Uma das queixas mais frequentes que surgem no consultório dos médicos neurologistas e geriatras é o esquecimento. O temor mais comum de quem procura o consultório por esse motivo é estar com doença de Alzheimer.

Será que é comum ficarmos mais esquecidos conforme envelhecemos?

Não é necessário ter passado dos cinquenta ou sessenta anos para evocar facilmente aquela típica situação de querer lembrar o nome de um artista de cinema, atriz de novela ou, até mesmo, de determinada rua e, não conseguir… No entanto, passados alguns minutos (tá certo, às vezes são muitos minutos…), eis que o nome surge.

A analogia que mais se presta a explicar esses pequenos lapsos de memória, embora seja algo rudimentar, é comparar o nosso cérebro à memória de um computador. Todos nós sabemos que conforme o computador vai sendo usado e seu disco rígido é ocupado por informações que armazenamos, ele vai ficando cada mais lento e a velocidade de processamento de informações diminui.

É comum ouvirmos essas frases:

– ah, mas eu tinha uma memória de elefante

– eu sempre fui reconhecido por ter uma memória prodigiosa

– entre outras frases tão conhecidas.

Imagine a quantidade de situações que já foram vivenciadas por um indivíduo de 60 anos: pessoas que conheceu (e que segue conhecendo, claro), lugares que visitou, ocasiões festivas e outras não tão festivas assim, viagens, empregos, endereços e assim por diante?

Agora, voltamos à comparação com o disco rígido relativamente “vazio” de um jovem de 20 anos: é fácil entender a diferença no desempenho da memória entre os dois.

Ganhamos, por um lado, enriquecendo o cérebro com as nossas experiências de vida, mas pagamos um preço por isso: a memória um pouco mais lenta.

No entanto, de fato, existem  algumas situações que passam do esquecimento por “HD cheio” para um problema mais sério que deverá ser bem esmiuçado.

Qual o limite entre um esquecimento trivial e aquele que preocupa?

Há algumas pistas que são indicativas da necessidade de investigação. Por exemplo, quando os esquecimentos passam a prejudicar ou colocar em risco a pessoa: esquecer o fogão aceso reiteradamente, perder-se em trajeto habitual, tomar o remédio prescrito em dose dobrada ou não tomá-lo.

Outra queixa bastante frequente por parte dos familiares é que o indivíduo se tornou “muito repetitivo” e, aqui está o elemento primordial, não tem crítica de estar assim: ele repete várias vezes a mesma coisa (uma história ou uma pergunta) mas tem a convicção de que sempre é a primeira vez.

Mas nem tudo são más notícias!

Estima-se que até 30% de todas as queixas de dificuldade com a memória sejam provocadas por situações potencialmente reversíveis, tais como distúrbios de humor (a depressão, por exemplo), disfunção da tireoide, déficits vitamínicos específicos e efeito colateral de medicamentos, para citar apenas algumas.

E, para aqueles que querem minimizar o risco de problemas de memória, a melhor atitude é ter um estilo de vida saudável e tratar daquelas doenças que podem colocar o cérebro em risco:

7 sugestões que você pode adotar no seu dia a dia:

      1. Controle a pressão alta (hipertensão arterial)
      2. Acompanhe os níveis de açúcar e colesterol no sangue
      3. Não fume
      4. Não abuse do álcool
      5. Mantenha o peso adequado
      6. faça atividade física regularmente
      7. mantenha-se cognitivamente ativo por meio da leitura, das amizades e da família

 

E a dica mais valiosa! Diante de sinais de alerta, o melhor a fazer é procurar um especialista.

Sobre o autor:

Tarso Adoni
+ artigos

Tarso Adoni - Médico Neurologista, Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia Fellow da American Academy of Neurology, Coordenador da Residência Médica em Neurologia do Hospital Sírio-Libanês. Ex-Secretário Geral da Academia Brasileira de Neurologia. Membro do Conselho Editorial da TREVOO (desde 2021).

Copy link
Powered by Social Snap