Acredito que o aprendizado se constrói pela interação da informação com o meio em que o indivíduo se insere, sua cultura, troca de experiências e vivências. Também sobre sexo  aprendemos continuamente ao longo da vida. Será? Deveria ser, tenho certeza. Ter curiosidade e interesse pelo assunto é muito importante, mas não é suficiente. Evoluir, aprender, praticar, inserir o sexo no nosso cotidiano e não deixá-lo num lugar distante, quase um acessório para ser usado em ocasiões especiais, é essencial. Essas ideias facilitam a vivência saudável da sexualidade, independente de parceria ou fase da vida.

Sexo funcional é o que acontece sem dor, sem desconforto, com satisfação. Na disfunção ocorre sofrimento, angústia.

 

Disfunções sexuais

Didaticamente dividimos as disfunções sexuais quanto à época do surgimento em primária “doutora, sempre foi assim” e secundária, quando aparece em um momento mais tardio, muitas vezes associado a um evento pontual “doutora, até meu marido me trair, eu sentia desejo”.

Também a duração da queixa importa. “Doutora, semana passada tivemos relação e eu não senti prazer” é diferente de “doutora, faz meses, anos, que não sinto prazer”. De modo geral, se a queixa existe por pelo menos seis meses consecutivos, devemos investigar de forma mais detalhada.

 

Queixas mais comuns que recebo em meu consultório

  1. Diminuição do desejo, principalmente o espontâneo. No texto anterior abordei o nosso ciclo de resposta sexual. Vale reler!

Às vezes, a falta de desejo é generalizada e pode indicar alguma doença sistêmica, como depressão, hipotireoidismo ou uso de algum medicamento, especialmente antidepressivos.

“Não sinto vontade de fazer coisa alguma” é diferente de “doutora, tenho disposição para tudo, menos para o sexo”.

  1. Transtorno de excitação. Na verdade, para nós mulheres, desejo e excitação se sobrepõem. Procure manter sua atenção na atividade sexual, evite pensamentos desviantes.
  2. Disfunção do orgasmo. Somente com a parceria? Ou mesmo na masturbação você não consegue sentir prazer?
  3. Dor associada à relação sexual. Todas as vezes, eventualmente? E para ser examinada, ou para ser tocada sem penetração, também dói? Dor, desconforto eventualmente é diferente de “doutora, não consigo ter penetração. Parece que minha vagina está fechada”. Procuramos diferenciar a dispareunia, que é dor à penetração, do vaginismo, quando não é possível qualquer tipo de penetração. Algumas mulheres apresentam dor na região externa, na vulva, a chamada vulvodínia.

As disfunções sexuais mais comuns para os homens

  1. Diminuição ou inibição do desejo, que muitas vezes se associa a estresse, dificuldades com a parceria, uso de alguns medicamentos. Menos frequente é o excesso de desejo, que pode ou não caracterizar uma compulsão.
  2. Disfunção erétil, ou seja, dificuldade para manter a ereção por tempo suficiente para permitir a penetração. É mais comum nos homens com mais idade e se associa a alguns hábitos, como tabagismo, abuso de álcool, a algumas condições clínicas, como diabetes, doença aterosclerótica e ao uso de alguns medicamentos.
  3. Ejaculação precoce é a situação mais frequente e tende a ser mais comum em homens jovens, principalmente no início da vida sexual. A ansiedade tem papel importante na sua gênese.
  4. Dor associada à penetração ou à ejaculação.
  5. Ausência de orgasmo

Vale lembrar que essa classificação tem valor didático e, na prática, muitas vezes existe a associação de várias queixas e uma disfunção pode causar o aparecimento de outra. Por exemplo, um homem com disfunção erétil pode desenvolver diminuição do desejo, numa tentativa muitas vezes inconsciente de evitar uma situação que o coloque frente à sua disfunção.

 

Uma mulher com dor à relação sexual pode desenvolver diminuição do desejo e da excitação.

Outro dado interessante é haver com frequência parcerias disfuncionais. Por exemplo, o homem com ejaculação precoce muitas vezes se relaciona com uma mulher com diminuição do desejo.

Entender que essas queixas são frequentes e muitas vezes negligenciadas em uma consulta de rotina é apenas o início da jornada. Procure se informar e lembre-se de que o sigilo médico garante sua privacidade. Busque ajuda!

Sobre o autor:

Dra. Luciene Miranda Barduco
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Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso! Colunista do Portal Trevoo.
@lulubarduco

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