados são a Sildenafila (Viagra), a Vardenafila(Levitra) e a Tadalafila ( Cialis).
  • Injeção no pênis de substâncias que provocam a ereção, como a prostaglandina E1,  a papaverina e a fentolamina.
  • Dispositivos a vácuo para provocar a ereção.
  • Em algumas situações, o recurso da prótese peniana pode ser necessário.
  • Reposição de testosterona.
  • Psicoterapia, com destaque para terapia cognitivo comportamental.

Desejo sexual hipoativo

  • Deficiência ou ausência persistente ou recorrente de desejo e fantasia sexual levando a sofrimento e dificuldades interpessoais.
  • Menos comum no homem que na mulher, com incidência crescente ao longo da vida, podendo chegar a quase 5% nos indivíduos acima de 60 anos.
  •  Medicamentos podem interferir no desejo, como os antidepressivos e alguns anti-hipertensivos, além de abuso de álcool e drogas.
  • Importante a avaliação clínica para descartar diminuição dos hormônios da tireóide, diminuição da testosterona e depressão.
  • Lembrar que o envelhecimento cursa com diminuição de testosterona e pode justificar diminuição do desejo.
  • Várias situações de ordem afetiva podem levar ao desejo hipoativo, como ansiedade, estresse pós-traumático, luto, cansaço, estresse.
  • O tratamento depende da causa e pode envolver medicamentos, como a reposição de testosterona, antidepressivos e psicoterapia.

Finalizando, gostaria de dizer que o primeiro passo rumo à solução é o diagnóstico adequado. Para isso, é necessário que os homens se sintam motivados e confortáveis para abordar suas dificuldades sexuais. E o médico deve estar capacitado para ouvir e encaminhar essas queixas, oferecendo informações e opções de tratamento que, na maioria das vezes, envolvem medicamentos e psicoterapia.

Sobre o autor:

Dra. Luciene Miranda Barduco
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Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso! Colunista do Portal Trevoo.
@lulubarduco

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